Entrevista: Ray Vaughn

Três anos após Way Down Low, Ray Vaughn, membro fundador da banda punk Hostages, regressa com um line up diferente e com um disco onde fica bem patente a sua evolução. Chama-se Wounded Bird e mostra uma componente eletrizada mais acentuada. Foi um bem-disposto e conversador Ray Vaughn quem nos falou desta evolução e das novidades no seu projeto.

Viva Ray, como estás? Como tem sido o teu trabalho desde o lançamento de Way Down Low, há três anos?
Olá novamente e muito obrigado por apoiares o meu novo lançamento Wounded Bird. Significa muito para mim e aprecio muito. Já são três anos desde o lançamento de Way Down Low, difícil de acreditar, wow. Não sou o escritor de canções mais rápido da atualidade - mas ainda assim seria a minha melhor resposta para a tua pergunta. Fiquei surpreendido com os comentários e reações positivas que tive para Way Down Low e acho que o meu primeiro pensamento foi o que diabo vou eu fazer agora? Nos últimos três anos fiz bastantes espectáculos em apoio de Way Down Low. Ed Rawlings juntou-se muitas vezes, tocando aquela bela guitarra da forma que só ele sabe, e eu apenas tentei manter a escrita fluir fresca e nova, levando a música a um lugar onde não tinha sido antes, tocando tudo o que pudesse quando pudesse. Principalmente tentei não entrar em pânico sobre ter que vir com um registo seguinte que não fosse apenas uma outra versão de Way Down Low. Às vezes, quando pensava muito a respeito do processo de composição ficava preso - mas fi-lo. E agora estou ocupado a escrever para o próximo. Forma uns bons 3 anos.

Como foi o processo criativo que te levou até este novo álbum?
Como disse, o processo criativo foi uma coisa estranha. Houve uma altura na minha juventude, que podia fazer letras e músicas e pensar que tudo era brilhante! (Risos)... Não conhecia nada melhor – estávamos do meio para a frente dos anos 70 e o DIY/punk estava a explodir em Londres/NYC/LA/San Francisco. Escrevias uma canção no back stage antes do espetáculo e tocava-la naquela noite - bem... os anos 70 já lá vão. Portanto, a parte mais difícil para mim foi aprender a deixar de lado todas as regras auto-impostas de escrever com as quais eu me cercava para apenas me tentar divertir. Isso praticamente me empurrou a querer uma banda completa novamente, desenvolvendo um som maior e fazendo um pouco mais de barulho.

Wounded Bird é um pouco diferente de Way Down Low, estando mais orientado para o rock elétrico. Foi uma opção consciente?
Definitivamente, uma opção consciente. Eu comecei há anos atrás, em 1968, mais ou menos, como um guitarrista acústico cantautor, sabes como é, um hippy de cabelo comprido de São Francisco – mudou-se para a Inglaterra em 73 tocando no circuito folk durante um ano e então começou a ouvir esse burburinho de Nova Iorque e Londres. Quer dizer, já antes conhecia e gostava de bandas como os MC5, The Stooges, Velvet Underground – os NY Dolls e Suicide provavelmente foram as primeiras bandas a despertar a minha atenção - mas por volta de 1975 foram The Ramones, Dictators, The Addicts... Television, tudo estava a explodir à minha volta. Durante a noite abandonei a guitarra acústica e cortei aquele maldito cabelo (risos!). Eu sempre adorei uma boa música. Seja à cappella ou na frente de uma parede Marshall - mas aquela eletricidade, aquele poder gerado a partir de uma banda conquistou-me. Esta foi a principal razão pela qual eu, desta vez, quis amplificar um pouco mais.

No entanto, a guitarra acústica ainda tem um papel relevante neste álbum, principalmente a partir do meio do disco... parece que procuraste uma linha de evolução neste álbum...
Fico contento que tenhas notado! Sim, as primeiras 3 faixas são de rock. O mundo mudou - a evolução/revolução política encontrou o seu caminho em algumas das faixas deste disco. Um reviewer disse que eu era um punk velho e irritado – para mim tudo bem - alguns dizem que os músicos ou os artistas devem permanecer fora da política - eu não concordo. Tu escreves o que vês, o que sentes. Eu faço o mesmo. Porque não se pode? Ao mesmo tempo, um acorde acústico simples como em On It Happened On Willow Street, também pode expressar muito. É também uma canção sobre a mudança, a independência, olhar para a frente e ver algo positivo é possível. É muito pessoal. A evolução pessoal mantém-te em movimento, empurra-te, permite a mudança. Às vezes temos que gritar – outras vezes um murmúrio é suficiente. Não são mutuamente exclusivos, pelo menos acho que não.

Falando de músicos... trabalhas novamente com Ed Rawlings. Muito importante para a tua sonoridade?
Ed Rawlings é o melhor guitarrista com quem já toquei, ponto! Conhecemo-nos em 78 e tocamos juntos desde essa altura. Mas mais do que isso, ele lê-me como um livro. Provavelmente ele conhece-me melhor que ninguém. O produtor Michael Rosen também é alguém com quem não iria para estúdio sem ele. É fácil perder o caminho quando se grava - achas que sabes o que vais fazer, praticas como louco para aprender as músicas que escreveste, dentro e fora, entras em estúdio e tudo muda. Começas a duvidar de ti próprio, queres acrescentar mais coisas, queres umas gaitas de foles, queres um violoncelo, aceleras, abrandas e assim por diante. Michael diz "esse segundo verso é realmente coxo - podes reescrevê-lo. Agora.” Ou, "muitos versos! Conta a maldita história e sai." Ed também diz "esse arranjo soa como a última música - precisas adicionar isto, ou que achas disto." Portanto, a confiança no estúdio é muito importante para mim. Eu posso ser muito teimoso e gostar de seguir o meu caminho por isso Ed e Michael são extremamente úteis para me manter concentrado e autêntico.

Mas também tens alguns novos membros a trabalhar contigo. Podes apresenta-los?
Tive sorte neste disco. A sério! Para começar, Prairie Prince na bateria foi a máquina que dirigiu esta coisa. Baterista incrivelmente poderoso, mas ao mesmo tempo pode apresentar uma nuace muito doce – uma combinação que arrebentou comigo. Ele ouve, ele escuta as músicas... as letras e nunca tenta brincar. Foi um membro fundador do Tubes e toca com Todd Rundgren e muitas bandas locais. Sem egos - James DePrato, guitarrista e Kevin T White, baixista tocaram Chuck Profit's Mission Express e muitos artistas locais e europeus. Eles têm muito orgulho no seu trabalho – senti-me apoiado a 100% e foi uma grande experiência. Agora se alguém quiser avançar com dinheiro, seria um sonho ter estes gajos a tocar comigo na estrada. Bem, isto se me deixarem ir para a estrada com eles.

Como decorreram as sessões de gravação desta vez?
Rápidas! Gravamos a coisa inteira em duas sessões - 5 dias no total para as pistas básicas. Michael e eu passamos alguns dias com os vocais e, em seguida, fizemos alguns overdubs de guitarra/baixo - limpinho. Em seguida, misturamos e masterizamos a coisa - estar no estúdio com músicos experientes como Prairie, James e Kevin fez o processo parecer incrivelmente suave. Eu trabalharia com estes elementos novamente num piscar de olhos!

Pronto para ir para palco? O que tens agendado?
Nesta altura estamos a ensaiar com banda completa - eu estou sempre pronto para tocar - olhando para o final da Primavera e Verão. Poderei fazer alguns espetáculos acústicos a solo em março.

Obrigado Ray. As últimas palavras são tuas...
Apenas quero agradecer pela oportunidade de fazer chegar a música a um público mais amplo. Tens-me apoiado primeiro em Way Down Low e agora, Wounded Bird e não te posso agradecer o suficiente. O negócio da música é um negócio onde por vezes não é fácil navegar, mas fazemos o que fazemos e o apoio de pessoas como tu mantém-nos em movimento! Obrigado novamente!

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