Agora
é Nick Suave, mas já foi muitas outras coisas. Todavia, o seu nome é Carlos
Ramos, personagem incontornável do cenário rockeiro nacional. 2018 marca a estreia de um novo heterónimo, de um novo
projeto e das letras em português. Muitos motivos, portanto, para irmos falar
com esta lenda viva do rock nacional.
Olá,
Carlos, tudo bem? Tu és uma personalidade icónica do rock nacional e agora
apresentas um novo projeto – Suave. Quando surgiu a ideia de iniciar este novo
projeto e o que despoletou isso?
Olá!
Este projeto começa a ganhar forma em 2011 quando, a desafio do Fred Ferreira, começo
a compor estas canções. Na altura o Fred havia começado a tocar com a Nicotine’s
Orchestra e, ao saber da minha paixão pela soul, mandou essa ideia para o ar:
porque não fazermos um disco assim mais chegado a essa linguagem? E pronto, comecei
a compor e surgiram uns 12 ou 13 temas de rajada. Acabámos por andar a fazer
outras coisas até 2017, altura em que decidi que tinha que gravar isto.
Já
foste Nick Nicotine e agora és Nick Suave. De que forma é que estes pseudónimos
se relacionam com as tuas experiências musicais?
Muitas
das vezes utilizo-os quase como heterónimos. Há uma personalidade,
stage-persona, mais ou menos definida para cada um deles, seja o Nick Santero,
Nick Nicotine, o MC Cuta (nos Bro-X) ou, agora, o Nick Suave. Pelo menos eu
achava que podia compartimentar as coisas e esconder-me um pouco atrás desses
disfarces. No entanto, agora, começo a olhar bem para isto tudo e a achar que
este Nick Suave está bem próximo daquilo que sou no dia-a-dia, ou seja, uma
mistura saudável (acho) de um pouco de todas as outras personagens. Acho que já
me perdi no meio desta brincadeira e agora sou isto tudo.
Ao
longo da tua carreira já estiveste em inúmeras bandas e já participaste em mais
de meia centena de álbuns. Que experiências foram mais marcantes para ti?
Feliz
ou infelizmente não sou gajo de ficar a contemplar muito o que passou. Acho que
a experiência mais importante para mim foi ter crescido a admirar a Elsa da Bee
Keeper, o Futre da Milkshake Records e todas as estruturas DIY, cá em Portugal
e no estrangeiro, que nos anos 90 me ensinaram que não precisava de mais do que
talento e vontade para gravar e editar discos. Só assim consegui “passar” pelos
discos sem me reter muito neles e avançar de seguida para outra gravação.
Repara que não estou a dizer que isto seja fixe a priori mas foi assim que fui
fazendo as coisas e, quando dás por ti, já tens bastante obra. Indo ao encontro
da resposta que provavelmente procuras, adoro gravar com os Act-Ups, são os
meus melhores amigos e são sempre sessões de gravação e discos que me deixam
muito feliz.
Desta
feita, optaste por uma abordagem totalmente em português. Foi a tua primeira
abordagem com a nossa língua? O que te fez arriscar?
Se
não contarmos com os Bro-X, e acho que bem que não contemos porque aquilo também
não é bem português, sim. Já tinha escrito umas linhas em português para o Marcelo
Camelo cantar num disco da Nicotine’s Orchestra (Gipsycalia) e escrevi, também,
um outro tema em português no último disco da Orchestra (I Speak Rock and Roll).
Aliás, o título desse disco remete para essa temática e reflete o que eu acho sobre
esta questão da língua na minha música: eu falo, sempre, rock and roll. Até quando
faço hip-hop. Essa é a minha língua-mãe, por assim dizer. Mas voltando à questão:
foi o Fred, mais uma vez, o provocador desta situação. Depois de lhe mostrar os
temas que tinha composto, em 2011, foi ele que me lançou a dúvida: “mas porque
é que os fizeste em inglês? Porque não em português?” e eu não tinha uma
resposta válida, na ponta da língua, para lhe dar. Talvez no início da minha
carreira fosse mais fácil responder a essa questão - não tinha grandes
referências portuguesas no tipo de rock and roll que gostava de ouvir e, para
começar a cantar, precisei de me inspirar nos meus heróis da altura, todos
americanos ou ingleses. Em 2011 essa situação estava resolvida, já tinha
encontrado a minha voz, a minha maneira de cantar e resolvi, mais uma vez,
aceitar o desafio do Fred e começar a escrever e cantar em português.
Qual
a sensação de escrever em português? É mais fácil ou difícil que em inglês?
Não
faço um grande filme em torno disso. Se calhar ainda me vão acusar de maltratar
a nossa língua e esta nação de poetas. Sou um gajo do Barreiro e acho que
escrevo e canto como um gajo do Barreiro. Não acho mais difícil escrever na
minha língua materna do que em inglês, acho apenas que é mais fácil viajar
pelos lugares-comuns e pelas lentes dos meus heróis do rock and roll em inglês.
Em português tudo me soa mais autêntico, é um discurso bastante direto e que,
naquilo que possui caraterísticas biográficas, me deixa muito mais exposto.
E
será uma aposta para continuar?
Claro
que sim. Pelo menos nos próximos tempos quero dedicar-me quase exclusivamente a
Suave. Já tenho um segundo disco pronto, portanto, tenho que o gravar e editar.
Espero que daqui por um ano tenhamos nova desculpa para falar mais um pouco.
Em
termos estilísticos, como foi feita a abordagem a este Português Suave? De uma
forma global pode ser considerado um trabalho que segue o teu estilo habitual
ou é algo mais inovador na tua forma de criar?
Este
podia ser um disco da Nicotine’s Orchestra em português, quase. Ou seja, individualmente
não há nenhum destes temas que não pudesse ter entrado num disco da Orchestra.
No entanto, no conjunto acho que dá origem a algo novo na minha carreira, daí a
necessidade de separar este disco do resto e dar um novo nome a este projeto. A
minha maneira de trabalhar, muitas vezes, é muito solitária: escrevo e gravo os
temas em demos, tocando a totalidade dos instrumentos. Depois mostro isso ao
pessoal e vamos para estúdio gravar. Aconteceu assim aqui tal como já aconteceu
assim com algumas das bandas em que toco.
Que
músicos escolheste para te acompanhar neste novo projeto?
O
Fred Ferreira está comigo nisto desde o início, na bateria. No baixo toca o Cláudio
Fernandes e na guitarra o Ernesto Vitali, ambos membros dos Pista. Estes três
amigos fazem também parte da formação da Nicotine’s Orchestra. Acima de tudo
gosto de trabalhar com amigos, dão sentido a tudo isto.
Durante
quanto tempo trabalhaste em Português Suave?
Não
muito, apesar de ter demorado imenso a lançar o disco. Em 2011 compus as canções
ao longo de dois ou três meses. Depois ficaram na gaveta até ao ano passado, altura
em que gravámos o disco em 4 dias nos estúdios iá, com o Ricardo Riquier. Os últimos
tempos, sim, têm sido de mais trabalho a ensaiar o concerto e a planear vídeos,
fotos e outras coisas engraçadas que possamos fazer.
Como
surge o título Português Suave? Alguma conexão com a mítica marca de tabaco ou
nem por isso?
Pois
claro. Na altura, em 2010, deixei de fumar e decidi, por piada, mudar de nome
no facebook e na carreira, de Nick Nicotine para Nick Suave. A banda,
inicialmente, era para se chamar Corações Diamante, mas depois passou a Suave.
Sendo o disco cantado em português meloso, com muita escrita em torno do amor,
calhou que nem ginjas chamar-lhe Português Suave. Bate tudo certo, até a
ligação ao meu passado tabagístico.
A
tua carreira na música vai muito para lá do músico e compositor. Tens ligações
a estúdios de gravação e também a esse mítico festival que é o Barreiro Rocks. Ainda
estás envolvido em todas estas atividades?
São
a minha vida. Presido a uma associação, a Hey, Pachuco! que produz o festival Barreiro
Rocks. Já lá vão 18 anos. Pelo caminho abri um estúdio de gravação, o estúdio King,
em 2008. Os projetos da Associação, o estúdio e a música são as fundações da minha
vida profissional, não consigo deixar de estar envolvido nessas atividades.
E
quanto aos outros projetos onde estiveste envolvido, tens mantido alguma atividade
regular com algum deles?
Sim,
acho que das dezenas de bandas por onde já passei, continuo a tocar com a maior
parte delas. A regularidade é que já é um pouco mais espaçada. Mas, por
exemplo, os Act-Ups continuam a sua carreira, os Los Santeros fazem agora 20
anos e os Bro-X, enquanto não morrerem, fazem questão em chatear a cabeça ao
pessoal.
Que
objetivos te propões atingir nos tempos mais próximos?
Agora
quero tocar ao vivo por todo o país com Suave, levar esta festa ao maior número
de palcos possível.
Obrigado
Carlos. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Eu
é que agradeço o interesse e o apoio na divulgação. Quero apenas acrescentar: apareçam
nos concertos, venham dizer olá. Ah, e comprem o disco, claro.
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