Com uma incrível
experiência acumulada, Tomara acaba por ser a revelação individual, o novo “eu”
de Filipe Monteiro que assina Favourite
Ghost, um disco de paisagens belas, envolvente e cheias de sensualidade.
Uma experiência inovadora que acaba por retratar na perfeição o seu criador.
Olá Filipe, tudo bem? Explica-nos como nasce este projeto
Tomara? Quando sentiste essa necessidade de avançares em solitário?
O
projeto, ou a ideia para ele, já vem de há muito tempo, talvez desde a extinção
dos Atomic Bees (minha antiga banda nos idos anos 90). Mas acho que só há cerca
de de 5 ou 6 anos é que a ideia se começou a materializar. Dediquei-me durante
muitos anos a outros projetos musicais (tanto como músico ou como realizador) e
de alguma forma isso foi-me preenchendo a necessidade de estar em contacto com
música todos os dias. Mas sempre senti que tinha de fazer algo meu. Acho que o
casamento (com a Márcia) e a paternidade me deram a estrutura para percorrer o
caminho até aqui. Este disco não existiria fora da minha cabeça sem eles.
Porque a escolha do nome Tomara?
É
uma das minhas palavras preferidas na língua portuguesa. Gosto muito do seu
som. E é uma palavra de futuro, esperançosa. E na verdade o batismo do projeto
também se deve à Márcia.
Neste trabalho assumes a quase totalidade dos instrumentos.
Sentes-te mais à vontade assim?
Mais
ou menos. Não foi uma opção declarada, nem é um aspeto do qual eu queira fazer
“bandeira” do projeto, o facto de tocar tudo e fazer tudo sozinho. Aqui
aconteceu assim, por vários motivos. Um misto de control freakness da
minha parte e de pudor. Muitas vezes pensei em convidar amigos (que não faltam
felizmente) para gravar coisas mas fui assaltado pelo pudor de achar que estava
a envolver outras pessoas numa coisa que nem eu sabia onde ia dar. Senti que
ter o Samuel Úria, por exemplo, a tocar num dos temas seria estar a “pôr-me em
bicos de pés”, mesmo sendo eles uns dos melhores amigos que tenho. Uma das
minhas pessoas preferidas.
E depois tens alguns convidados. Queres apresenta-los?
Surgiram
já num estado adiantado da produção do disco. Quando passou um pouco o pudor de
que falava ainda agora. Quando as canções começaram a ficar prontas quis
incluir alguns arranjos de metais e cordas. E convidei um lindo quarteto de
cordas com quem já tinha trabalhado no último disco da Márcia; A Ana Claudia
Serrão, a Joana Cipriano, a Ana Filipa Serrão e a Ana Pereira. E também um trio
de metais com o João Cabrita, o João Marques e o Jorge Teixeira. E, claro,
tenho um dueto com a Márcia numa canção muito especial para mim, que só poderia
ser ela a cantá-la comigo.
Sei que tiveste um trajeto bastante enriquecedor. Queres
revelar-nos como foi esse teu trajeto e processo de crescimento?
Aparte
do Curso de Design de Comunicação na
FBAUL, que acabou por ditar a minha paixão pelo vídeo, sempre procurei estar
ligado à musica. E de facto sempre estive, desde os 6 anos, altura em que
comecei a aprender piano e depois guitarra. Esse amor infinito que tenho à música
ditou que em vez de trabalhar em Publicidade (algo que fiz durante 4 anos como
editor/pós produtor de vídeo) me dedicasse quase exclusivamente a trabalhar em
projetos musicais; quer fossem videoclips,
documentários, etc. Em 2006 comecei a trabalhar com os Da Weasel e com o David
Fonseca no desenho vídeo dos seus concertos. E é algo que ainda faço e que me
dá um gosto tremendo. Entretanto desde aí tenho colaborado com imensos artistas
nessa vertente de conteúdos para live vídeo.
Para mim a música e a imagem caminham lado a lado. Em paralelo continuei sempre
a tocar; durante alguns anos com a Rita Redshoes e a partir de 2011 com a
Márcia com quem continuo a tocar até hoje e para sempre.
Este disco tem uma mistura de temas instrumentais e
vocalizados. De que forma é feito esse enquadramento em termos de composição?
Vêm
todos do mesmo sitio. O disco, na minha cabeça, começou por ser só
instrumental. Talvez porque para mim essas paisagens sonoras trouxessem também
inúmeras imagens por criar. E pensei que seria um projeto assim - som e imagem
- e fazia sentido. Com o passar do tempo foram surgindo frases, melodias
cantadas que me fizeram olhar para algumas dessas coisas como canções (no
sentido mais tradicional) e aí já não havia volta a dar. Porque já não
conseguia “vê-las” sem a presença da voz. E foi esse um dos desafios que mais
tempo consumiu à produção do disco. A procura da minha voz, do meu timbre,
assumir esse nível diferente de exposição. Cheguei a um ponto em que poderia
lançar dois discos de uma vez - um instrumental e outro de canções. Mas achei
que fazia mais sentido ter um disco misto nesse sentido. Porque é isso que de
facto sou enquanto músico e compositor.
Podes falar-nos da experiência da gravação. Como decorreu?
Atribulada
e demorada! Gravei em vários estúdios “caseiros” as primeiras demos. O primeiro inundou-se, o segundo
fomos “expulsos” passados alguns meses de aluguer. Terminei as demos num estúdio de fotografia de um
amigo (Filipe Rebelo) que me deu guarida durante imenso tempo. Gravei todas as
guitarras, pianos e algumas vozes num enorme ciclorama com uma acústica e
reverberação incríveis. Depois fui para o Porto gravar as baterias de forma
mais “séria” no Cabriolet Music Studio da Inês Lamares. Aí também gravei uma ou
duas guitarras. E finalmente fui para o Golden Pony em Lisboa terminar tudo com
o Eduardo Vinhas. Gravámos vozes finais, cordas, metais e fizemos as misturas
das canções.
Que projetos tens em mente vir a realizar nos próximos
tempos?
Trabalhar
no sentido de levar o projeto para palco. E construir um espetáculo que consiga
transpor as canções e o universo do disco da melhor forma possível.
Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Sim.
Que foi um prazer responder a estas perguntas. Um abraço.
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