Reviews: Setembro (IV)


27 Faces Of A Broken Heart (RAMIN PARTOVI)
(2018, Independente)
Fazer uma canção e depois convidar 26 amigos músicos para a gravarem sob a sua perspetiva, mas sempre com a mesma estrutura. Finalmente, gravar um duplo CD com 27 temas, sendo que a versão base traz como título o nome do autor e todas as variações trazem como títulos… os nomes dos respetivos convidados. A quem pertence uma ideia tão peregrina? A um guitarrista alemão, filho de mãe iraniana, que também é aviador e que se encontra, atualmente, a viver em Hollywood. O seu nome? Ramin Partovi. O tema base é bastante bom. As primeiras personalizações desse tema ouvem-se com agrado. O problema começa a surgir a partir do meio do primeiro CD, quando as variações começam a não conseguir superar a saturação de se estar sempre a ouvir a mesma estrutura. [60%]


Did I Cut These Too Short? (HUGGS)
(2018, Cão da Garagem)
Simultaneamente inspirados pela energia crua e indisciplinada do panorama underground britânico e pelas baladas românticas típicas dos anos 50 e 60, os Huggs nascem do contraste entre as melodias contagiantes do Duarte Queiroz na guitarra e voz e a irreverência punk e bateria pesada do Jantonio. Depois de dois singles, chega o EP Did I Cut These Too Short? onde essa evidência fica bem patente, num conjunto de seis temas garage rock/indie com linhas melódicas e abordagem vocal que tanto têm de uma ingenuidade infantil, como de beleza romântica, como de aceleração suja. [71%]


They Are We (STIMULI)
(2018, Independente)
They Are We é a estreia do power trio oriundo da Bay Area, Stimuli. O trio pratica um rock alternativo, que muitas vezes descai para o grunge, daí que comparações a Nirvana, Alice In Chains ou Pearl Jam possam ser feitas. Adicionalmente são incorporadas atmosferas que bebem um pouco da música nativa, eventualmente por influência dos membros Tai Hake e Jimmy Tomahawk. A intensidade emocional acaba por estar presente, até porque, segundo o mentor, Jimmy Tomahawk, a componente lírica é muito importante, transmitindo mensagens pessoais, sociais e filosóficas a respeito da experiência humana. [75%]


Dente de Leão (PALAS)
(2018, Independente)
Filipe Palas é conhecido pelas suas participações nos Smix Smox Smux e Máquina del Amor e Dente de Leão marca a sua primeira aventura em solitário, que não abandona, nunca, a influência da sonoridade bracarense, com Mão Morta à cabeça. Uma viagem intimista, infantil, ingénua, mas capaz de ferir, seja pelas letras mordazes e sarcásticas, seja pelos ritmos maquinais psicóticos criados pela repetitividade de sons. Difuso, maquiavélico e delirante assim é Palas, quando se despe da sua roupagem tradicional e abraça a necessidade de se expressar a si próprio e as suas mágoas. [73%]


Cidade Fantástica (FLAK)
(2018, Azáfama)
Com uma carreira com mais de 35 anos, onde se destaca a criação dos Rádio Macau e a produção do disco de platina Voo Nocturno de Jorge Palma, Flak está de regresso aos discos com Cidade Fantástica. Curiosamente, Cidade Fantástica foi gravado no agora extinto Estúdio do Olival (foi mesmo o último disco a ser gravado lá) onde durante cerca de 30 anos Flak produziu os maiores artistas nacionais. Aqui, Flak trabalha com Benjamim na construção de um conjunto de temas muito atmosféricos que tanto têm de surf rock como da escola motown, mas que também pisca o olho a Sérgio Godinho e a Leonard Cohen. Cidade Fantástica aposta no minimalismo, nos vocais graves e hipnóticos, mas perde pela manutenção sucessiva dos mesmos registos. [77%]

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