Entrevista: Cornerstone


Marcado pela mudança de 50% da banda, que levou à estreia de uma nova vocalista, Reflections é o mais recente trabalho dos Cornerstone e aquele onde a costela AOR está mais evidente. Foi um muito bem-disposto Michael Wachelhofer, um dos irmãos mentores do grupo austríaco, que fomos encontrar numa conversa cheia de curiosidades.

Olá Michael! Tudo bem contigo? A última vez que conversamos foi a respeito de Somewhere In America. Desde essa altura, os Cornerstone lançaram um outro álbum - Smalltown Boy e agora estão de volta com Reflections. O que sentes neste momento?
Olá Pedro, até agora está tudo bem. Sim, já passou algum tempo desde que conversamos... Deve ter sido em 2012, acho eu, há muito tempo! Depois de lançarmos o EP Smalltown Boy, que gravamos como forma de ajuda para o Room To Breathe - Campanha para Nottingham Post em 2013, houve algumas mudanças dentro da banda. Mas desde o início de 2015 estamos de volta à estrada e gravamos o nosso terceiro - ou terceiro e meio, caso queiras contar o EP Smalltown Boy - álbum Reflections no Canadá, em colaboração com Harry Hess, que é o cantor dos Harem Scarem e produziu coisas como Billy Talent, Muse e Simple Plan. Foi um período de produção de cinco meses, muito exaustivo, mas Reflections é um grande passo em frente para nós - produção, composição, letras, por isso estamos muito orgulhosos do nosso último trabalho.

Como foi a vida no seio dos Cornerstone desde essa vez em que conversamos?
Bem... temos uma nova cantora, Alina Peter, que é uma grande adição à banda. A nossa ex-vocalista esteve na banda durante 6 anos e envolveu-se plenamente com o coração durante cinco anos e meio. Mas, sabes como é, as pessoas mudam.... Tu mudas, eu mudo, ela muda, toda a gente muda. Foi uma história triste, não conseguíamos estar juntos num quarto e, em geral, havia um humor muito negativo na banda, como uma festa fúnebre. Não quero entrar em detalhes, porque este é um problema de banda e gostaria de pedir a todos para respeitar isso. Em vez disso, quero citar Brian May: "Se não tens nada positivo a dizer, é provavelmente, melhor não dizeres nada - alguém te pode interpretar mal". Foi difícil pedir a alguém para deixar a banda após seis anos, mas não posso dizer que lhe desejo o melhor para o futuro, mas isso é história e agora estamos concentrados em coisas futuras com um novo Line-Up - que não é realmente novo, já que estamos juntos há dois anos. Mas definitivamente sentimo-nos como uma banda novamente, o que é muito positivo.

Precisamente, uma das principais diferenças é que apenas restas tu e o teu irmão. A respeito dos novos membros, quando e como chegaram a bordo?
Sim, Steve e eu fundamos a banda e parece que vamos tocar juntos até à nossa festa de funeral (risos). Alina é uma grande cantora e cheia de energia. Enviou uma gravação e pensei em primeiro lugar: Isto não é mau! Steve e eu fizemos testes com alguns cantores interessantes... ensaiamos com uma cantora R’ n’ B, grande voz, mas não funcionou. Tivemos um ator, que foi estrela de uma série da ABC na TV americana, também cantou, é ótimo como pessoa, mas não clicou musicalmente. Fiquei um pouco frustrado e entrei em um bar de karaoke para ouvir cantores, mas todos eles eram muito maus! Então, fui para casa - era 1:00 da manhã - e ouvi a gravação de Alina pela segunda vez, e ouvi as outras canções que lá estavam. Parecia fantástico e no dia seguinte chamei Steve e disse-lhe: "Esta é a cantora". Enviei-lhe um e-mail, tendo começado assim: "Quero cortar uma longa história: queremos-te na banda", e assim aconteceu finalmente. Muito pão e manteiga.

Reflections parece ser um pouco diferente de vossos lançamentos anteriores. A influência AOR é mais notória, não achas? Foi premeditado?
Olhando para trás na história, a banda foi-se desenvolvendo a partir de um Indie/Alternative rock até ao AOR. O nosso primeiro álbum, Head Over Heels foi um álbum alternativo com um pouco de AOR. Em Somewhere In America ​​transformamos essa combinação e com Reflections fizemos um álbum de puro AOR. Não foi uma coisa planeada, acho que foi bastante natural, estamos a ficar mais velhos e já não é interessante tocar quatro acordes com uma atitude f*** you, como fizemos em músicas como Changed ou Leave do nosso primeiro álbum. Agora vestimos essa atitude num álbum bem produzido, com bons arranjos e orientado para os teclados (risos). Sempre tentamos coisas nos nossos álbuns e também em Reflections: por exemplo, Whatever é uma balada com orquestra e piano que poderia ser tocada em qualquer Lovesong-show da BBC Radio 2; o mesmo com Sooner Or Later que tem alguma influência dos anos sessenta. Foi divertido, mas também por causa da produção de Harry, o espetro de todo o álbum tornou-se um pouco mais focado, e quero dizer isso de uma forma absolutamente positiva.

Como foi o processo de escrita para este novo álbum?
Basicamente começamos com a composição em 2013. Naquele ano, escrevi Last Night, Brother, Heart On Fire e uma faixa inédita chamada Closer. Devido às mudanças na banda, avancei o processo para 2015. O meu relacionamento com nossos parceiros terminou de uma maneira injusta e muito dolorosa ao mesmo tempo e passamos, mais ou menos, pelas mesmas experiências. Por isso, foi natural, escrever sobre essas coisas. E é sobre isso que Reflections fala: olhar para trás, expressar os teus sentimentos e experiências. Todo o álbum é uma história: Nothing To Lose é uma introdução bastante sarcástica, e a partir daí toda a história se desenvolve. Há festa, diversão e dança em Last Night, as crises emocionais em Heart On Fire, Whatever e True Confessions, são quase dois lados da mesma moeda, uma vez fora de Alina, uma vez fora da minha vista. Northern Light é sobre deixar o passado para trás, Brother, Sooner Or Later e Believe In Me são temas muito positivos, concentrando-se nas pessoas na vida que estão contigo - sempre e sem quaisquer perguntas. Once é a música perfeita para fechar o álbum: "You once were a friend of mine". Tudo dito! Queria criar algo como Dust In The Wind dos Kansas, uma obra-prima, que tem o significado mais profundo e emocional com menos letras possível. Em Whatever foi a primeira vez, não escrevi com Steve: Alina e eu criamos, tivemos metade de uma canção acabada e chegamos onde chegamos - ajuste perfeito! Eu queria criar algo diferente, algo com uma orquestra clássica e piano grande. Tentamos colocar a canção no Eurovision Songcontest e, embora estivéssemos em 4º lugar no Pre-Vooting para o Wildcard, o organizador ORF escolheu outro artista - é muito político. Musicalmente, não acho que a música tenha muito a ver com o resto do álbum, mas isso também é Cornerstone.

Trabalharam com o produtor Harry Hess. Como foi a experiência? De que forma ele vos ajudou a obter o melhor som possível?
Só posso dizer coisas positivas a respeito de Harry Hess. Foi muito paciente e muito profissional. Disse sempre: "vamos trabalhar tanto tempo" - seja o que for - "até estar satisfeito", por isso esta é uma abordagem muito fixe. Embora tenha que dizer, estávamos melhor preparados para este álbum do que para os outros, algumas ideias não funcionaram como planeado, algumas coisas mudaram durante o processo de gravação, mas as músicas basicamente soam como as demos que fizemos. O que Harry fez foi, pegou nas boas partes dos anos 80 e misturou-as com uma abordagem moderna, por isso as canções soam muito grandes e muito poderosas. Bom trabalho!

O álbum foi gravado no Canadá, certo? Por algum motivo em especial
Tínhamos conversado com Harry para o Somewhere In America, álbum de 2011, mas nessa altura não conseguimos encaixar na agenda dele e vice-versa. Decidimos contra a colaboração com Beau Hill, uma tentativa com Dennis Ward também não funcionou, por isso, fomos com algum cuidado com produtores de nomeada. Mas Harry é absolutamente fantástico, como já disse. Fizemos as misturas e masterização, parte dos teclados e arranjos no Canadá; o resto foi gravado aqui - teria sido caro, enviar toda a banda mais os equipamentos para o Canadá (risos).

Já terminaram a tour britânica? Que balaço fazes, como correu?
Atualmente estamos a meio de uma tournée europeia, a primeira parte aconteceu no Reino Unido. O primeiro show foi na Alemanha, em Soegel. Era uma terça-feira, e esperávamos mais ou menos um ensaio público... bem, o lugar estava quase lotado e as pessoas não queriam que deixássemos o palco e gritavam "Mais! Mais! Mais". Também vendemos muito merchandisingt-shirts – e CD’s. O Reino Unido é sempre porreiro. É claro que, nos dias de semana, as salas não esgotaram, mas os shows de fim de semana foram sempre muito fixes. Desta vez, a imprensa e as rádios no Reino Unido estavam presentes, bom trabalho de promoção, por isso tivemos uma cobertura muito boa. No início de setembro, fizemos um espetáculo na Alemanha, ou pelo menos estava planeado. A nossa carrinha avariou e liguei para o Promotor diretamente da autoestrada, a dizer que não podíamos fazer o espetáculo, o que é, naturalmente, um pesadelo, cancelar um show no próprio dia. Conduzimos de regresso a casa quase a 100 à hora, durante uma distância de mais de 400km... um pesadelo, como já disse (risos). Algumas semanas mais tarde Alina teve que ir ao hospital 30 minutos antes do concerto porque estava muito doente. Não foi muito emocionante para Steve e para mim ter que fazer os vocais em vez dela (risos). Felizmente foi um show comum com Gary Howard (Flying Pickets, Alan Parsons), pelo que ele tocou um set mais longo, mas Steve e eu tivemos que sobreviver quase uma hora em palco, o que não foi propriamente confortável (risos). Em geral, a tour tem corrido bem, tirando esses incidentes engraçados, mas acho que essas são as coisas das quais vamos falar daqui a 10 anos (risos).

O que há previsto, para o futuro?
Bem, antes de mais vamos acabar a tournée e depois preciso de uma pausa de algumas semanas... O ano foi todo um pesadelo com muito trabalho e todos nós precisamos de uma pausa para as nossas vidas privadas, famílias, amigos, etc. A partir de abril, começaremos a fazer mais espetáculos e lentamente iremos começar a escrever novas músicas, mas sem stresses: de momento já temos o suficiente de estúdios, gravações e essas coisas, mas acho que a fome vai aparecer novamente (risos).

Muito obrigado, Michael! Desejas acrescentar mais alguma coisa?
Bem, obrigado pela entrevista, Pedro, e tudo de melhor para os leitores (e ouvintes) da Via Nocturna. No caso de vocês quererem apoiar Cornerstone, o novo álbum Reflections está disponível no Amazon, iTunes, etc - temos de pagar as rendas das nossas Villas em Los Angeles e encher os depósitos das nossas Limousines, e isso é um pouco caro (risos). Agora a sério: para saberem mais sobre a banda, visitem www.cornerstone.co.at e www.facebook.com/cornerstoneaustria. Obrigado e saudações!

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