Todos nós temos saudades
dos Urban Tales, e embora a banda esteja já num prolongado hiato, o leu legado
continua presente neste novo coletivo que junta 4 ex-elementos desse mítico
coletivo. Chamam-se The Royal Blasphemy e atuam num estilo bem mais pesado –
aquilo que o Johnny Coroa e Tiago Borges chamam de o seu mundo. Confiram esta conversa com metade desta nova força
nacional que começa a se impor no mercado internacional.
Olá, tudo bem? Para
começarmos, podes apresentar os The Royal Blasphemy?
Johnny Coroa (JC): Os The Royal
Blasphemy são constituídos por 4 elementos. Temos o Tiago Borges na Voz
principal e baixo, o Jota na bateria, o Johnny Coroa na guitarra e segundas
vozes e o John Cyaegha na guitarra.
Tiago Borges (TB): O quinto membro é
e será sempre o nosso público, aquele pessoal que nos segue nos concertos, face, etc. Sem eles não somos nada…
Algum significado para o
nome The Royal Blasphemy?
JC: Sim, o nome The
Royal Blasphemy está inteiramente ligado com a forma como o nosso país (e a
maior parte do mundo) é desgovernado por gente que não tem a mínima noção do
que se passa nas trincheiras da vida e governa tento apenas em conta os seus
interesses pessoais/financeiros.
TB: É uma sátira que
descreve o que a banda faz, que mais não é que uma chamada de atenção para o
mundo sobre o estado doentio das sociedades actuais…
Podem fazer-nos um breve
resumo do vosso historial?
JC: A nossa história
remete-nos para o ano de 2011, em que, após o término da banda onde tocávamos
os quatro na altura (com mais um vocalista), quisemos continuar a tocar juntos.
TB: A nossa ideia era
primariamente continuarmos a tocar juntos, os 4, ninguém dos 4 podia abandonar
o barco ou ser substituído. Com uma sonoridade mais pesada e menos formatada,
ao gosto dos 4 (que não podíamos ser mais diferentes na escolha musical
pessoal). Daí a começarem a surgir os primeiros temas do futuramente chamado Sanatorium:Freedom foi muito rápido.
JC: Isto em abril de
2011. Depois veio uma primeira fase de ensaios, e na condição de estarmos sem
vocalista, depressa surgiu o convite para um teste a um amigo nosso com uma
grande voz, o Mr. V. A voz dele caiu bem nos nossos temas e tornou-se o nosso
“convidado de luxo”, acompanhando a banda durante 2 anos. Até finais de 2012
fizémos carradas de concertos, entre os quais o do Optimus Alive 2012. No final desse mesmo ano, a decisão de
continuarmos daí para a frente só os 4 e sem convidados foi unânime e assim o
fizémos. Continuámos a tocar ao vivo, desta vez com o Tiago na voz principal, o
que tornou a nossa sonoridade um pouco mais pesada e coerente com aquilo que já
fazíamos a nível instrumental. Editámos o EP Prelude for Idiocrazy (ainda com a voz do Mr. V) e em 2014 fizémos
a tour no Reino Unido, desta vez já a
4. Desde meio do ano de 2014 até finais de 2015, continuando sempre a tocar ao
vivo, preparámos o lançamento do album Sanatorium:
Freedom, que nos deu muito trabalho e gozo a meter “cá fora”, e entretanto
já concluímos a composição do segundo álbum. Lançámos o Sanatorium: Freedom e cá estamos a promovê-lo na estrada.
Todos vocês já tinham
experiências anteriores noutros projetos/bandas. O que vos motivou a criarem
esta nova entidade?
JC: Todos nós já
tivémos vários projetos, de vários géneros musicais, alguns bastante distintos
musicalmente uns dos outros. Isso serviu para ganharmos experiencia e para
sabermos bem o que resulta quando estamos a trabalhar em banda. Quis talvez o
destino que nos cruzássemos os 4 numa banda anterior (os Urban Tales). Quando
os Urban Tales foram postos em hiato, sentimos a necessidade de continuar a
tocar juntos pela cumplicidade que já tínhamos e por conhecermos bem o trabalho
que cada um executava em banda, e todos tínhamos a necessidade e vontade de
criar algo novo e sem dúvida mais pesado.
TB: A estrada que cada
um de nós já tinha e em especial juntos, tornou tudo mais fácil e óbvio. Para
nós os 4, mesmo com birras (qual casamento abençoado), já estão implícitas
ideias e métodos que não é sequer necessário discutir. Tocar, compor, andar na
estrada juntos é tão natural como respirar.
De que forma estes The
Royal Blasphemy se aproxima ou afasta do que já tinham feito anteriormente?
JC: Bem, creio que se
aproxima apenas pelo facto de que somos todos ex-membros de uma banda que nos
ensinou e preparou para, hoje em dia, fazermos o que fazemos, e como fazemos.
Aprendemos e crescemos muito nos Urban Tales e isso leva-nos a trabalhar da
forma como trabalhamos hoje em dia, porque já sabemos bem os passos a dar para
conquistar os nossos goals. De resto,
musicalmente… Estamos completamente noutro mundo. Agora sim estamos mais no
Nosso mundo.
TB: O distanciamento do
passado é total e nenhum ao mesmo tempo. Não tem absolutamente nada a ver com o
trabalho feito em Urban Tales, mas tem tudo a ver com o trabalho que fizemos
juntos. Somos mais que uma banda, somos um só.
Já agora, aproveitando a
oportunidade, como estão os Urban Tales?
JC: Os Urban Tales,
tanto quanto sabemos, continuam em hiato.
Ainda não tinham lançado
este álbum de estreia e já tinham feito uma tour
de 7 datas como cabeças de cartaz em Inglaterra. Como se proporcionou essa
experiência e que balanço fazem dela?
JC: Essa foi uma
experiencia que certamente iremos repetir no futuro, já com o “suporte” que é
termos “um album na mão” e já com o facto de já lá termos estado uma vez. Foi
muito bom para uma primeira tour, a
receptividade e feedback que
obtivémos foi extraordinariamente boa por parte do público inglês, criámos
alguns contactos também para futuros trabalhos da banda… E foi também uma
óptima maneira de nos pôr à prova: 2 semanas dentro duma carrinha, sempre a
tocar, muitos quilómetros feitos sempre a ver as mesmas caras e sempre a lidar
com as mesmas pessoas… foi muito enriquecedor para nós tanto pessoalmente como
como banda.
TB: A Corruption Across The UK surge de muito
trabalho da banda e de uma pessoa que por ela faz um trabalho soberbo. Temos a
felicidade de ter uma parceria de luxo com um grande amigo da banda que dá
seguimento ao trabalho que nós fazemos. Alinharam-se os planetas…
Depois surge essa experiência
que o duplo álbum Santorium:Freedom.
Porque este título?
JC: Sanatorium porque vivemos num mundo insano governado por
gente sociopata, e ao mesmo tempo sedento por “bons loucos”, daqueles que são
loucos por serem mais sãos que o cidadão comum e que puxam o mundo para a
frente. Somos um grito de revolta contra o estado do mundo em geral neste
sentido, e é isso que define o primeiro CD do album. Freedom, porque o segundo CD do album é composto pelas mesmas
músicas mas com arranjos novos e em formato acústico, sendo a versão mais calma
e de certa forma mais libertadora de toda esta insanidade.
TB: É também uma forma
de dizer que pelo caminho que as coisas levam, a única saída para tudo isto é
um sanatório, para aqueles que com isto sofrem e para aqueles que na loucura
sem limites decidem o destino de todos nós.
Podem explicar-nos como
decorreu a composição deste trabalho?
JC: O Sanatorium foi composto pelos 4
elementos da banda. Excepto nalgumas músicas, em que algum de nós já vinha com
uma melodia ou um refrão ou verso na cabeça (ou na ponta dos dedos), todo o
processo foi feito com a banda toda presente e a opinar acerca da composição
das malhas. O Freedom é um CD curioso
nesse aspecto, porque “foi ganhando forma” ao longo da sua realização. Ou seja,
eu (Johnny Coroa) comecei por fazer os primeiros arranjos em guitarra acústica.
Depois o Jota e o Tiago deram um feeling
novo à coisa quando começaram a trabalhar nas linhas de bateria. O Tiago depois
usou um baixo semi-acústico fretless
para gravar as linhas de baixo, o que acrescentou um groove e feeling muito
diferente do que tinhamos idealizado… as vozes foram trabalhadas de raíz e
foram feitos novos arranjos, que se adequam melhor ao formato acústico… Depois
vieram todos os adds de strings e discursos e etc, e no fundo, o
Freedom foi enriquecendo à medida que
foi ganhando dimensão e isso deu-lhe quase uma “personalidade própria”, ficando
muito diferente do Sanatorium.
TB: Sempre entendemos o
Freedom como um extra, um bónus CD,
um outro lado da banda e dos temas. Não havia mais do que a ideia de refazer os
temas de forma acústica, daí à conclusão, foi um trajecto estranho e sinuoso,
mas muito recompensador. O Sanatorium
foi um processo mais “à Royal” com a regra do refrão forte, riffada pesada e harmonia e melodia
sempre presentes.
E como surgem essas duas
visões das canções? Qual foi o objetivo?
JC: O nosso objectivo
foi fazer um CD que mostra quem nós somos e o que fazemos, e que nos orgulhamos
de lançar. E depois brincar um pouco com os temas e oferecer aos fãs “um
miminho” acústico que acabou por ser uma parte importante para o trabalho final
ter as duas partes distintas – a de Sanatorium
e a de Freedom.
Uma das vossas apostas
fortes parece ser a internacionalização, certo? Estão a ser bem-sucedidos?
JC: Sim, a
internacionalização sempre esteve nos nossos planos desde o início da banda. Estamos
a ser bem-sucedidos. Desde a tour que
estamos a receber muito bom feedback
lá de fora. Hoje em dia (e visto que ainda não se passou assim tanto tempo
desde a tour) temos algum airplay noutros países, fomos
seleccionados como uma das melhores bandas internacionais do momento pela TBFM
(Reino Unido), chegámos ao top 7 dessa mesma rádio… vamos conquistando cada vez
mais ouvintes de outros países e é esse o caminho que queremos seguir.
TB: Royal sempre foi
entendido como um produto para o mercado internacional, sem desprimor para o
nosso país, os amantes de música pesada por cá são apenas uma amostra, quando
comparamos com países com uma tradição mais enraizada. E de resto e de fora que
temos tido mais feedback, mais airplay, mais atenção ao que fazemos por
cá… porquê? Talvez mais meios de comunicação devessem seguir o exemplo do Via Nocturna…
E para o futuro, que
projetos estão previstos para os The Royal Blasphemy?
JC: Futuramente
queremos promover ao máximo o album Sanatorium:
Freedom. Temos alguns festivais para fazer em 2016, estamos já a começar a
agendar a próxima tour (Europeia)…
Temos muitos concertos para dar nos próximos tempos.
TB: Temos também álbum
novo para gravar, ensaiar e continuar a apresentar em palco, como de resto já
começámos a fazer com um tema, o Holy
Disaster. O futuro, naquilo que depende de Royal, é continuar a trabalhar
(palavra pesada para algo que fazemos com gosto) e continuar a bater a portas
até que elas se abram e permitam fazer chegar a nossa música a mais pessoas…
Mais uma vez obrigado.
Querem acrescentar mais alguma coisa?
JC: Quero apenas fazer
dois apelos:
1.
Revoltem-se, saiam da vossa zona de conforto e enfrentem o facto de que o mundo
está virado do avesso e tem que ser posto no sítio POR NÓS, gente comum. E
façam coisas mesmo que as achem impossíveis. Lembrem-se que, de vez em quando,
um acto de boa loucura consegue mudar um pouco o mundo.
2.
Apoiem as bandas nacionais, apareçam nos nossos concertos ou noutros quaisquer,
e oiçam o nosso trabalho e dêem-nos um feedback
da vossa parte.
TB: Sejam senhores do
vosso destino e ajudem-nos a construir o nosso…
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