Os Brando Fel assinam o seu terceiro disco
intitulado Malha Urbana, um disco onde podemos sentir o espírito
urbano e descobrir as malhas que provocaram as canções que compõem este
trabalho. Malha Urbana acaba por ser
o mais rockeiro disco da coleção
deste excelente coletivo nacional, como aliás nos explicou, entre outras
coisas, Vasco Lima.
Olá, Vasco, tudo bem? Antes de mais, parabéns pelo
vosso excelente trabalho! Agora, fala-me um pouco dos Brando Fel… como começou
esta aventura?
Os Brando Fel surgem da dissolução de
uma outra banda (Metro) de que eu e o Gonçalo Martinho fazíamos parte. A
sonoridade que pretendíamos explorar não estava de acordo com aquilo que os
outros elementos dessa banda pretendiam e decidiu-se que o projeto parava por
ali e que nós dois seguiríamos outro caminho. Depois disso, começámos a compor
novas canções com influências mais marcadas por projetos como Divine Comedy,
Tom Waits, dEUS, etc... Este tipo de abordagem levou-nos a querer experimentar
outras componentes do espetáculo. E é a partir daqui que começamos a compor, já
com a banda em formação, um espetáculo de performance
no qual as canções eram ligadas por uma história: chamava-se O Circo Chegou à Cidade.
Precisamente, comecemos por aí. De que forma o
projeto O Circo Chegou à Cidade espalhou as sementes para o que vocês são
hoje em dia?
Esse espetáculo contava a “estória” de
Gambino, um tipo meio louco que integra uma família da máfia e que se desenvolvia
a partir de um ambiente circense. Deste espetáculo faziam parte alguns temas
que acabaram por integrar os nossos dois primeiros discos e foram a base para a
maior parte dos concertos na viragem do projeto.
E como foi todo o vosso trabalho que vos trouxe até
Malha Urbana?
Foi um trabalho natural, de maturação
da nossa sonoridade, que foi ganhando personalidade própria. Também se pode
dizer que foi fruto de uma reflexão que nos levou a querer ter um espetáculo
mais vivido, por nós e pelo público, que se sente mais envolvido pelas canções.
Gostava também de destacar a estabilidade da nossa formação base, composta por
mim, Vasco Lima (voz e guitarra), Gonçalo Martinho (teclados e coros), Nuno
Almeida (bateria), João Carmo Pereira (baixo e coros) e Miguel Caiado (guitarra
e percussões).
Sendo este o vosso terceiro disco, de que forma se
aproxima ou afasta dos anteriores?
Creio que este trabalho é diferente
dos anteriores. Soa mais a banda, a coletivo. Tem mais força, mais atitude e
menos drama.
Ou seja, estão ou não mais próximo de uma linha rock do que nunca?
Sim, estamos. Acho que se nota bem a
influência dos anos 90 neste disco. Crescemos a ouvir e a apreciar bandas como
os Xutos, os Ornatos, o Palma, etc... Isto para não falar dos Nirvana, Pearl
Jam, Pixies, Stones, etc... Acho que, de algum modo, todos eles acabaram por
estar presentes neste nosso regresso às raízes. Outra questão que também faz
diferença, relativamente ao EP Brando Fel
e ao Grand Hotel, é a utilização de
uma segunda guitarra, tocada pelo Miguel Caiado que até aqui tocava percussões.
Para além do núcleo duro da banda, contam com
alguns colaboradores habituais. Quem são e que importância têm para o som
Brando Fel?
Temos tido o enorme prazer de poder
contar com o talento do Jörg Demel (saxofones) que está connosco desde o primeiro
disco e, mais recentemente, o Pedro Azevedo (trompete e fliscorne) juntou-se
também a nós. O facto de podermos contar com os sopros no nosso projeto
ajuda-nos a poder concretizar as orquestrações que temos na cabeça e são, sem
dúvida, um fator de diferenciação numa banda rock. Além deste aspeto, existe também uma liberdade criativa, no
processo de arranjo dos temas, que faz com que eles sejam fundamentais para
termos novas visões acerca das canções que construímos.
Neste disco, porém, contam também com um ensemble
de cordas. Foi a primeira vez que trabalharam desta forma?
Sim, foi. Desde que começámos a mexer
no tema Soco que considerávamos que
ainda faltava ali qualquer coisa que elevasse a música a outro patamar. O
arranjo de cordas foi escrito pelo nosso baixista (João Carmo Pereira) e
interpretado pela Clara Gomes (violino), Bruno Gomes (violino) e Filipa
Gonçalves (violoncelo).
Uma das palavras que surge com frequência nas
vossas letras é “dança”. Este é um aspeto importante para vocês? A alegria e o
descomprometimento que leva a dançar? Mesmo no rock?
Sem dúvida. Esse sempre foi um dos
nossos objetivos para este disco e que queremos replicar ao vivo. Desde que
começámos a trabalhar neste novo disco que queríamos fazer canções que pudessem
ser cantadas pelas pessoas, que falem de questões que mexem com a sua vida e
que, em termos sonoros, as façam “abanar o corpo”. Creio que, neste sentido, o
disco cumpre com as nossas melhores expetativas.
A festa de apresentação decorreu no Olga Cadaval,
uma sala mítica. Como correram as coisas nessa noite?
Foi uma noite incrível. Estivemos
perto de dois anos a trabalhar neste novo álbum e sem ter apresentações ao vivo
(à exceção da nossa participação na final do EDP Live Bands deste ano). Quando entrámos em palco e sentimos o
calor e entusiasmo de uma sala cheia, com muitas pessoas que foram apoiantes do
crowdfunding que nos ajudou a fazer
este disco, ganhámos nova vida! Foi um grande concerto que vai ficar gravado na
nossa memória e de quem assistiu.
Em termos de gravação, como decorreu a experiência?
Onde gravaram?
Foi uma experiência muito
enriquecedora para toda a banda. O disco foi gravado no Estúdio Vale de Lobos,
com o Pedro Vidal a assegurar a parte técnica. Esta foi a primeira vez que
assumimos por completo as nossas ideias no processo de gravação e as levámos a
cabo com a tranquilidade necessária.
No que diz respeito a concertos? Como está a vossa
agenda?
Estamos agora a fazer showcases nas lojas Fnac, a promover o
nosso disco e a chegar desse modo a novas pessoas. Contamos ter novidades de
concertos por todo o país no primeiro trimestre de 2017. E no verão queremos
estar em alguns festivais que são uma ótima forma de chegar a gente nova.
Projetos ainda para cumprir nos próximos tempos? O
que têm em mente?
Estamos a preparar um novo projeto,
que pensamos levar a cabo já em janeiro, que passa pela gravação de um live session algo que nos vai permitir
ter material vídeo para as novas canções, desta feita tocadas ao vivo.
Mais uma vez obrigado! Queres acrescentar mais
alguma coisa?
Queremos acrescentar um enorme agradecimento
pela divulgação que o Via Nocturna está a fazer do nosso trabalho. Esperamos,
em breve, poder marcar presença num concerto perto de vós. Um abraço.
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