Musicalmente
formado na Holanda, Micha Schellhaas desde sempre contactou com a cultura
musical dos EUA, embora só há três anos se tenha mudado definitivamente para
LA. O gosto pelo blues ficou-lhe de
um concerto do saudoso BB King, por isso também uma homenagem ao grande mestre.
Mas deste seu gosto pelo blues surgiu
o seu primeiro longa-duração, Double Take,
construído com uma base de grandes músicos. E foi, precisamente, devido a esse
lançamento que fomos conhecer melhor a pessoa e o músico.
Olá
Micha! Obrigado pela tua disponibilidade! Tendo a tua carreira
começado na Europa, o que te fez mudar para Los Angeles?
Ola! Obrigado pela entrevista! Eu vivia
em Amsterdão e há cerca de 8 anos atrás comecei a viajar para os EUA, e um dia,
simplesmente, não voltei mais! Gostei da música e da cena musical europeia, mas
artisticamente sempre me senti mais atraído pelos sons dos EUA. Passei muito
tempo em Austin/Texas que tem uma cena muito ativa de blues e Indie Rock. Também
visitei a Califórnia várias vezes até que finalmente me mudei para LA. A área é
grande e há muita música aqui. LA tem uma grande cena de músicos e alguns
estúdios de gravação lendários, e muitos negócios acontecem ou são planeados aqui.
Consegui gravar com músicos de topo e agora encontrei dois músicos muito
inspiradores para o meu trio que está a começar a sair. Acho que LA é simplesmente
um dos melhores lugares para se ser músico, e consigo encontrar muita gente com
o mesmo pensamento por aqui.
Como se desenvolveu a tua carreira na Europa?
Estudei guitarra no Conservatório de
Arnhem, na Holanda. Isso foi um grande momento e deu-me a oportunidade de
praticar bastante e construir uma rede que me viria a apoiar quando terminei. Depois
mudei-me e toquei bastante em Amsterdão: com DJ’s, shows de jazz, festivais, também bastante pop e até mesmo música rock, mas nada de blues quando em comparação com os EUA. Também geria um estúdio de
gravação com alguns parceiros e trabalhamos com uma variedade de clientes.
Nessa altura aprendi algumas técnicas de engenharia e produção que acabariam
por me beneficiar. Além disso, sempre guardamos um espaço interessante para os
nossos próprios projetos e produções.
Há quanto tempo vives em Los Angeles? Como foi a
adaptação a essa cidade?
Faz agora 3 anos! A cidade dita-te um
certo estilo de vida que vais ter de aceitar - como ter que lidar com o trânsito!
Mas esta cidade dá-te muitas oportunidades e permite-te conhecer muitas pessoas
com a mesma forma de pensar. Fazer este mais recente disco Double Take e o EP Wings Of
Fire em 2013 foi, definitivamente, uma experiência que me mostrou que vir
para aqui foi a decisão certa. É uma cidade louca, mas ao mesmo tempo há muitos
músicos, engenheiros, fotógrafos talentosos... há muita arte. Tive a sorte de
ter feito alguns excelentes conhecimentos aqui nos primeiros anos.
De qualquer forma, Double Take é o teu primeiro
álbum. O resultado final é o que antevias?
Sim, estou muito feliz com isso! Fui
capaz de elevar as minhas composições e a minha forma de tocar a um nível
elevado e gravei com verdadeiras lendas em estúdio. Carl Verheyen (o produtor)
é um dos melhores guitarristas de Los Angeles que tem feito intermináveis horas
de gravação nos estúdios mais lendários de toda a cidade. Tanta experiência ao
teu lado ajuda muito. Senti que tive o melhor suporte possível e contei com
músicos inspiradores como Chad Wackerman (bateria, Frank Zappa) me fez tocar ao
meu melhor nível. A confiança e as circunstâncias reuniram-se para tornar isso
possível e tenho certeza que nos próximos anos de estrada me irei manter a
explorar este álbum. As músicas são fixes e a banda toca-as de forma bela. Nunca
tive uma imagem clara de como um primeiro disco seria, mas este foi muito doce!
De facto, trabalhaste com grandes músicos. Como se
proporcionou a sua entrada nesta gravação?
Foi o produtor Carl Verheyen quem os trouxe.
Primeiro foi para o EP de 2013, e como correu muito bem mantive os contatos e tentámos
ter todos de volta para as sessões de gravação de Double Take. Jim Cox teve de sair em tournée com Mark Knopfler e Chad Wackerman era suposto ainda estar na
Europa, mas no fim, encontramos datas para as gravações que fizessem isso
acontecer.
Podes falar um pouco sobre o processo de gravação?
Houve muitas jams e improvisações?
Trabalhamos muito certinho. Trouxe pautas,
música para todos lerem. Eu tocaria as peças principais para a banda na sala de
controlo para todos tirarem as suas notas. Tocamos as músicas um par de vezes
antes de começar a gravar. Foi ótimo poder observar que estes eram todos velhos
amigos que tocam juntos. Todos vieram com a ideia de fazer tudo muito rápido.
Todos trouxeram ideias para a mesa e fizemos, de forma espontânea, algumas
grandes mudanças as músicas o que fez com que o álbum soasse realmente a
“banda”. Durante a gravação, toquei as partes de guitarra para os guiar através
da música e, mais tarde, viria a substituir a maioria dessas partes com novas camadas
de guitarra. Toquei com guitarras diferentes para os ritmos e solos e marquei
os sons com muito cuidado, juntamente com Carl. Todos os solos são improvisados,
por isso cada novo take foi uma nova
aventura. Depois, estive alguns dias com Carl a fazer overdubs e a gravar algumas guitarras acústicas, um bandolim, uma
guitarra de 12 cordas… Também temos um verdadeiro Leslie rotating speaker de um órgão Hammond e gravamos as guitarras através dele. Montes de diversão!
O título Double Take é alguma brincadeira ou está,
realmente, relacionado com as sessões de gravação? Gravaram em dois takes?
O termo double take também se aplica quando se vê uma pessoa bonita na rua.
Essa pessoa passa e quase instintivamente tens tendência a virar a cabeça para
veres melhor. Espero que a minha música seja um pouco assim e que inspire o
ouvinte a procurar uma audição mais atenta. Também representa a jovialidade da
vida penso eu, ou o facto de algo bom cruzar o teu caminho e tu teres de parar
por um segundo para o verificares.
Suponho que a última canção seja uma homenagem a BB
King. De que forma ele foi uma influência para ti?
Na verdade, o primeiro espetáculo que
vi ao vivo foi um de BB King na Alemanha! Fiquei na frente e mal podia
acreditar! Estava bom tempo para o ver tocar e ele era um grande performer de blues. Depois do concerto autografou o meu bilhete e deu-me a sua palheta.
Foi nesse dia que entrei no blues! O
bilhete e a palheta ainda estão expostos no meu estúdio. BB faleceu durante as
gravações de Double Take e pensei que
a gravação deste tributo no meu primeiro álbum faria um bom círculo completo.
Já que estamos a falar de canções, qual o
significado de um título como 5 & 6?
Ha, essa é uma boa! O medidor da
melodia é 5 e 6, o que significa que não tens que contar 1-2-3-4, mas começas
no 5 e depois o 6 para entrar no ritmo. Isto é um bocado absurdo mas origina um
título porreiro para uma música.
E quanto a apresentações ao vivo: será fácil gerires
uma agenda dos teus companheiros de gravação, que deve ser muito preenchida, ou
irás apresentar-te com outro line-up?
Para tocar ao vivo acabei de
constituir o meu novo trio. Os músicos de estúdio têm o estatuto de lendas e quando
se trata de tournées, as agendas são
difíceis de conciliar e também não poderia oferecer a grandeza dos espectáculos
a que estão habituados. Mas descobri dois inspiradores e assustadoramente bons
músicos para o meu trio. Tocamos o material do disco e estou a ter uma grande
prazer em tocar com eles. Eles também contam 5 e 6, portanto não há problemas! Agora
a sério, estou muito feliz de os ter comigo a apoiar-me e estou ansioso para tocar
mais ao vivo este ano.
Obrigado por esta entrevista Micha e dou-te a
oportunidade de acrescentar algo mais…
Bem, mais uma vez obrigado por me
entrevistares e pelo interesse na minha música! Espero que as pessoas vão ao
meu site e me
sigam no Instagram e Facebook. O trio será muito divertido e
estou a postar regularmente novas
gravações de vídeo e som. Rock on e
cumprimentos desde a Califórnia!
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