Entrevista: Nádia Schilling

Um disco que procurou encontrar o lado bonito de algumas coisas tristes – é desta forma simples que Nádia Schilling descreve o seu primeiro trabalho Above The Trees. Um disco extremamente pessoal que nasceu após o falecimento da sua mãe, que se insere em diversos géneros musicais e que reúne um diversificado e talentoso naipe de músicos. A arquiteta paisagista fala desta sua primeira experiência a solo.

Olá Nádia, como estás? Above The Trees é o teu primeiro disco. Como sentes este lançamento? Foi um percurso fácil até chegares a este lançamento?
Foi difícil e foi fácil ao mesmo tempo. Foi difícil no sentido em que o que motivou este disco foi o facto de ter perdido a minha mãe e porque tudo foi feito ao longo de muito tempo e em muitas fases. Foi fácil porque tudo aconteceu muito naturalmente, o ambiente com toda a gente envolvida foi sempre muito bom e aprendi imenso. Por isso quando o disco me chegou às mãos como objeto acabado, senti-me bastante realizada.

Precisamente, existe esse dado importante que este álbum foi composto no período que se seguiu ao falecimento da tua mãe. É portanto, um disco muito pessoal, de homenagem e tributo?
Sim, tornou-se numa forma de homenagem. Após o falecimento da minha mãe seguiu-se um período conturbado em que havia centenas de coisas urgentes para tratar, por isso não tive propriamente tempo para um luto. Mas a pouco e pouco as coisas foram ficando resolvidas e muitos meses mais tarde, quando peguei ao acaso numa guitarra, surgiram uma série de ideias. Após o choque inicial de um acontecimento trágico é inevitável colocar as coisas em perspetiva e por isso as músicas que que fiz são bastante pessoais e acabaram por funcionar também como uma espécie de catarse. Decidi que o trabalho seria uma homenagem, um tributo, por ter esta história. Foi ainda este pormenor que fez com que as dúvidas que eventualmente emergiram num momento ou outro, sobre o sentido de fazer tudo isto, fossem muito breves e se levasse tudo até ao fim.

Sei que trabalhaste durante dois anos neste conjunto de canções. Houve muita preocupação da tua parte para que todos os pormenores fossem criteriosamente trabalhados?
Sim, inclusivamente passei por vários momentos obsessivos (que acho que  são naturais no processo criativo) para chegar a algo de que gostasse. Depois de gravadas as bases na primeira sessão de estúdio (bateria, baixo, guitarra ritmo e piano), seguiu-se um momento longo de experimentação e fui convidando pessoas que me pareciam fazer sentido para esta ou aquela música. Preparei também uma espécie de pré-mistura do disco antes de a entregar ao Nelson Carvalho, que foi quem fez a mistura e que fez um trabalho incrível.

Que nomes ou movimentos mais te influenciam enquanto compositora?
As minhas influências vêm sobretudo do rock, do folk e do jazz. Sempre ouvi muitas coisas diferentes, mas considero que alguns músicos e projetos terão mais influência, como: Beatles, Nick Cave, Nick Drake, Beck, Magnetic Fields, Fiona Apple, Jeff Buckley, Jon Brion, Portishead, Blossom Dearie, Nat King Cole, Tom Jobim, Elis Regina, Chet Baker, Aimee Mann e Cat Power.

Assim, de que forma descreverias Above The Trees para quem não conhece a tua música?
Um disco que procurou encontrar o lado bonito de algumas coisas tristes.

Que músicos trabalharam contigo na construção deste disco?
Todos os músicos que participaram neste disco foram importantes e trouxeram a sua experiência e bom gosto para o conjunto de músicas que fazem parte do disco, mas houve um maior envolvimento por parte do Filipe Melo (que é pianista e que me incentivou e apoiou desde o início), do João Hasselberg (baixista e um grande compositor, com dois discos lindíssimos) e do Bruno Pedroso (baterista e assobiador virtuoso, quase um rouxinol).

Para além dessa base permanente de músicos trabalhaste com outros convidados. Queres apresenta-los e falar do seu envolvimento neste projeto?
O disco teve alguns convidados dos quais me fui lembrando ao ouvir as músicas e a perceber o tipo de coisas que “pediam”. Um dos convidados foi o Mário Delgado que é um músico que já admirava muito, ainda antes de pensar sequer em gravar um disco em nome próprio. O João Firmino também foi muito importante para este projeto. É um guitarrista talentoso, que conheci através do João Hasselberg, e não imagino estas músicas sem ele. A Marina Vello (Marina Gasolina, Bonde de Rolê, Madrid, Las Courtney Lovers), é uma cantora brasileira que conheci há uns anos quando veio tocar a Lisboa. No meu disco tenho uma música chamada Misfire, que a certa altura quis cantá-la com outra voz feminina e a da Marina era perfeita. Gosto mesmo muito de a ouvir cantar.

Podemos falar dos vídeos que já registaste retirados de Above The Trees?
Os vídeos (assim como todo o trabalho gráfico do disco), são da autoria do João Pombeiro. O vídeo que fez para o primeiro single, uma música chamada Kite, é um trabalho lindíssimo que tem andado pelo mundo e que foi exibido em vários festivais de cinema. O vídeo de Somewhere Above The Trees, é representativo do disco todo, por isso serviu como uma espécie de teaser.

Em termos de promoção, como estão a correr as coisas?
Acho que estão a correr bem, sobretudo atendendo a que é um projeto totalmente independente, o que implica que a música tenha de valer por si mesma. Por isso estou também muito grata a todos os que se têm interessado pelo projeto e que o têm partilhado.

E quanto a palco? Tens tido oportunidade de apresentar este disco ao vivo?
Ainda não tive oportunidade, mas tenho muita vontade de o fazer e de perceber como é  que o disco poderá funcionar e ser recebido ao vivo.

Projetos para o futuro? O que tens em mente realizar a breve prazo?
Para já, continuar a promover o disco e tocar o mais possível.

Onde se enquadra a arquitetura paisagística neste teu caminho musical?
Vivem a par. Estudei arquitetura paisagista e é a minha outra  profissão. Tem sido um desafio enorme conciliar as duas coisas, embora a música tenha prioridade neste momento.

Obrigado, Nádia. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Eu é que agradeço. Deixo o link do bandcamp onde o disco pode ser ouvido e adquirido, quer em formato físico, quer em digital. Apesar de hoje em dia muita gente dizer que não vale a pena apostar nos formatos físicos, foi algo que quis fazer. Por isso existe um digipack e um booklet que incluem uma série de colagens e ilustrações muito bonitas feitas pelo João Pombeiro.

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