Três músicos nascidos no “Velho
Mundo”, nutrindo um sentimento único por uma música rock melódica, inovadora e criativa, atravessam os oceanos, encontram-se
em Montreal e nascem os A Devil’s Din. Depois de um EP de estreia, em 2011, um
trio reformulado mas ainda com Dave Lines ao comando, lança Skylight, o motivo principal desta
conversa com os três elementos.
Viva!
Novo álbum cá fora - o que mudou desde o lançamento de One Day All This Will Be
Yours?
David Lines (DL): Bem, certamente muita coisa mudou dentro e fora da banda. Antes
de mais comecei os A Devil’s Din porque estava cansado de estar em bandas que
fizeram grandes coisas mas que se separaram logo depois! Aconteceu-me, e muito!
Como acontece a milhares de músicos a cada ano em todo o mundo. Ser um grande executante
e ter músicas muito fixes contribui para aí, no máximo, 10%, para se ter uma
banda de sucesso. A Devil’s Din é o primeiro e único projeto que comecei por
mim, e será o último, o que significa que vai continuar até morrer! Assim, a
grande mudança na banda foi que no primeiro álbum tinha músicos que conhecia,
amigos de verdade, que se envolveram maioritariamente porque queriam ajudar,
não porque queriam aproveitar a minha viagem. O único sobrevivente dessa
formação original sou eu, o que foi bom, essencialmente, porque ajudaram a por a
máquina em funcionamento para Tom e Dom que agora pertencem a esta banda - é
tanto deles quanto minha.
Dominique Salameh (DS): Adoro todas as músicas do álbum, foi o que me levou a entrar na
banda.
Tom Chollet (TC): Eu também!
DL: Mas agora que encontramos
o nosso som, movemo-nos para algo que tem o groove
de todos nós e os elementos contribuem e têm as suas vozes e gostos incluído no
conjunto. Além disso, tematicamente, o que mudou para mim foi que eu sou um
sacana sombrio que, independentemente das guerras, das disparidades económicas
maciças e das catástrofes ambientais em todos os lugares, sinto-me muito mais
positivo sobre a vida na Terra. E Skylight
é mais ou menos sobre isso.
O engraçado
é que os A Devil’s Din nasceram no Canadá, mas nenhum de vocês é canadiano, certo?
Houve alguma linha cósmica que vos orientou até se encontrarem?
DS: Bom ponto de
vista. A verdadeira questão é, quem realmente é canadiano atualmente?
TC: Talvez os
nativos?
DL: Mas,
provavelmente havia alguém aqui antes deles! Infelizmente, a história é mais ou
menos um banho de sangue, um a seguir ao outro. Desculpa... É triste... A
verdade é que nenhum de nós nasceu, mas fomos transferidos para o "Novo
Mundo", mesmo que a maioria das nossas influências venham da Grã-Bretanha
e da Europa.
TC: Depois fomos
influenciados pelo blues e rock'n'roll americano!
DL: Verdade!
DS: Gostamos de
acreditar na terra de viajantes, uma área muito cosmopolita, onde pessoas de
todos os lugares e partes do mundo se reúnem para coexistir. Especialmente em
Montreal, onde um determinado elemento é adicionado com toda a dualidade
francês/Inglês... Portanto, esse ponto de concentração é a encruzilhada onde se
uniram forças decorrentes de um amor por esta cidade fantástica que é Montreal!
Portanto,
é natural que tragam diferentes influências das vossas origens. Funciona assim
ou não?
TC: De qualquer
forma, enquanto miúdo em França, tudo o que ouvia era rock americano ou Inglês. Não ouvia o que se passava lá.
DL: O mesmo comigo.
O meu pai ouvia os primórdios de Beach Boys e Beatles e rock'n'roll, que foi das primeiras coisas que os meus ouvidos agarraram.
Depois ouvi coisas posteriores a Beatles e material dos anos 60 como Cream, Hendrix
e The Who! Depois comecei a cair no ácido e esqueci isso! Portanto, acho que as
origens são um pouco arbitrárias. Todos nós tivemos pais que tinham bom gosto
em rock e contribuíram muito para nos
tornarmos as aberrações musicais que somos! A minha maior influência que é
absolutamente britânica teria que ser Monty Python!
DS: Acho que as
nossas origens estão enraizadas na nossa cultura e amor pela música e arte. Somos
abençoados por ser músicos e ter a oportunidade de viver e visitar diferentes
partes do mundo antes da chegada aqui a Montreal. Mas sim, de certa forma temos
diferentes origens e culturas ligeiramente diferentes: Dave, da Inglaterra,
cresceu no Canadá e viajou por todos os EUA…
DL: A maioria na
Califórnia!
DS: ... e na
Europa durante as férias, Tom, da França, tem viajado por toda a Europa, eu
cresci na França, depois foi o Líbano de onde sou e, finalmente, Montreal onde passei
a maior parte da minha vida. De certa forma, o click deu-se porque crescemos a ouvir bandas similares e reunimo-nos
pelo amor ao rock progressivo psicadélico
e harmonias vocais entre outros estilos que também aprecio muito. Portanto, gostaria
de acreditar que as nossas "origens" estão mais enraizadas nas nossas
afinidades intelectuais e nossa curiosidade musical artística e não
simplesmente nos nossos valores que acho que estão num comprimento de onda
semelhante (o que acreditamos e pelo qual nos esforçamos).
Como foi
o processo que vos levou a Skylight, cinco
anos após a sua estreia?
DL: Bem, demorou
um pouco mais do que o esperado ter este segundo álbum. E escrever canções nem
sempre é o mesmo que estar inspirado! Tenho muitas ideias mas pode ser uma
trabalheira elaborar os detalhes, e certamente encontrar algo digno de se cantar!
Mas pouco a pouco os ovos eclodiram e as galinhas pequenas cresceram prontas
para serem levadas para o matadouro, o que algumas pessoas chamam de um estúdio
de gravação. Além disso, sou um músico comercial, portanto, muito do meu tempo
é absorvido com isso, e neste período de transição muita coisa aconteceu, mesmo
depois da banda ser o que é agora.
TC: O nosso
estúdio de ensaio ardeu.
DS: Casei-me e
tive um filho. Bem, a minha esposa teve, mas eu ajudei.
DL: A vida é o que
acontece contigo enquanto estás a fazer outros planos. A citação não é minha.
Nem do Lennon.
Não é
muito tempo, cinco anos de ausência? O que fizeram durante esse tempo?
DL:
Não, tocamos, escrevemos, tivemos alguns grandes espetáculos. Na verdade, olhando
para trás, parece uma enormidade de tempo! Mas esta música não é
necessariamente fácil de aperfeiçoar e eu estou sempre a escrever, a experimentar
novas ideias, estruturas. Estou constantemente concentrado em criar o mais
emocionante, excitante e alucinante espetáculo possível. Mas como sou
incrivelmente distraído isso demora um pouco mais a ter as coisas prontas.
DL: Sim, sem
brincadeiras!
TC: (risos)
Este
álbum, como o anterior foi lançado pela vossa própria editora, a Island Dive
Records. Porque decidiram criar o vosso próprio selo?
DL: Somos como uma
empresa de alimentos especializada, fazendo pequenas e estranhas misturas com
ingredientes raros e difíceis de encontrar e algumas pessoas preferem fazer
compras num lugar que é mais familiar e tem marcas mais reconhecíveis. Mas há
os que amam o nosso material e não se cansam. Mas essas pessoas são geralmente
considerados uma subcultura muito específica e até mesmo as editoras independentes
tendem a lidar com subculturas pois sabem que as podem considerar. Simplesmente,
não queremos esperar que a editora certa nos encontre, por isso, decidimos
começar a nossa própria empresa. Estamos a fazer as coisas certas, movendo-nos
na direção certa, e sentimo-nos confiantes de que podemos tornar esta empresa com
uma base viável, com a opção de um buy-out
corporativo. Isto agora era eu a brincar…
É expectável
que esta editora possa, então, no futuro, lançar outras bandas?
DL: Sim, adoramos a
ideia de promover uma comunidade musical de bandas esquisitas que de outro modo
ficariam desconhecidas. Seria como aquele miúdo solitário no colégio, quando descobres
que ele é realmente mais inteligente do que todos os outros, mas está repleto
de ansiedade social! Música e negócios são como óleo e água, porém, é preciso
uma habilidade especial para não queimares o lado comercial do mesmo. Mas se
ele se puder sustentar de alguma forma, estaríamos contentes de fazer parte
dessa cena.
De
regresso a Skylight, como
definiriam este lançamento?
DL: Musicalmente
falando, fizemos um disco que vive no seu próprio universo artístico, livre de
qualquer necessidade ou obrigação de soar como qualquer coisa que esteja a
acontecer, o que é uma sensação muito libertadora para qualquer pessoa
criativa! Pessoalmente, sinto que muita música moderna perdeu o seu caminho no
que diz respeito a um certo sentimento de criatividade, expressão criativa e a
assunção de riscos. Não gosto de olhar para trás, só que na música rock, as coisas aconteceram de forma
diferente no final dos anos 60 e início e meados dos anos 70. As pessoas
gostavam de coisas que, de uma maneira geral, são atualmente consideradas
marginais ou underground. Gosto do
som dos pedais fuzz, bateria de
verdade, baixos Rick, Hammond B3S, pianos Wurly, sintetizadores Moog...
Essas coisas fazem-me feliz! E quando colocado num contexto de música melódica
com algumas ótimas mudanças de acordes e um par de riffs agradáveis, bem, para mim isso é o meu tipo de música rock.
DS: Este disco, sem
qualquer jogo de palavras, tirou-nos de uma imagem e categoria anterior onde necessariamente
não nos revíamos. Mesmo sentindo uma certa linha comum que liga os dois álbuns,
este tem uma abordagem mais orgânica e uma sensação mais quente. Portanto, pode
dizer-se que sentimos que este lançamento respira uma vida nova para a banda
com músicos de mente aberta que simplesmente querem partilhar a sua música e
dar uma experiência ao vivo memorável.
TC: É a música que
todos nós gostamos de ouvir e tocar ao vivo, e isso é apenas o início. Estamos
a encontrar o nosso caminho, e o novo material irá levar-nos a um nível ainda
mais alto!
Em
breve começarão a vossa primeira tournée europeia. Onde irão tocar?
DL: Inicialmente
queríamos fazer uma tournée europeia
completa, mas após analisar os números, decidiu-se apenas por duas semanas de tournée pelo Reino Unido. Faz mais
sentido logisticamente. Somos uma banda que atua como uma indústria caseira e
quase totalmente autofinanciada, por isso é necessário ser muito eficiente.
Assim, os lugares onde vamos tocar, são principalmente salas de média dimensão espalhadas
por toda a Inglaterra e País de Gales, algumas dos quais bastante lendárias,
como o Fiddler's Elbow em Camden, o Crowley's em Swansea e até o Lounge 41 a norte de Workington. Estes são os maiores sítios onde iremos tocar. E é divertido
também, porque, mesmo que tendo nascido e vivido os meus primeiros 5 anos na
Inglaterra, nunca vi a maior parte do Reino Unido. Londres, Brighton, conheço. Liverpool?
Vamos lá!
Expetativas
para essa tournée?
DS: Queremos
voltar à fonte de onde vieram muitos dos artistas que crescemos a ouvir - Floyd,
Sabbath, Led Zep, The Beatles, Yes, Bowie, Smiths, etc. Temos a sensação de que
o tipo de música que tocamos vai ter pessoas particularmente interessadas nesse
lado do Atlântico. Apesar de tudo, Montreal também é conhecida como uma das
principais cidades a proporcionar boa música. Apenas queremos gerar um certo buzz e que as pessoas saibam da nossa
presença. Temos um vídeo promocional fixe, uma grande representação visual e
presença on-line que, espero, irá
desencadear algum curiosidade!
DL: As pessoas no
Reino Unido e na Europa parecem ser menos influenciadas pela máquina dos media americanos e têm melhor gosto.
Pelo menos há uma maior concentração de pessoas com gostos ecléticos. Esperamos
que haja um bom número de pessoas felizes de nos ver ao vivo, tanto os fãs que
fizemos on line, como os novos que
vão descobrir-nos pela primeira vez. Nós existimos num espaço entre o pesado e
leve, para algumas pessoas somos demasiado, para outras não o suficiente, mas
outros não acreditam nos seus ouvidos quando nos ouvem!
Próximos
projetos… o que têm em mente?
DL: Nós já temos
material suficiente para um terceiro álbum, e bem poderia ser um álbum duplo, logo
que todas as novas ideias estejam trabalhadas! Mas também precisamos de obter
mais material de vídeo. Por mim. É muito trabalho, porque adoro cinema e tenho uma
obsessão insana quando se trata de como um vídeo deve ser feito! Não estou
naquela onda de ter um vídeo com a banda a tocar em palco, embora seja o mais
simples e mais direto e as pessoas gostarem de ver o que a banda parece, e
todas as pessoas a se divertirem na frente do palco. Mas agora estamos a trabalhar
com um artista stop-motion e
conhecemos algumas pessoas do indie vídeo.
Jovens com muito talento e energia! Se tivesse mais tempo, ajudaria mais. Estou
a trabalhar em algumas ideias found-footage,
que não necessitam de filmagem mas talvez metade da vida a editar!
TC: Estamos muito animados
com o próximo álbum. Dom e eu temos encontrado mais maneiras de contribuir...
DL: Isso é porque
eu estou a tornar-me uma anormal menos controlador!
TC: ... e a visão
musical que começou em Skylight está
cada vez mais...
DL: Cristalizada?
TC: Exatamente!
DL: Temos uma nova
música, que gosto de chamar o nosso 2112,
mas não se trata de padres ou templos no espaço nem nada disso. É longa tem
muitas partes!
DS: E vamos tocá-la
no Reino Unido!
Bem,
muito obrigado, mais uma vez! Querem acrescentar algo mais?
DL: Queremos
agradecer-te por esta entrevista e aos teus leitores por a lerem! E às pessoas
em todos os lugares que acreditam no espírito do rock e abrem a sua mente e consciência a novas formas. Nós somos
"apenas uma banda", mas realmente acredito que todo mundo tem um
papel no avanço da vida na terra, não importa quão grande ou pequeno tu pensas que
as tuas ações são.
TC: Sim, obrigado!
DS: Obrigado e
espero ver-te em breve!
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