Entrevista: João Cardoso

João Cardoso é um guitarrista de Sintra que já vai no seu terceiro trabalho de originais. Nowhere Strings, álbum lançado ainda em 2016, sucede a Even If Nobody Hears e a Cardoso e mostra um guitarrista aventureiro e criativo. O próximo passo contempla a formação de uma banda mas, para já, João Cardoso vai trabalhando em solitário e com uma atitude bem crítica em relação à maioria dos guitarristas.

Olá João, tudo bem? Podes falar um pouco do teu trabalho? Quando começaste, o que te motivou a começar…
Olá tudo bem, desde já obrigado pelo tempo e pela disponibilidade. O meu trabalho começou quando era miúdo, aí com 8 anos, influenciado pela música que se fazia na época, anos 80. Ainda nem sabia tocar qualquer instrumento, mas brincava a compor músicas, o nariz fazia de bateria e com a boca cantava. Escrevia letras, desenhava capas de álbuns etc… Mais tarde, com cerca de 11 anos, o meu cunhado ofereceu-me uma guitarra acústica. Quando peguei naquilo achei extremamente difícil tocar, como era possível a mão direita coordenar com a esquerda. Não conhecia ninguém que desse aulas por perto nessa época, nem tinha possibilidades financeiras, fui aprendendo sozinho durante muito tempo, só conseguia tocar com o dedo indicador e medio na mão esquerda, depois com o tempo lá consegui mexer os 4 dedos. Tive aulas mais tarde onde me ensinaram a tocar musica pelo livro do Eurico A. Cebolo, mas fiquei pouco tempo. Não era aquilo que queria aprender. Fui comprando revistas da Guitar World e foi aprendendo a tocar pelas tabs, sempre músicas mais ligadas ao Rock/Metal. Até que tive novamente aulas de teoria, escalas, acordes etc… desta vez para saber o que tinha aprendido em músicas difíceis que encontrava nas revistas.

Os teus trabalhos são totalmente instrumentais. Porque decidiste ir por essa via?
Porque tornei-me preguiçoso para cantar e vi que não é aquilo que gosto. Tenho uma péssima voz, canto sempre fora de tom. E não gosto de me expor a cantar. Gosto mais de reinventar, misturar estilos fazer coisas diferentes e a guitarra serve como voz.

E para além disso, és tu o responsável por todos os aspetos, sejam eles musicais ou não. Preferes ser tu a controlar tudo – sentes-te bem nessa posição?
De uma forma sinto-me bem porque posso fazer aquilo que me apetece no processo criativo. Mas de outra forma sinto-me um pouco solitário e por vezes desmotivado. Porque faz falta tocar com outros músicos.

Assim sendo, suponho que não haja, pelo menos para já, aparições ao vivo?
De momento não, ando à procura de músicos com ideia de formar um projeto diferente do que gravei, ou seja de maneira que todos participem e não seja somente eu.

Enquanto guitarrista, que nomes mais te influenciam ou influenciaram?
Eddie Van Halen, George Lynch, Randy Rhoads, Metallica, Iron Maiden, The Shadows, Neil Young, Andrew Kidman, etc…

Em termos de gravações, já tens três lançamentos. De que forma eles se complementam ou se diferenciam uns dos outros?
Digamos que o primeiro e o segundo foram feitos quase ao mesmo tempo, algumas músicas do segundo sobraram do primeiro lançamento. As músicas que saíram daí são um culminar de vários anos a tocar e guardar riffs aqui e ali. A melodia da guitarra em algumas músicas foi feita na ideia de um dia talvez meter voz. Há lá músicas foram escritas há mais de 20 anos. O terceiro, Nowhere Strings, são ideias mais recentes, com um pouco mais de técnica talvez em algumas músicas, já que se trata mesmo de não pensar em voz e tornar mesmo instrumental. Digamos que gravei em 2015, e só em 2016 é que completei com mais 4 músicas.

Afirmas que para quem ouve e não é guitarrista, os álbuns de guitarra podem ser aborrecidos. O que fazes nas tuas composições para evitar esse aborrecimento?
Porque há guitarristas, que podem ter muita técnica, podem ser muito bons, mas na minha opinião não passa de um GRANDE solo o tempo todo. Acho aquilo irritante como guitarrista. Estou a tentar chegar a todo o tipo de público, de maneira que todos gostem, com melodias. Tornar as músicas mais simples de se ouvir, como se houvesse uma letra de música, refrão, ponte, etc…

Esta é uma pergunta que fazemos, habitualmente, a projetos instrumentais – como surgem os títulos dos temas?
Surgem com acontecimentos no dia a dia, tristezas, alegrias  ou filosofia de vida.

Tens noção de como está a ser a aceitação do teu trabalho?
Sim, tenho recebido bons elogios, de músicos, produtores, amigos próximos…  guitarristas esses mais parece que estão num conflito de egos, e pessoas  que não tocam, hoje em dia têm pouco tempo para ouvir e mostram uma certa indiferença.

Está envolvido atualmente, em mais algum projeto?
De momento não.

Quais são os teus principais objetivos em termos musicais para o futuro?
De momento estou a remisturar e remasterizar, o último registo que gravei, em Cascais no estúdio J.P. Mastering com João Fernandes, um jovem promissor na área da produção. Depois pretendo formar uma banda, gravar, compor mais temas, tocar ao vivo

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Obrigado eu, mais uma vez. Quero dizer mais uma coisa que há uns tempos li já não sei onde: Música instrumental é a música cujo canto consiste meramente de sons inarticulados e que não precisa de palavras…

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