Entrevista: Glasya


Cerca de um ano e meio depois de terem surpreendido o mundo com a faixa Heaven’s Demise, eis que finalmente surge o primeiro álbum dos nacionais Glasya. Traz o selo da Pride & Joy Music, o título do primeiro tema apresentado e muita qualidade, ao nível do que melhor se faz por esse mundo fora. Assim, nesta competição particular do metal sinfónico, Portugal assume-se como estando na vanguarda com um projeto que abrange uma área musical ainda não muito desenvolvida no nosso país. Agora, tendo por base este sólido registo, voltamos a falar com Davon Van Dave.

Olá Davon, tudo bem desde a nossa última conversa? Começando, precisamente, por aí, na altura Heaven’s Demise tinha causado um enorme burburinho. Como decorreram os trabalhos posteriormente ao lançamento desse vídeo?
Olá Pedro, tem tudo corrido muito bem, obrigado por nos convidares de novo para esta conversa. O single Heaven’s Demise teve felizmente bastante feedback positivo e foi um excelente cartão de visita para levar os Glasya ao público e à imprensa. Esse vídeo foi o arranque para a etapa seguinte, a gravação do álbum, a angariação de uma editora e perceber que aceitação a nossa sonoridade poderia ter dentro e além-fronteiras. A aceitação foi de tal forma que fomos convidados a integrar a famosa coletânea Symphonic & Opera Metal lançada pela alemã ZYX que normalmente só convida bandas já de renome, como os Epica, Kamelot, Visions of Atlantis e por aí. O convite surgiu inesperadamente e também nos ajudou a chegar a mais público. Já tocamos algumas vezes ao vivo, inclusive no Milagre Metaleiro que foi um bom teste da nossa performance ao vivo. Tudo isso culminou neste momento em que estamos a lançar o nosso primeiro álbum com uma editora que respeitamos muito.

Quando começaram a gravar este álbum e de que forma decorreram os trabalhos em estúdio?
A gravação do álbum atrasou-se um pouco porque tivemos de mudar de produtor numa etapa já avançada das gravações e recomeçar tudo de novo. Começámos a gravar com o novo produtor em outubro de 2018 e tudo fluiu muito bem, as gravações e toda a troca de ideias foi descontraída, estávamos todos motivados em dar o nosso melhor e resultou numa grande sinergia entre o produtor e a banda. Como todos já tínhamos experiência de estúdio, devido às nossas anteriores bandas, não existiram impasses nem impossibilidades. Saíamos sempre do estúdio aos abraços e com largos sorrisos nos rostos

Para a produção chamaram o Fernando Matias, eventualmente a pessoa mais indicada para esta sonoridade. De que forma essa mesma sonoridade acabou, ou não, por ser moldada já no decorrer desta fase?
O Fernando Matias além de ser uma excelente pessoa é deveras um produtor exímio. Tem uma noção musical e de produção que me surpreendeu diversas vezes e todas as expetativas que tinha do que as pessoas amigas diziam sobre ele, não só foram comprovadas como foram superadas.  O Matias creio que se adequa a qualquer sonoridade, mas realmente como tem uma noção melódica muito forte e sabe trabalhar muito bem as harmonizações, ele é uma grande mais-valia para bandas com a nossa sonoridade que vivem muito dessa componente. Quando fomos ter com ele já tínhamos tudo previamente pré-definido, mas vais encontrar muitas ideias do Matias nas músicas, principalmente uma boa parte do trabalho de harmonizações.

Na altura já tinham assinado pela Pride & Joy Music ou isso só sucedeu numa fase posterior?
Na altura estávamos apalavrados com uma editora italiana que existe há largos anos no mercado do metal melódico, todavia, após o álbum estar terminado, surgiu a oportunidade de trabalhar com a Pride & Joy e como tínhamos noção do quanto esta editora está a crescer no mercado e a sua forma de trabalhar com as bandas, optámos por eles e estamos muito satisfeitos por essa decisão, pois têm sido incansáveis.

Agora que o álbum está prestes a sair, e fazendo uma autoanálise, era este tipo de resultado final que almejavam atingir?
Sem dúvida! Queríamos conciliar as melodias que caraterizam a nossa sonoridade com uma produção que fosse forte sem ser demasiado pesada, um equilíbrio que conseguisse fazer sobressair cada pormenor de cada instrumento nas músicas, onde a força não comprometesse a beleza e a compreensão do que cada músico está a fazer. Neste aspeto, o resultado final está excelente! É óbvio que como músicos, nunca estamos 100% satisfeitos, mas estamos, de facto, muito orgulhosos do resultado final e todos nós identificamos muito com o que lá está.

Quatro são os convidados que acabam por entregar o seu talento a este álbum. Gostaria que os apresentasses e que falasses um pouco do seu papel nesta obra.
Eles merecem ser de facto destacados. As suas contribuições foram extremamente enriquecedoras e as músicas onde cada um entra nunca teriam o impacto que têm sem a participação deles. Desde já aproveito para lhes agradecer mais uma vez, pois foram extraordinários! Eu e o Paulo Gonçalves dos Rasgo já somos amigos de longa-data, desde o tempo que estávamos em Shadowsphere. Ele é das pessoas mais “boa-onda” que podes conhecer, sempre com uma energia positiva contagiante. Já tinha em mente que quando gravasse um álbum o convidaria para fazer vozes, pois sempre gostei do registo vocal dele e a prestação dele foi simplesmente brutal! O Lino, para mim foi uma surpresa extremamente positiva, a música mudou completamente com a participação dele, ele é bastante expressivo, com garra e conseguiu sentir a essência da música de uma forma que parece que fez parte da própria composição da mesma. Quando ouvi a primeira vez a voz dele na música (infelizmente não consegui estar presente na sessão de gravação dele) arrepiei-me e senti que ele foi, de facto, a melhor escolha para aquele tema! O Nélson foi outra grande surpresa para mim, a Eduarda e o Hugo já tinham referido que ele era um excelente voz-off, mas a tarefa que tínhamos para ele não era nada fácil, a voz de um velho rei falando ao seu filho, e… saiu perfeito! Nunca diria que era ele a fazer a voz, transformou aquele momento num trecho realmente épico e convincente. A Eduarda já trabalha com a Inna há bastante tempo e há uma simbiose perfeita em elas, isso ficou evidente na gravação que a Inna fez dos violinos, por exemplo, na música Coronation Of A Beggar, que tem influências celtas o violino veio trazer uma mística à música indiscritível. Foi uma honra tê-la também connosco!

Já agora, quando sentiram a necessidade de ter estes convidados? Imaginaram a inclusão destes convidados logo desde no começo do processo ou foi já numa fase mais avançada?
Eu sempre gostei muito do conceito de convidar pessoas de outros projetos para participarem. É um motivo de união e camaradagem entre músicos que é enriquecedor para todas as partes, creio eu. É um conceito que sempre tive e acredito que sempre teremos. Honra-nos ter pessoas que respeitamos a participar em algo criado por nós, como também nos orgulha poder participar sempre que nos convidam.

Em termos de composição em que é que se focaram? Que cuidados tiveram em termos de conceção e criação?
A composição dos temas é algo que surge de forma muito fluída entre o Hugo e eu que se transporta depois para todos os elementos da banda. Todos temos algo em comum, quando compomos queremos expressar algo e damos espaço para que todos possam contribuir. As nossas composições são um quanto cinematográficas, seja a nível da sonoridade bem como das histórias nas letras, como uma promotora sueca nos disse, somos bastante dramáticos. Não queremos ser simplesmente rápidos com riffs pesados e vozes rasgadas, queremos transmitir mensagens e emoções e fazer quem nos ouve viajar para o universo que estamos a criar. É esse o foco das nossas composições.

Na altura dizias-nos que vinham para marcar um lugar no metal nacional. Esse objetivo está agora mais perto de ser conseguido?
Creio que agora vamos dar os passos mais firmes relativamente a esse argumento, temos o apoio de uma editora que tem uma boa capacidade de nos promover, temos plena confiança na coesão da banda, sabemos mais sobre nós próprios e o que nos rodeia, as dificuldades que existem e como as contornar.  Tudo se conquista lutando, nada vem facilmente e em catapulta, portanto todos os dias estamos a subir degraus, o feedback que recebemos tem-nos indicado que as pessoas gostam de nós, de nos ouvir, ver e acreditam no nosso potencial. Nós como banda vamos sempre tentar dar o nosso melhor.

E esse objetivo passa por uma presença ao vivo? Como tem sido essa presença e o que têm previsto para apoiar a promoção deste álbum?
Já temos feito alguns concertos e temos tido o apoio incondicional de diversas pessoas que nos têm acompanhado nesses concertos, um dos que nos mais marcou até agora foi o Milagre Metaleiro. Com o álbum lançado será mais fácil contactar as promotoras e as agências, existe já algo físico para apresentar e quanto mais perto estamos do lançamento do álbum, mais se vai falando sobre ele e a banda, acredito que esse feedback abrirá algumas portas mais difíceis de alcançar e, até mesmo, portas para concertos fora de Portugal. Está tudo a ser pensado, apenas falta ser realmente organizado e executado. Mais uma vez obrigado Pedro pelo convite e a quem leu esta entrevista!



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