Colin Carter não será um nome desconhecido, pelo menos
pela sua participação no grupo progressivo Flash, que contava nas suas fileiras
com o guitarrista dos Yes, Peter Banks. E agora, depois de anos a tocar com os
melhores músicos de Londres, Nova Iorque e Los Angeles, resolveu investir em One, naquele que é o seu primeiro
álbum a solo. Fiquem com as suas impressões.
Olá Colin, tudo bem contigo? O que tens feito desde a
última vez em que conversamos?
Basicamente, escrevi e gravei o material para o CD One. É muito trabalhoso escrever, gravar, produzir, lançar e
promover um CD sozinho! Há mil detalhes. É esse o cenário onde habita um artista
independente atualmente. Mas para manter a minha sanidade, diverter-me um pouco
e manter os meus sentidos musicais afiados, regularmente toco, ensaio, faço
alguns espetáculos e convivo com um grupo fixe de colegas músicos.
De facto, da última vez que falamos foi a respeito do
regresso dos Flash. Agora tens um álbum a solo. Quando decidiste que era a
altura certa para esta aventura?
O álbum dos Flash a que te referes foi gravado com Ray Bennett em Las
Vegas. Era um álbum de estúdio e, apesar de montarmos uma banda para alguns shows depois do seu lançamento, nunca
houve uma banda Flash a tempo inteiro na estrada a fazer tournées. Assim voltei para Oregon, na costa oeste, continuei a
escrever e a gravar contornos das minhas próprias músicas. A decisão de juntar uma
coleção de músicas para um CD a solo foi um movimento gradual, mas lógico. Eu
estou sempre a escrever e a gravar coisas novas e, até agora, as músicas só
tinham sido ouvidas por alguns amigos. Agora quis levá-las para o mundo e
compartilhá-las com um público mais amplo.
Este é o teu primeiro álbum de solo. Porquê só agora?
Foi a mudança da cidade para a costa o motivo?
É o meu primeiro álbum solo e tenho certeza que não será meu último. Às
vezes, a "vida real" pode atrapalhar a criatividade musical. Mudar
para um novo país, novas cidades e locais, fazer novas conexões e
relacionamentos, podem facilmente desviar a atenção dos esforços musicais que
exigem foco. Agora tenho um local onde posso trabalhar a qualquer hora do dia
ou da noite, com todo o equipamento que preciso para avançar com o processo de
gravação. Posso ser criativo, fazer barulho, trazer músicos de perto e de longe
e podemos trabalhar sem interrupção. Estou muito feliz por agora ter essa liberdade.
Em Colin Carter - One, todas as canções são compostas por ti. Mas, são todas novas ou são as
canções que tens vindo a escrever ao longo dos anos?
Cerca de metade das músicas foram escritas dois ou três anos antes e as
restantes durante o processo de gravação. Acho que estás a perguntar isso porque
os estilos de música variam e podem refletir certas eras anteriores. Essa foi
uma decisão deliberada da minha parte para experimentar direções diferentes.
Talvez com o próximo lote de material, eu possa usar uma abordagem mais
unificada. Às vezes, a música tem uma ideia própria e encontra o seu próprio
destino!
Podemos considerar este One como um álbum muito pessoal,
mesmo em no aspeto lírico?
Quase sempre escrevo letras com as quais o ouvinte se pode identificar nas
suas próprias vidas, mesmo que os detalhes individuais não possam refletir
completamente as suas próprias experiências. Já escrevi letras abstratas em
músicas minhas anteriormente lançadas, mas verifiquei que o estilo é mal
utilizado quando o escritor tem pouco ou nada real a dizer. As pessoas
geralmente escondem as suas verdadeiras emoções, por isso, às vezes, ser direto
com uma letra pode ser mais poderoso do que ser obscuro ou artístico. Claro que
o CD é muito pessoal a esse nível e estou satisfeito com o resultado. Mas vou
deixar para os ouvintes julgarem se a letra e o conteúdo é pessoal ou universal.
Eu não digo nada!
Quem trabalhou contigo neste disco?
Comecei o processo de gravação sozinho no meu home studio, delineando as músicas e registando as estruturas
iniciais. Depois trouxe um par de amigos de Nova Iorque para começar a
preencher as gravações – os meus velhos amigos, o baterista Mike Hough e o baixista
Clint Bahr. Eles trabalharam nas minhas demos
ainda antes de chegarem, pelo que quando começamos a gravar, ligaram-se diretamente
aos arranjos existentes. Eles tocam em metade das faixas. Localmente, arranjei
mais dois músicos de Oregon para trabalhar em mais músicas. Tom Beckstrom tocou
bateria em algumas das faixas, Michael Cardell tocou bateria numa outra música
e o teclista Doro Reeves tocou piano sintetizado, órgão e acordeão em muitas
das outras músicas. Foi um prazer tê-los ao longo da viagem. Gravei e misturei
todas as faixas no meu próprio estúdio, Slipshod
Sound. Depois, levei-os para os Inner
Sanctum Studios em Coos Bay, Oregon. Este é um estúdio novo a cerca de 30
minutos de distância de mim, onde polimos, remisturamos e masterizamos as faixas
com grande ajuda do engenheiro-chefe Vinnie Cavarra e do proprietário do estúdio,
David Ford.
Naturalmente, o álbum One tem uma abordagem musical
diferente, quando comparado com os Flash. Como o descreverias?
Enquanto vocalista nos Flash, muitas vezes tentei fazer com que as
partes vocais se encaixassem numa peça construída, de modo que as ideias eram
frequentemente lançadas, quase como que uma reflexão tardia. Isso não é muito
divertido para um cantor. Não foi sempre assim, é claro, mas enquanto cantor
não-instrumentista, às vezes encontrava-me à mercê de uma série de ideias
instrumentais desconexas, com as quais tive que lutar para as tornar numa canção.
Trabalhar sozinho permitiu-me criar o conceito, controlar o sentimento, definir
o ritmo e o tempo e esculpir o som de cada peça. Antes de começar a escrever
uma nova música, eu imagino mentalmente um estilo ou imagem da peça que estou a
tentar criar e da forma como mais tarde a música e a letra se conjugarão. Mais uma
impressão geral do que a estrutura de verso/coro naquele ponto. Essa é a parte
difícil. Nem sempre sou bem sucedido, mas às vezes fico próximo. Portanto, para
responder à tua pergunta, a abordagem ou foco deste CD está nas músicas e não
no lado instrumental. A música está lá para servir a canção. Descrever música
nunca é fácil. Cada música tem um género um pouco diferente do anterior.
Elétrico eclético!
Aqui vou eu, apenas numa frase!
1. Wings: uma música direta de
separação e esperança.
2. Reachin’ Out: um blues modificado com sopros, entalhando
em algum clube, já a noite vai bem longa.
3. Highway To Oblivion: às
vezes um 6/8 discordante, que conta a história de uma alma que seguiu por um
caminho muito perigoso.
4. Star Crossed: uma canção rock n
roll com um coração dorido.
5. Cafe Elektric: uma noite de
bebedeira numa boite de Berlim de
1930.
6. Underground: um rock uptempo sobre passaportes falsos e um
voo perdido
7. Munich Song: um slow mortal, saga dramática, memórias de
Munique de há muito tempo.
8. Obsession: os perigos de
permitir que o cérebro seja comandado pelo coração
9. Tortuga Tonight: uma canção
acústica sobre o mar, roubar um navio, evitar a marinha inglesa e navegar por mares
mais quentes em busca de ouro e liberdade.
10. Sleeping With You: uma
canção de embalar para cantar ao amante ou ao filho.
Já estás a trabalhar na apresentação ao vivo destas
canções?
Levar uma banda a tempo inteiro para a estrada é uma proposta cara. Tenho
amigos músicos em Nova Iorque e aqui na costa oeste, que estão interessado em tocar
este material e levá-lo para outro nível numa situação ao vivo. Dar-lhe algum músculo.
Fazer um disco é uma coisa, mas pegar nessas mesmas músicas e empurrá-las em overdrive no palco é uma aventura
totalmente diferente. Portanto, sim, estou a tentar tentando entrar no negócio
e podem seguir-se espetáculos ao vivo. Adoraria voltar a tocar na Europa. Incluiria
uma mistura do novo material a solo com algumas versões revisadas de algumas das
minhas principais músicas antigas e posteriores dos Flash. Esse é o plano. Vou-te
mantendo informado. Enquanto isso, continuarei a tocar numa versão em menor
escala, com músicos nesta área da Costa do Pacífico, apenas por diversão.
E a respeito dos Flash, há alguma novidade?
Em relação aos Flash e futuras gravações e performances, acho que será muito duvidoso. A formação original dos
Flash, como quarteto, teve o seu momento na altura, com juventude, energia e
criatividade. Dado que o grupo original de indivíduos não se pode voltar a
juntar e criar a magia que já foi feita, será melhor para cada um dos membros
restantes olhar em frente musicalmente, em vez de olhar para trás. Seria pouco
sincero criar uma cover band dos Flash
para tentar replicar um tempo que passou. Isso já foi tentado. Seria apenas uma
triste sombra do fogo e energia que a formação original teve, não importa quão
bons sejam os novos músicos. Separadamente, os ex-membros dos Flash, Mike Hough
ou Ray Bennett, certamente poderiam encontrar outros músicos e formar um abanda
para tocar algumas das músicas antigas, se quisessem. Mas usando o nome Flash
estaria errado. Seria apenas pelo seu valor comercial, não pelo valor musical.
Por isso, meus amigos, no futuro, com novas músicas e novas ideias!
Muito obrigado, Colin. Queres acrescentar mais alguma
coisa?
Antes de mais, Pedro, meu amigo, gostaria de te agradecer pelo teu
interesse no meu projeto e pelo trabalho que fazes para promover a música. Os músicos/artistas
independentes estão num mundo diferente do que existia há alguns anos atrás, portanto
temos que nos adaptar às novas situações. É ótimo poder estar em contacto
contigo em Portugal, desde a minha atual casa em Oregon, nos EUA e, instantaneamente,
ser capaz de trocar ideias e músicas assim. Quando tocava no Reino Unido e na
Europa continental, nunca consegui ir a Portugal. Adoraria voltar a fazer uma tournée pela Europa, encontrar o meu
caminho para o sul e tocar na tua cidade. Mais uma vez obrigado pelas tuas perguntas
sobre o CD Colin Carter-ONE. Espero
ter-te dado o que procuravas.
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