Entrevista: Dallian


Os Dallian provam que o metal nacional está muito bem de saúde. A banda de Leiria estreia-se com Automata e mostra como se deve ser criativo e apelativo nos dias de hoje, jogando com a música, o visual e o conceito. Do death metal ao world music, quisemos conhecer melhor esta revelação nacional.

Olá, pessoal, tudo bem? Antes de mais, parabéns pelo vosso excelente trabalho. Depois, gostaria que falassem um pouco deste projeto – como nasceu, com que objetivos, quais as motivações?
A banda teve os seus primórdios nos finais de 2015, quando a composição do álbum Automata foi realizada. Os membros Carlos Amado e Ricardo Carniça tinham saído da banda de death metal Madame Violence, por divergências profissionais. Em 2016 introduzimos o conceito do SteamPunk e realizámos mudanças líricas para conectarmos o nosso trabalho com essa influência, tendo como objetivo a utilização desta vertente mais estética com uma orquestração world music. A motivação principal é expandir horizontes musicais a nível do metal, nunca esquecendo essas mesmas raízes. 

Automata, o vosso primeiro álbum já está cá fora e mostra uma enorme diversidade estilística e musical. De onde vem a inspiração?
Apesar de o nosso género ser o metal e, obviamente, é o que mais ouvimos também, não ficamos só por aí. Em muitos casos, arranjamos inspirações em outros estilos além do metal. Todos temos grandes influências em bandas como Septicflesh, Opeth, Fleshgod Apocalypse, Carach Angren, entre muitas outras, mas também ouvimos outros estilos musicais, como o jazz, o clássico e músicas com instrumentos de vários países, que é algo que se nota também nas nossas orquestrações. No fim de tudo, é uma questão de cada um meter as suas ideias na mesa e todos trabalharmos em volta das mesmas até chegar a um consenso.

Como funciona o processo criativo nos Dallian?
Em Dallian, a forma como se procedeu neste álbum foi o Carlos construir a base das músicas a nível de composição instrumental e lírica, aliando riffs e ideias soltas do Ricardo Carniça. A bateria foi principalmente composta pelo André Fragoso, com alguma contribuição do Carlos e do produtor João Dourado.

Juntar ao fado (principalmente este género musical) ao death metal deve ser a primeira vez que alguém faz. Como surgiu a ideia?
Para que fique claro, não temos certeza, nem estamos confiantes de que fomos os primeiros a integrar ambos os géneros musicais. Há boa possibilidade de outras bandas o terem feito antes de nós. De facto, não é o estilo mais comum, óbvio ou fácil de misturar com a parte extrema do metal. Mas, como temos uma forte vertente de world music, faria sentido usarmos a música tradicional do nosso país na sua forma mais melancólica e existencial, como é o caso da Caixa Pensatória, que é suposto ter essa imersão. O que possibilitou isso acontecer foi o Carlos Amado (vocalista, guitarra e guitarra portuguesa) ter um historial de família relacionado com o fado e, também, o Leandro Faustino (guitarra, guitarra clássica) ser introduzido ao estilo com a sua influência.

Definitivamente, para os Dallian não há limites à criatividade?
Em termos de criatividade, não metemos de parte explorar outros sons e géneros dentro da nossa música. A base está lá e, obviamente, o que a realça é os elementos sinfónico e progressivo, e assim continuará. Mas, ao mesmo tempo, temos intenções de explorar ainda mais a diversidade musical existente, tendo em conta que o fizemos neste álbum. E, como todos nós ouvimos muitos géneros e bandas diferentes das nossas influências principais, queremos explorar outros terrenos, de forma a desenvolver ainda mais o nosso som.

O porco é a vossa mascote oficial, certo? Porquê?
Sim, Dalli (o porco) é uma mascote oficial, cujo significado está explicitamente descrito na música Swine Dialetic, que retrata entidades desconhecidas a nós, controladoras de boa parte do capital e da esfera política. Assim, essas entidades destinam o rumo dos seres humanos neste planeta, estando vinculadas a sociedades e organizações secretas. Tal como essas entidades, o porco tem caraterísticas em torno do egocentrismo, da ignorância e ambição cega pelo poder, concretizado através de métodos de empobrecimento do mundo. A personagem também é um pouco inspirada na representação deste suíno na obra Animal Farm, de George Orwell. No fundo, esta mascote constitui uma simbologia de crítica aos overlords que nos controlam.

E como é que a época vitoriana se enquadra em todo o conceito musical e estético?
A época vitoriana é fulcral, pois foi quando se deu a primeira revolução industrial, trazendo consigo questões importantes que se colocam ainda nos dias de hoje, como a relação entre o homem e a máquina, problemas sociais e outras questões filosóficas, que se abriram mais durante esta fase. Neste caso, a época vitoriana que retratamos não se baseia apenas no passado, tem também uma componente de ficção especulativa SteamPunk. Este elemento fictício ajuda a exacerbar certas questões que fazemos a nível lírico e conceptual, ao retratar um passado que nunca aconteceu, num mundo onde a tecnologia é ainda mais avançada que na época vitoriana real.

Como têm sido as reações a Automata?
As reações face ao Automata têm sido bastante positivas, tanto em Portugal como em vários países estrangeiros, como Alemanha, Estados Unidos, Holanda, entre outros. De momento, ainda só temos o álbum à venda em formato digital, no bandcamp. No entanto, já temos tido bastantes vendas, especialmente para fora. Além disso, temos recebido várias reviews de críticos e de blogs de metal, sendo a mais recente realizada pela revista portuguesa Loud. Foi um bocado surpresa, pois não esperávamos um feedback tão positivo para este primeiro trabalho. Estamos muito gratos a todos os que nos têm demonstrado o seu apoio.

Sendo esta uma edição independente, já houve abordagens por parte de alguma editora?
Sim, mas não podemos revelar nada em concreto, para já.

E agora? Qual o ou os próximos passos para os Dallian?
Neste momento, estamos em preparação para uma tour nacional, que será anunciada em breve. Além disso, estamos a preparar um videoclip e, por isso, podem esperar novidades em breve.

Obrigado! Querem deixar alguma mensagem?
Queremos dar um enorme agradecimento a toda a gente pelo apoio que nos têm dado e a todas as pessoas que têm trabalhado connosco até agora. Por fim, esperamos ver-vos nos concertos!


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