Tiago André, aka Dj
A Boy Named Sue é provavelmente o mais icónico e versátil dj do mundo do rock'n'roll
em Portugal. Os seus sets
caraterizam-se por uma forte vertente rock’n’roll,
nos quais visita sonoridades Rhythm &
Blues, Soul, Surf, 60’s, Latin Grooves,
Exotica, Psych, Garage ou Punk
Rock, uma espécie de máquina do tempo, que cria laços entre os grandes
clássicos e as novas vertentes da música contemporânea, onde playlists ou sets pré-definidos não têm espaço. Em plena tournée nacional fomos conhecer este verdadeiro
mestre-de-cerimónias.
Olá Tiago, tudo bem? Um DJ de rock ‘n’ roll… Como surgiu isto na tua vida? O que
motivou a começar?
Olá, tudo bem. Foi por volta de 2001
em Coimbra. Por um lado, não me identificava com o panorama da oferta musical
na cidade e sentia que havia mais como eu. Por isso decidi tentar criar um
‘espaço’, noites, festas, que fossem uma alternativa ao que havia e onde as
pessoas se pudessem divertir a ouvir outros tipos de música. Por outro, desde
cedo tive vontade de partilhar com os outros as coisas e as músicas que ia
descobrindo.
Há quanto tempo andas nestas andanças?
Há cerca de 15 anos, creio que a
primeira noite que passei música foi no Verão de 2001.
Surge duma música do Johnny Cash da
qual eu gosto muito. É uma música que fala da história dum rapaz, o qual o pai
baptizou com o nome de Sue (nome de mulher), e que depois abandonou. Fala do
difícil que foi para ele crescer e viver com esse nome, e do seu ódio pelo pai.
Mas no final da música pai e filho encontram-se e o pai explica-lhe que lhe deu
esse nome porque sabia que não ia estar ao lado dele para o ajudar, e que foi
esse nome que fez dele um homem forte e capaz de enfrentar as dificuldades e
vicissitudes da vida.
Exatamente qual é o teu papel? Atuas sozinho,
depois dos concertos… como é o teu modus
operandi?
Já passei música nos mais variados
tipos de eventos e nas mais diversas combinações. Posso fazer uma noite
completamente sozinho, posso passar música antes e/ou depois dum concerto (em
modo warm up e/ou after party) ou posso fazer uma noite
com mais um ou dois djs (normalmente
neste caso tratam-se de noites e festas específicas e temáticas). Depende
sempre das particularidades de cada evento.
Pistas de dança, eventos, festivais é o teu mundo.
Mas tens alguma preferência?
Acho que gosto de tudo, num festival,
obviamente consegue-se chegar a mais gente. Num clube tem a parte boa de se
estar cara a cara com as pessoas, há uma proximidade e uma interação maior.
Também gosto muito de passar música ambiente mais calma, mas decididamente não
há sensação melhor que ver uma multidão de pessoas a dançar, a divertir-se e a
delirar ao som das músicas que passo.
Portanto sets predefinidos para ti não existem…
Sim, os meus sets são sempre diferentes. Por um lado é preciso muito trabalho de
casa, todos os fins-de-semana tenho de re-arrumar os discos consoante o sítio
onde vou e é preciso conhecer muito bem os discos que levo. Por outro é preciso
adequar-me às pessoas que estão no local. Nunca tenho nada predefinido. Quase
sempre escolho a música ou construo uma sequência exatamente no momento. É
preciso ‘ler’ as pessoas e as suas reações e perceber que músicas passar e que
direções e dinâmicas tomar ao longo da noite. Tem que haver uma sintonia entre
público e dj.
Estás agora a meio de uma tour nacional. Serão
várias datas, essencialmente no sul. Há alguma razão para o Norte ficar
limitado a duas datas e mais duas no centro do país?
Não, quer dizer, vivendo em Lisboa é
natural que me seja mais fácil passar música nesta zona. Mas neste momento
estou a ir a Braga e ao Porto praticamente uma vez por mês, já tenho ido a
Santo Tirso, Ovar.. . e tenho contactos para ir a mais sítios. Comparado com o
Algarve, Alentejo ou interior até creio que o Norte está muito bem. É algo que
não depende apenas de mim.
E estás a preparar algum set específico para cada
uma dessas noites ou irás atuar ao sabor da inspiração do momento?
Como disse antes, faço sempre uma
pré-escolha com base no que sei dos locais ou eventos onde vou, mas levo sempre
imensos discos. Mas cada noite é uma noite diferente e é sempre no momento que
decido que músicas vou passar e como as vou passar.
Há algum tema (ou temas) que obrigatoriamente
tenham que ser incluídos no teu set? Porquê?
Não, há músicas que passo muitas
vezes, mas não há nenhuma obrigatória, às vezes termino com uma certa música,
mas mesmo essa vai variando.
A lista de bandas para quem já fizeste after partys é imensa e
nem poderíamos estar aqui a falar de todas. Pergunto-te apenas uma ou duas que
te tenham marcado fortemente.
Uma que me marcou bastante foi quando
fiz a after party do concerto dos The
Sonics e do Dick Dale no Plano B, no Porto. Era uma data única no país, por
isso estava gente de todos os cantos de Portugal que eu já conhecia. Ver essas
pessoas todas juntas na mesma sala e fazê-las dançar durante umas 4 horas foi
algo inesquecível. Outra foi no Bafo de Baco em Loulé, depois dum concerto dos
Heavy Trash (banda do Jon Spencer) que acabou comigo a passar música com ele.
Ainda outra, se me permites, foi no extinto Le Son, em Coimbra, depois dos Dead
Kennedys. Estava esgotado com cerca de 600 pessoas, o concerto foi muito bom e
todo o ambiente era arrepiante.
E em termos de festivais, qual ou quais foram mais
marcantes para ti?
Uma das experiências mais marcantes
foi passar música numa festa do Festival de Cinema de Cannes, numa praia.
Outro, completamente oposto foram os 2 últimos anos no Festival Reverence
Valada, onde passei música à tarde e à noite. Todo o ambiente do festival é
incrível.
Como surge a tua ligação aos The Legendary
Tigerman? Qual é a tua função neste projecto?
Eu e o Paulo Furtado conhecemo-nos
antes, ainda durante os Tédio Boys, para os quais trabalhei como técnico de
luz. Tornámo-nos rapidamente grandes amigos e curiosamente o The Legendary
Tigerman (assim como os Wraygunn) nasceram na minha garagem. Comecei como
técnico de luz, mas desde essa altura já fiz um pouco de tudo, técnico de
vídeo, road manager, roadie... Neste momento faço o trabalho
de roadie e de técnico de vídeo.
E tem sido uma longa ligação. Lembras-te de alguma
história, assim mais estranha ou bizarra ou engraçada que te tenha acontecido?
Muitas... mas lembro-me duma, logo no
início, creio que foi num dos primeiros concertos de Natal, na noite de 24 dezembro
(talvez 2000 ou 2001?) no antigo Hard
Club, em Gaia, íamos os dois no carro antigo dele (um Karmann Ghia dos anos
60/70) com o material e rebentou o motor a 3 km da área de serviço da Antuã
(chamas e fumo incluído). Empurrámos o carro até à área de serviço e ficámos à
espera duns amigos que iam ver o concerto para nos darem boleia.
Muito obrigado Tiago! Queres acrescentar mais
alguma coisa que não tenha sido abordada?
Acho que não, espero que as pessoas
venham dançar e divertir-se ao som da música que passo nos mais variados sítios
e que haja cada vez mais oportunidades para se ver e ouvir rock um pouco por todo o lado.
Comentários
Enviar um comentário