Aqui Existo
é o terceiro álbum de Sandra
Correia que nos traz um álbum de originais, com
belíssimas composições e histórias que são as histórias onde todos existimos,
num ambiente musical intenso. Somando nomeações internacionais, que, afinal, refletem
a excelência desta artista, Aqui Existo, consagra uma das melhores vozes no panorama musical Português.
Olá Sandra, obrigado
por esta oportunidade. Para começar, explica-nos como surge o fado na tua vida
sendo oriunda de Sta. Maria da Feira, bem longe de Lisboa?
O Fado surge na minha vida aos 3 anos de idade, assim
que ouvi uma voz extraordinária, que me tocou a alma: a voz da D. Amália
Rodrigues. Essa maravilhosa voz tocou o mundo inteiro.
Aqui Existo é já o teu terceiro disco.
Como o analisas numa perspetiva evolutiva do teu trabalho?
Tive a necessidade de gravar poemas e músicas inéditas
e, à exceção de um, são todos inéditos, continuando assim a criar o meu próprio
repertório ao longo dos anos. Quis dar-lhe uma sonoridade diferente, a meu ver
mais profunda, e convidei além do trio tradicional de Fado, um ensemble
de cordas. Objetivo cumprido, com a ajuda de todos os intervenientes do disco e
duma pessoa importantíssima, que é o produtor do disco, Valter Rolo.
De que forma
trabalhaste na composição deste disco? Portanto, os temas são todos originais,
menos um?
Sim, os temas são todos originais, à exceção de um, a Balada
do Silêncio, de Jorge Barradas e Ana Madalena. O Mário
Pacheco ofereceu-me um tema, música dele e poema de Rosa Lobato de Faria,
o Aqui Existo, que deu nome ao álbum, e o disco foi crescendo a partir
dali. Pedi aos autores, músicos e poetas com que me identificava e achava
certos para este trabalho, e foram surgindo coisas extraordinárias. Estou muito
feliz com o resultado.
Com que compositores
trabalhaste? E em termos de poemas? A quem recorreste?
Compositores: Ângelo Freire, Mário Pacheco, Valter
Rolo, Amélia Muge, Tiago Machado, Manuel Graça Pereira, Carlos Barretto, Loic
da Silva e Pedro Soares. Poetas: Ângelo Freire, Tiago Torres da Silva, Amélia
Muge, Cátia Oliveira, Rodrigo Costa Félix, Flávio Gil e Florbela Espanca, Rosa
Lobato de Faria e Ana Madalena.
Desde 2017 que tens
sido nomeada para diversos prémios – Best Video Music em 2017 e duas vezes
para Best Fado. Como encaraste essas nomeações?
Fiquei muito feliz. É sempre muito gratificante quando
alguém repara no trabalho que fazemos e o divulga. Criamos com amor, sem
qualquer expetativa, e felizmente as coisas têm corrido de forma muito
positiva.
Mais recentemente
tiveste outra nomeação, talvez a mais importante de todas – Best World
Traditional Album, pela Independent
Music Awads, de Nova Iorque. Tiveste a
oportunidade de ter ido à cerimónia? Como viveste essa experiência?
Dei saltos de alegria quando soube da nomeação
(risos). Não pude ir à cerimónia, pois tive de cumprir agenda. Tinha um
concerto agendado para esse dia em Cernache do Bonjardim.
Sendo certo que não
foste galardoada, que repercussões estas nomeações têm tido na tua carreira?
Reconhecimento internacional, sem filtro; interesse
imediato, recíproco, de vários músicos para futuras parcerias. Receber os
parabéns de gente que admiramos desde sempre, músicos incríveis, e ter também a
possibilidade de dar os parabéns à vencedora do prémio na minha categoria (fui
eu quem lhe deu a notícia), a Sueca Sara Ajnnak, de quem fiquei fã.
Desde sempre o fado foi
reconhecido internacionalmente, mas que opinião tens da atualidade? Continua a
ser bem visto mesmo já não sendo tão tradicional?
O Fado continua a ser tradicional. Naturalmente que os
cantores têm a opção de escolher o seu próprio repertório, e num concerto ou
num disco não cantar ou não gravar apenas fados tradicionais. Falamos de
música. Mas um Fado Cravo será sempre um Fado Cravo, um Menor será sempre um
Menor, e se um fadista o canta, está a cantar um Fado Tradicional.
Aliás, essa mudança e
evolução a partir do tradicional era uma necessidade, não concordas?
Se a essência não se perder, pode e deve evoluir. Tem
vindo a evoluir desde há muitos anos. E todos nós sabemos a diferença entre um
fado tradicional, um fado musicado e uma abordagem alusiva ao Fado, mas com uma
sonoridade um pouco diferente.
No teu caso particular,
de que formas procuras inovar nas tuas composições?
Há tanta coisa que quero fazer, que com certeza será
muito natural a evolução, visto que eu conheço as diferenças. Vamos com calma e
de uma forma pensada.
Obrigado Sandra! Que
outros projetos tens em mente para o futuro?
Se eu te contasse, o que tenho em mente, tínhamos uma
entrevista, só com essa resposta, do tamanho desta. Prefiro aguardar. Muito
obrigada, Pedro. Até breve.
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