Não tem sido fácil a
carreira dos Kayak, mas isso não impede a banda de atingir diversos sucessos.
Principalmente depois do álbum Cleopatra – The Crown Of Isis os problemas avolumaram-se com o quase total desmembramento da banda. Ton Scherpenzeel abalou, mas não caiu. Reergueu-se,
criou um conjunto de fantásticas músicas para uma banda que ainda não existia e
depois… procurou os músicos adequados. O resultado é Seventeen, naturalmente décimo sétimo álbum dos holandeses. A mente
brilhante por trás dos Kayak, precisamente Ton Scherpenzeel, conta-nos tudo.
Antes de mais, deixa-me dizer que é uma honra poder realizar esta entrevista
com uma verdadeira lenda viva de prog rock.
Três anos se passaram, e o regresso dos Kayak não poderia ser melhor. O que
motivou este regresso?
Obrigado, estou
bem. Pouco antes do lançamento do nosso álbum anterior, Cleopatra - The Crown of Isis, os nossos dois vocalistas principais
anunciaram a sua saída. Não vou entrar em detalhes sobre tudo o que aconteceu,
mas basicamente surgiu uma banda dentro da banda e senti que não conseguiria
trabalhar nessa situação. Isso secou a minha energia e criatividade, mas,
inicialmente não tomei nenhuma decisão sobre o futuro dos Kayak. Para veres
como me sentia, limitei-me a esperar e a fazer outras coisas. Passado um ano
perguntei a mim mesmo: é assim que isso deve acabar? Não, não é bom parar
assim. Mas a continuação da banda só pode acontecer com uma nova formação. Essa
decisão desencadeou a minha criatividade e então comecei a escrever para uma
banda que ainda não existia, apenas em nome. Em primeiro lugar, tive de
encontrar um cantor. Esse é o fator mais importante numa banda já que penso que
a voz determina uma grande parte da identidade do som e tem de refletir a
sensação das músicas. E Kayak é muito difícil de cantar. Quando encontrei Bart
Schwertmann, e depois de estar convencido de que ele era o homem certo para o
trabalho, começamos a gravar as novas músicas. Só depois comecei a procurar outros
músicos e conheci o guitarrista Marcel Singor. E depois Kris. Lentamente, mas
com certeza, a banda foi formada.
Ainda assim, este 17º
trabalho, devidamente intitulado Seventeen, deve
ser um dos melhores registos da tua carreira e dos Kayak. Sentes isso?
Estou muito
orgulhoso deste álbum, mas faz-me essa pergunta novamente daqui a um ano e
posso dizer-te onde está, musicalmente. Ainda está muito perto para conseguir
avaliar, mas as reações, no geral, têm sido muito, muito positivas - também
graças à InsideOut Music alcançamos um público maior do que antes. Mas sim,
estou feliz com o resultado, especialmente porque sabia de onde vinha e não podia
ter grandes expetativas depois do que aconteceu com o último.
Como se percebeu, o line-up mudou quase drasticamente. Atualmente, quem está nos Kayak?
Eu estou. Ao
longo dos anos, tivemos mais de 20 membros, e embora sempre espere que todos
permaneçam e sejam felizes para sempre, simplesmente não há uma formação definitiva.
Sou realista e não posso dizer quem estará na banda de forma permanente. A vida
é mudança e os Kayak também. As pessoas saem, as pessoas morrem, as pessoas têm
outros interesses, seja lá o que for. Uma coisa é certa: se eu sair, os Kayak param.
Quanto aos convidados,
quem são? Podes apresentá-los?
Queres dizer
músicos? Além da banda, temos Andrew Latimer (Camel) que toca a guitarra solo
em Ripples On The Water. Foi um tema
que escrevi com ele em mente e estou muito honrado que ele a tenha tocado. Ele
é um guitarrista fantástico, muito emocional e basta ouvir uma nota e para se
reconhecer que é ele. Na bateria, está Lean Robbemont. Na altura de gravar a
bateria, Collin Leijenaar, que já estava na banda, não estava disponível. Então
pedi-lhe e ele fez um trabalho perfeito - todas as faixas feitas em apenas um
dia. Existem mais dois músicos extra: Rens van der Zalm, com quem trabalho
regularmente fora dos Kayak, toca violino, guitarras e muito mais. O seu
coração está no folk e eu também
gosto de folk como se nota em algumas
canções como Love, Sail Away. Sempre
que escrevo uma música que tenha uma tendência folk, vou ter com ele. Izak Boom toca o banjo e o ukulele em God On Our Side. Também é um multi-instrumentista de nomeada e o seu
banjo e ukelele criam o cenário irónico
necessário numa música que é quase sarcástica. Certamente não é prog rock. Mas eu não me importo com
esse tipo de rótulos. Para mim, é música.
Quanto às músicas, são
todas recentes ou recuperaste alguma do vosso glorioso passado?
Cerca de 90% é
novo, o que significa que foi escrito em ou após 2015. Uma música não entrou no
álbum anterior, Cleopatra, mas como
gostava muito dela, reescrevi as letras. Transformou-se em Feathers And Tar.
O que é certo é que esse
passado glorioso também está cheio de contratempos e problemas. E é notável a
maneira como continuas e como os consegues ultrapassar! De onde vem essa força?
Nem sei! Às vezes
acho que é uma força mais forte do que eu. Todos os anos, desde 1976, considerei
seriamente parar, mas surge sempre uma inspiração e energia que me mantêm em
pé, querendo criar mais. Enquanto o que eu escrever definir os Kayak, essa
força será Kayak. É o meu caminho principal, fazer algo novo, algo que não
estava lá antes. Este desafio também é o que define os Kayak.
E para Seventeen, como lidaste com o problema do vocalista, já que, como referiste,
para os Kayak, ser um grande vocalista pode não ser suficiente?
Foi sempre difícil
encontrar bons cantores. E tivemos alguns. Às vezes, tivemos sorte, outras vezes
foi um pouco mais difícil. Cantar as canções dos Kayak é mais difícil do que
parece. As melodias nem sempre são fáceis, há muitas letras e tem de parecer
como se tivesse sido o cantor a escrever, tem de acreditar. É um trabalho
difícil, por isso, somente uma boa voz não é suficiente. Além disso, durante
cerca de oito anos, tivemos dois vocalistas principais que compartilhavam a responsabilidade
e dividiam as tarefas. Agora é apenas e principalmente Bart. É uma grande pressão
sobre ele. Há sempre a comparação e muitos fãs são conservadores, querem manter
as coisas como estão. Bem, isso não se aplica aos Kayak. E embora,
ocasionalmente, Marcel e eu façamos alguns vocais, esse campo resume-se
principalmente a Bart. O que é ótimo é que Bart também toca guitarra e baixo,
portanto é um ótimo complemento para a banda ao vivo.
Este atual line-up pode ser considerado estável para permitir futuros lançamentos com a
mesma qualidade deste?
Esta nova
formação é composta por grandes músicos e pessoas agradáveis, que são as duas
coisas mais importantes, quando se quer fazer um bom álbum e passar um bom
tempo. Não quero mudar nada se não for necessário. Mas não é apenas a formação,
claro, também é importante eu manter a minha escrita a um nível alto. Se eu
escrevesse músicas de merda, uma ótima formação não faria isso soar melhor.
Em termos musicais, e
considerando a tua longa carreira, onde se enquadra Seventeen? Ou é algo novo no teu percurso?
Ainda é muito
cedo para poder analisar isso. Parece que é um novo começo, mas, pelo menos,
espero que seja o início de uma nova fase na nossa carreira. Mas a música,
claro, contém muitos elementos relacionados com os trabalhos anteriores. Acho
que se poderiam colocar muitas músicas deste álbum em qualquer álbum do
passado, e vice-versa. Não é assim tão diferente. É principalmente o contexto
das músicas e quem toca ou canta. Muitas pessoas sentem que voltamos um pouco aos
anos 70, mas com novas energias como se fosse uma nova banda. Eu não vejo dessa
forma. Limito-me a escrever o que espero seja bom e depois entrego à banda. No
final, o saldo do álbum deve ser bom. Não muito disto ou daquilo. A variação
entre as músicas é vital e mantém a atenção. Enquanto banda, não posso escapar ao
meu passado e também não quero isso. Existem algumas músicas que sempre
tocaremos, como Ruthless Queen e Starlight Dancer porque são uma parte
importante do nosso trabalho e as pessoas conhecem essas músicas. Mas também é
essencial fazer coisas novas. Eu não quero que os Kayak se tornem uma banda que
só toca o seu conhecido trabalho antigo. Isso é chato para mim.
Para concluir, existem
planos para uma tournée?
Sim, neste
outono, faremos uma tournée maior na
Holanda e também espero visitar outros países europeus. Isso foi sempre difícil
para nós. Escapar do pequeno país que é a Holanda e ir apenas ocasionalmente ir
ao estrangeiro. Mas já toquei em toda a Europa com os Camel e também em
Portugal e gostei sempre.
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