Poucos dias
depois da apresentação do seu novo álbum, Via Nocturna conversou com os The
Loafing Heroes a respeito, entre outras coisas, precisamente de The Baron In The Trees. O coletivo, mais
ou menos sediado em Lisboa e resultante da conjugação de ideias de gente de
diversos países, continua a sua trajetória errante e vagabunda originário na
visão de Milan Kundera.
Olá tudo bem? Novo álbum cá fora, mas antes podemos
ir um pouco lá atrás? Como se proporcionou o nascimento deste coletivo com
elementos dos mais diversos países?
A banda surgiu quando o vocalista e
compositor principal, Bartholomew Ryan, estava na Dinamarca – juntou-se com
outros músicos e formaram os Loafing Heroes, banda de inspiração errante,
vagabunda, com variadíssimas formações até chegar à formação que tem hoje.
Depois passou por Berlim e, finalmente, Lisboa, onde toca com uma italiana, um
português, uma alemã, um inglês, uma americana...o projecto nasceu da vontade
de fundir música com poesia e literatura, a inspiração vem de Milan Kundera,
que fala dos “loafing heroes” de outrora, heróis que erram pela vida sem
propósito aparente, assimilando tudo.
Na altura da vossa junção, que motivos e objetivos
vos norteavam?
Talvez uma vontade de desbravar novos territórios. A
música é uma expressão coletiva de afetos, poesia e vontade de contar
histórias. As canções contam muitas histórias, quase todas elas relacionadas
com o tema da perda e da regeneração constante do ser humano. O álbum anterior,
Crossing the Threshold, apontava
neste sentido: uma fronteira atravessada e um novo começo, no limiar de uma
descoberta sobre o amor, os outros, o nosso destino no mundo. As histórias
contadas vêm complementar estes temas abundantes na nossa música.
E quanto a The Baron In
The Trees, de que forma marca a vossa
evolução enquanto pessoas e músicos?
É um álbum sobre a procura de sentido
através de várias personagens e vozes. Sim, há personagens – como o solitário
em Javali que denuncia o fim do amor,
ou a enigmática personagem feminina em Gypsy
Waltz, que tenta seduzir um homem para o enfeitiçar; ou alguém perdido numa
floresta, em Soul, acometido do vazio
existencial e prestando atenção aos animais que encontra; mas todas estas
histórias cabem na Grande História humana, a da procura de sentido. The Baron in the Trees, inspirado por
Italo Calvino, é um lamento e uma exaltação da vida fora do quotidiano, dos
afazeres, da mundanidade; é uma busca pelo lado espiritual da experiência
humana.
Aqui chegados, e sendo um álbum claramente TLH,
perguntava-te se aproxima ou distancia dos álbuns anteriores?
É uma continuidade cheia de ruturas. É um álbum mais
orquestral, com os vários instrumentos (e são muitos) em sintonia e equilíbrio.
As melodias foram sendo construídas ao longo de dois anos, dois anos e meio. O
produtor, Tad Klimp, que veio de Berlim para fazer o disco, teve muita influência
nesta riqueza e subtileza do disco, que nos parece muito bonito mas sem ser
excessivo – tudo está na conta certa. Continua a ser TLH, mas com uma enorme
dose de lirismo e composição à mistura, muito mais complexo do que os outros
álbuns.
Em termos estilísticos suponho que este álbum
resulta da junção das influências de cada um. Como é que depois constroem sobre
essa diversidade?
Vamos construindo nos ensaios e à
distância, porque a banda não está sempre junta, há pessoas que vivem em países
diferentes. Quando nos juntamos já chegamos com muita coisa preparada, baseada
na primeira construção harmónica e melódica. Em Lisboa ensaiamos a três ou
quatro pessoas e depois, quando há concertos e os outros membros se podem
apresentar, ensaiamos todos juntos e vamos encontrando o formato perfeito para
as canções.
Dia 6 foi a apresentação do disco em Lisboa, no
MusicBox. Como correu? Que surpresas guardaram para essa noite?
O concerto foi na sexta-feira. Não tivemos
surpresas, mas sim um alinhamento muito direcionado para este álbum – mostramos
todo o disco com um toque ou dois ao passado, mas mais nada. Foi um momento
simples e bonito para tocarmos ao vivo estas canções nas quais trabalhámos
durante dois anos e meio.
Que outras ideias têm em mente para o futuro no que
concerne à promoção deste novo álbum?
Fazer outros concertos, noutros
lados, com outros públicos, possivelmente noutros países.
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