|UGO| é, a
todos os títulos, um projeto notável. Hugo Pinto foi desenvolvendo esta
entidade ao longo dos últimos anos que culmina com a participação de muita
gente num disco memorável Leap Of Faith.
Uma das provas mais consistentes da vitalidade que o rock português nos forneceu nos últimos anos. De forma clara e
apaixonada, é o próprio mentor Hugo Pinto quem nos apresenta todo o
desenvolvimento deste projeto.
Olá Hugo, tudo bem? Parabéns por este álbum
extraordinário! Não deve ter sido nada fácil de concretizar este projeto. Mas
deves estar absolutamente satisfeito?
Olá Via Nocturna. E obrigado pelo interesse no projeto |UGO| e pelas simpáticas palavras. Fazer este álbum foi uma jornada em si. Um
processo longo, muito trabalhoso mas onde a dedicação dos 17 músicos envolvidos
foi máxima. Portanto chegar até aqui e poder olhar para trás para contemplar
tudo o que foi atingido, é algo que me deixa muito contente e orgulhoso. A isso
junto o facto da aceitação deste álbum estar a ser também muito positiva. Quer
em termos de reviews por sites especializados, quer em termos de
resposta do meu público, penso que há uma geral satisfação com |UGO| e é um
trabalho apreciado por quem o ouve.
Durante quanto tempo trabalhaste neste conjunto de
temas?
Foram necessários alguns anos para terminar este
álbum. Em meados de 2009, comecei a sentir a necessidade de em termos musicais
fazer algo diferente do que tinha feito até então. No início do processo, falei
com o meu amigo André Sousa (que é o produtor do álbum) que logo ficou
interessado e me incentivou a não abandonar a ideia. Começámos então a trocar
ideias em 2010 mas as gravações só começaram a acontecer no final de 2011 e
foram dadas por terminadas a meio de 2015. Entretanto, meteram-se outros projetos
musicais pelo meio que, por um lado, podem ter atrasado o processo criativo de |UGO| mas que, por outro lado, também enriqueceram o que estávamos a construir
com este projeto único. Acredito no entanto que a principal causa que levou a
que este disco demorasse cerca de 4 anos a ser terminado, tenha sido a grande
quantidade de convidados. Por vezes, era difícil fazer coincidir as várias
agendas para que os músicos pudessem dar o seu contributo às músicas. Alguns deles
nem sequer estavam em Portugal e portanto foi algo que exigiu uma grande
flexibilidade por parte de todos os envolvidos.
E como foi o processo de seleção dos músicos que
aqui te acompanham? São 15, não é verdade?
Eu já conhecia bem em termos pessoais e/ou musicais as
pessoas que decidi convidar para fazerem parte deste disco. Tinha uma ideia
concreta daquilo que cada um deles poderia oferecer às músicas pois já tínhamos
colaborado noutras andanças musicais. Desta forma, limitei-me a estudar qual
seria a pessoa indicada para cada música e fui falando com os músicos em
particular. Sabia que não iria ficar desapontado pois todos eles são excelentes
no que fazem. Depois foi só esperar que eles gostassem da ideia e das músicas
mas, felizmente, todos eles ficaram muito satisfeitos com o material que lhes
fui mostrando quando estava a começar a montar o projeto. Só nas vozes o
processo não foi tão simples. Sei que a voz pode salvar ou estragar uma música
e portanto fui muito meticuloso nesta escolha. Já conhecia bem o Miguel Bugalho
com quem tenho outros projetos musicais mas não conhecia os outros três
vocalistas – Débora Contente, João Rodrigues e Roberto Araújo. Coloquei um
anúncio na internet explicando aquilo
que pretendia. Recebi muitos contactos de vocalistas interessados mas nem todos
tinham aquilo que eu procurava para as vozes. Até que encontrei as pessoas
certas. Trocámos muitos e-mails no
início do processo para que eu lhes conseguisse explicar o que era o projeto e
o que pretendia deles enquanto vocalistas. Felizmente… foi um triplo casting fabuloso pois todos eles são cantores
espetaculares e super generosos que deram o máximo de si pelo projeto |UGO|. E
ainda acabámos por ficar amigos depois desta aventura musical. No final, todos
os vocalistas tiveram uma grande responsabilidade para que o disco soasse tão
bem e para que as músicas tenham conseguido atingir a qualidade e a diversidade
que eu desejava desde o início.
O André Sousa também foi uma peça indispensável?
Sim e a todos os níveis. Posso dizer sem rodeios que,
sem ele, |UGO| não existiria. Não só ele foi providencial na parte mais técnica
do projeto (a nível de gravação, mistura e masterização), como também tocou
imensos instrumentos ao longo do disco. Há também vários temas onde me ajudou
na composição da música. Eu não precisava da parceria dele neste projeto para
saber que tínhamos uma forte amizade para toda a vida… mas estou certo que
tê-lo “no barco” comigo, me ajudou a ter ainda mais certezas disso. Além do
mais, ele também fez bastante força para que eu levasse este projeto avante. Sei
que foi ele a primeira pessoa que acreditou neste meu projeto. Talvez até antes
de mim.
Mas, de volta ao início, o que te motivou a criar
esta obra grandiosa?
A coisa que mais gosto na música… é de fazê-la. Desde
muito pequeno que me lembro de ficar fascinado com as pessoas que faziam
música. Não tanto com os que a tocavam ou cantavam mas sim… com os que a compunham.
E desejava criar um projeto que me permitisse ser dono e senhor das minhas
criações musicais. Foi um motivo primeiramente pessoal. Mas claro que a obra
foi evoluindo mais e mais… e deixou de ser apenas minha. Cada um dos outros 16
músicos que aparece no álbum… deu algo de si às músicas fazendo com que |UGO| fosse
bem mais do que o projeto individual duma pessoa. Pode ter sido começado por
mim… mas cresceu para algo muito maior entretanto.
Tendo tido experiência como baterista de diferentes
grupos, como te sentiste nesta viagem?
Bem, a parte da bateria não foi uma coisa muito
complexa onde me tenha dedicado muito em |UGO|, pois pensei mais as músicas
enquanto compositor do que enquanto performer.
Tocar bateria e os outros instrumentos que toco neste disco foram mais um meio
para atingir um fim, que era o de ter as músicas finalizadas. Em termos de
bateria, preocupei-me em seguir padrões simples que beneficiassem a música em detrimento
da técnica. Penso que a experiência que tive noutras bandas me ajudou a
delinear facilmente que tipo de abordagem pretendia para as secções rítmicas da
música.
E depois do sucesso desta experiência chamada Leap
Of Faith, haverá hipóteses de voltar a tocar com algumas dessas bandas onde já
atuaste?
Sim, estão pensadas novidades para os próximos tempos.
Neste momento estou a começar as gravações dum disco com uma banda chamada
“Comitiva Charlie”. Também a banda “Alves Baby”, com um EP lançado em 2012, pode estar num hiato por agora mas não está
extinta e é meu desejo que lancemos material novo durante este ano. Vamos ver o
que o futuro nos traz.
Para além de um longo álbum com 15 temas, já há
vídeos para sete deles. Tem sido uma forte aposta tua neste setor?
|UGO| é uma coisa bem diferente duma banda comum. Não
está tão vocacionado para as apresentações ao vivo, por razões óbvias, uma vez
que ao todo somos 17 músicos que compomos o projeto. Por outro lado, não deixa
de ser verdade que quero que as músicas cheguem às pessoas e que o projeto
acabe por ter vida própria de uma forma especial. E porque gosto de videoclips… tem sido uma aposta natural
e continuará a ser. Talvez até venha a ser o disco com mais videoclips da história! Porque não?
(Risos). Não há qualquer constrangimento criativo neste projeto. Tenho feito
aquilo que quero. Acrescento ainda que não gosto muito de pensar as músicas
enquanto singles e fillers. Para mim… todas as músicas do
meu disco têm potencial para merecerem um videoclip.
Portanto, vamos ver quantos novos videoclips
aparecerão num futuro próximo.
E como surgiu a ideia de fazer vídeos com
personagens do universo lego? Não deve ter sido um trabalho nada fácil...
Gosto muito de animação. Sou um apaixonado por filmes
de animação em geral e em stop motion,
especialmente. E também gosto do universo lego.
Contactei os rapazes do estúdio C656
que é um estúdio chinês com bastante experiência em vídeos em stop motion e perguntei-lhes se poderiam
disponibilizar-me algum footage para
um videoclip. Eles adoraram a ideia e
gostaram muito da minha música. Disseram logo que sim. Sei que para recolherem
as imagens para este vídeo foram necessárias mais de 2500 imagens e cerca de um
mês de trabalho. Algo muito trabalhoso mas que acabou por ficar muito especial
e original.
E quanto aos outros vídeos, como tem sido o processo
de trabalho?
Tal como em termos musicais cada tema é uma história
diferente… também em termos de videoclips…
todos os vídeos são diferentes e têm temas e linguagens diferentes. Já tivemos
vídeos com um cariz social, lyricvideos,
de animação, com desportistas de parkour
a correr com câmaras GoPro na cabeça…
enfim, coisas bem díspares entre si. E tenho mais algumas surpresas na manga
para novos videoclips. Gosto de fazer
coisas diferentes que vão de encontro ao que a música pede.
E ainda há mais para vir?
Sim, aparecerão mais videoclips num futuro próximo. Como bónus vou partilhar em primeira
mão com os leitores do Via Nocturna
que o próximo videoclip será o da
música Noite das Facas Longas. Fiquem
atentos.
Deixando os vídeos e entrando na música, este disco
é de facto bastante eclético. Conseguiste expressar todos os teus sentimentos
de diferentes formas?
Julgo que sim. Desde o início que disse a mim próprio
que |UGO| deveria ser uma folha em branco, uma tela por estrear… para que eu
pudesse fazer o que me apetecesse em termos musicais e artísticos. Não houve
entraves criativos. Como eu próprio tenho gostos ecléticos na música e gosto
até das bandas que são capazes de arriscar e oferecer-nos vários tipos de
sonoridade num só álbum… tentei fazer o mesmo. Mas não foi algo forçado. Não me
impus isso. Apenas segui os caminhos para onde a minha criação me levou. Como
num salto de fé, mesmo quando tive dúvidas, receios ou incertezas… decidi arriscar
sempre.
Como tem sido a promoção a este trabalho?
A promoção tem sido através das redes sociais, com o
lançamento de novos videoclips e com
alguns artigos que quer na televisão, quer na rádio ou nos sites especializados, têm dado algum destaque a este projeto. Por
vezes não parece haver real interesse por parte dos grandes meios mais mainstream (as rádios, as revistas, a
televisão) em apostar em nova música mas isso é algo que tem que ir sendo
combatido pelos músicos independentes – e porque não pelo próprio público? -,
passo a passo. De resto, o disco está disponível em todas as plataformas
digitais (iTunes, Google Play, Spotify, Deezer, Amazon, Tidal, Groove, etc.), nas
lojas especializadas de música de Lisboa e Porto e através da loja online de |UGO| no site oficial. (www.ugooficial.com).
E que projetos tens já em vista para os próximos
tempos?
Estão previstos novos videoclips para |UGO|, para já. Entre o ano de 2016 e 2017 espero
também conseguir lançar mais material quer pela banda Alves Baby, quer pelos
Comitiva Charlie.
Muito obrigado, Hugo! Queres acrescentar mais
alguma coisa?
Eu é que agradeço pela oportunidade e espero que o Via Nocturna continue a fazer um bom
trabalho na promoção da música portuguesa. Um abraço.
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