Apesar
de já em 2014 se falar de um successor de Ultrabomb, só
agora, surge o novo trabalho dos The Quartet Of Woah! Um disco homónimo que
surpreende pelo número diminuto de temas e pela sua longa duração, o que vem
demonstrar a veia criativa do coletivo nacional. A respeito de tudo que,
entretanto, se passou, até se chegar a The Quartet Of Woah! confiram as palavras de Rui Guerra.
Olá pessoal! Ultrabomb, o vosso primeiro trabalho, foi lançado já
há 5 anos. Entretanto, andaram em tournée pelo país e pelo Reino Unido. Que memórias e aprendizagens guardam
dessas experiências?
Já lá vão 5 anos, 4 dos quais foram
passados a tocar por todo o país e, tal como referiste, também fora dele. Posso
dizer que uma parte enorme do que somos agora se deve a esse período em que
conhecemos todo um mundo fantástico de pessoas, bandas, organizações cheias de
vontade de fazerem coisas acontecer no mundo da música e das artes. Um mundo
que nos fez exigir tudo de nós por toda a sua entrega.
Esse mesmo Ultrabomb teve uma receção fantástica tanto pela
imprensa como pelos ouvintes. Ficaram, na altura, surpreendidos?
Estivemos sempre conscientes do
trabalho que tínhamos em mãos e sabíamos que gostávamos daquilo que estávamos a
ouvir e isso é um passo essencial para os outros também gostarem, mas não esperávamos
demasiado, é preciso voar baixinho para não queimares as asas, mantermo-nos
lúcidos é importante, e divertirmo-nos.
Mas não deixa de ser curioso que já em 2014 se
falava na hipótese do lançamento de um segundo disco. O que se passou
entretanto?
De facto, já em 2014 começávamos a
preparar este novo trabalho, mas precisávamos de nos desligar do sentimento do Ultrabomb para entrar nesta nova fase. É
nessa altura que fazemos o backwardsfirstliners
que acaba por ter aquele sentimento de revolta do final do Ultrabomb mas já com outra seriedade e
com um discurso muito mais centrado no que se vive neste nosso mundo. Essa música
serve um pouco como ponte entre a ilha do Ultrabomb
e a do The Quartet ofWoah!, daí a
chamarmos de música órfã, largada entre duas ilhas, sem álbum que a carregue.
Mas no meio disto, e até agora, há concertos para fazer, e com isso há que
voltar ao Ultrabomb, e depois voltar
para o estúdio e fazer o The Quartet
ofWoah!, que é um álbum com menos músicas mas muito mais denso, mais íntimo.
Sentimos que agora era preciso apresentarmo-nos às pessoas e mostrar-lhes o nosso
âmago, a nossa humanidade, e tudo isto leva tempo.
Nesse período, quando começaram a trabalhar neste
segundo e homónimo trabalho?
Nestes períodos iniciais costumamos
passar muitos dias só a conversar e a disfrutar do tempo que estamos juntos sem
que seja em cima de um palco ou num camarim. Todo esse tempo é passado longe do
instrumento e acaba por nos ser essencial antes de nos centrarmos na música.
Penso que começámos a construir a música por volta de 2015 e acabou por ser um
processo relativamente rápido em pré-produção. Levámos mais tempo no estúdio, a
gravá-lo, porque queríamos precisamente que fosse um álbum mais de estúdio até
para enfatizar o trabalho do produtor. Não vamos cantar o nosso âmago sem o
incluir o Fernando Matias.
E começaram a trabalhar a pensar na fasquia que já
tinham atingido ou não? Houve algum tipo de pressão?
Trabalhámos sem pressão para além
daquele que nos impomos.
Uma das diferenças que mais se notam é a redução do
número de temas e o consequente aumento da dimensão dos mesmos. Foi premeditado
ou simplesmente aconteceu?
Foi premeditado, somos quatro, são quatro
temas e temos muito para dizer.
Se há banda onde os rótulos não assentam muito bem
é em vocês. Prog e stoner são alguns deles já
aplicados (até por nós), mas sei que vocês preferem não referenciar isso. Por
isso, que sonoridades mais vos inspiram nos dias de hoje?
Vamos buscar a todo o lado, tanto na música
como fora dela, no outro dia estivemos um ensaio inteiro à volta de uma música
inspirada num jogo eletrónico dos anos 80. Tanto pode vir daí como de free jazz sueco, como de Shostakovich,
como do Sérgio Leone.
Mesmo considerando a sonoridade retro do quarteto, há
coisas atuais que gostem particularmente?
Dos dias de hoje vem menos música e
um pouco mais ruido, mas também há ruido bom.
Para o Ultrabomb houve um livro que serviu de inspiração. Aconteceu
o mesmo ou algo similar agora?
Há sempre uma inspiração ou pelo
menos um conceito.
Já agora como é feito esse trabalho de uma
adaptação de um livro para um disco?
Quando pegámos no livro já havia ali
muita música, há qualquer coisa de mágico na escrita para crianças que te dá
uma visão muito simplista e ao mesmo tempo muito digna perante a verdade do
mundo. Noutro século talvez respondêssemos que tinha sido uma providência
divina que nos tinha feito fazer música. Foi tudo muito natural, o livro falou
connosco.
Bom, e a partir de agora, já estão a tratar de ir
para a estrada novamente?
Brevemente, sim.
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