Um EP e um single abriram o
caminho para La Foi, La Loi, La Croix, soberbo EP dos thrashers
canadianos Thrash La Reine. A banda tem como principal aspeto distintivo (e
deveras marcante) a utilização da língua francesa. O vocalista e guitarrista
Renaude Baril apresenta a banda e fala das suas motivações e opções.
Olá Renaud, obrigado pela disponibilidade! Podes apresentar aos
metalheads portugueses este projeto Thrash
La Reine?
Somos de
Montreal, Quebec, Canadá. Fazemos heavy metal em francês, já que a maioria
das pessoas nesta parte do Canadá fala francês. A nossa música é heavy metal?
Thrash Metal? Power metal? Punk? Sentimos que, atualmente,
há muita obsessão em categorizar a música metal. Nós preferimos tocar a
música que gostamos sem nos preocuparmos muito com um subgénero. Mas, para
colocar palavras sobre o que fazemos: fazemos metal em francês, com
temas sociais que são trazidos satiricamente e gostamos de ter na nossa música um
sentimento épico! Gostamos de refrões melódicos cativantes que as pessoas possam
cantar durante os nossos espetáculos, mesmo que não saibam as letras... ou
mesmo que não falem francês!
Quando decidiram começar
este projeto e com que intenções ou objetivos?
Começamos há
cerca de dois anos atrás. Tínhamos toda uma paixão por heavy metal e
queríamos criar as nossas próprias músicas. Pensamos que fazer música heavy
metal em francês seria original. Não há muitas bandas a fazer isso,
portanto era uma coisa nova a explorar. Fizemos um primeiro EP/demo em
2017 (Le Metal Est Notre Langue) que foi uma gravação caseira. Depois
decidimos ir para estúdio para gravar La Foi, La Loi, La Croix. Ficamos
muito felizes com o resultado, por isso decidimos mostrar ao mundo inteiro como
soa o heavy metal em francês!
Quais são as vossas principais
influências?
Claramente somos influenciados
pelos clássicos do heavy metal e power metal, Iron Maiden,
Metallica, Megadeth, Blind Guardian, Iced Earth. Mas
também somos influenciados pela cena punk do Quebec, que sempre foi rica
em bandas a cantar em francês. Também temos algumas influências na música folk
tradicional franco-canadiana (Chanson à répondre). Podemos ver essa
influência na nossa música Du Sang Sur Les Plaines, que tem um
sentimento mais folk.
Antes de mais, deixem-me dizer que a opção de cantar em francês
resulta particularmente bem, mas por que optaram por esta solução?
Queríamos fazer
música em francês, porque é a nossa língua nativa, por que razão faríamos o
contrário? Expressamo-nos mais facilmente em francês e temos orgulho de fazer
algo diferente usando outro idioma. As pessoas também estão curiosas sobre como
descobrir idiomas e culturas de outras partes do mundo e estamos orgulhosos por
poder compartilhar nas nossas músicas a nossa cultura de Montreal. Acho que
fazer música num idioma diferente aumenta o "misticismo" dessa
música. As pessoas nem sempre precisam entender as letras para ter a sensação
da música. Quando eu cresci e comecei a ouvir música, era em inglês e nem sempre
conseguia entender tudo... mas era por isso que a música era tão emocional.
Como descreverias La
Foi, La Loi, La Croix nas tuas próprias palavras...
La Foi, La Loi, La
Croix significa "a fé, a lei, a cruz", que são três
importantes pilares da nossa civilização ocidental. Podemos ver na ilustração
do álbum uma ilustração caricatural da nossa sociedade: um padre, uma rainha e
um homem de negócios que parecem ser personagens corrompidos. Isto é o que
expressamos através da nossa música e letras, é uma espécie de desenho animado
de heavy metal sobre a nossa sociedade. A primeira música, Pourchasser
Le Dragon é uma música sobre vícios em videojogos. Thrash La Reine e
Le Rédempteur são mais um retrato da situação política do mundo. La Peur
Du Lendemain é uma canção sobre a ansiedade de trabalhar das 9 a 5. Garde
la Foi é uma paródia de uma canção religiosa. E finalmente, Du Sang Sur
Les Plains é uma canção histórica épica sobre a batalha do campo de Abraão
que ocorreu em 1759 na cidade de Quebec.
É este o tipo de álbum que sempre sonharam fazer?
Sim! Estamos
felizes com a gravação, mistura e masterização. Gastamos algum tempo antes da
gravação para fazer boas demos e uma boa pré-produção, para que
pudéssemos experimentar mais profundamente algumas ideias, como harmonias
vocais. A produção parece completa sem ser superproduzida. Também sentimos que
há uma boa variedade de músicas: músicas rápidas, músicas mais rápidas, músicas
de ritmo médio, músicas curtas e longas. Também mostramos o que todos os
instrumentos são capazes de fazer para que as pessoas nunca fiquem entediadas
ao ouvi-lo!
Como foi o método de trabalho que vos levou a esta fantástica coleção
de músicas?
Normalmente eu
trago a ideia de partes de guitarra (principalmente o verso e o refrão) e tocamos
nesses riffs como banda. Todo a gente pode trazer as suas ideias para a
música e montamos uma estrutura. Como Guillaume que trouxe a ideia de um break
em La Peur Du Lendemain, que resultou muito bem porque é algo inesperado
neste tipo de música. Geralmente as letras e melodias vocais vêm no final.
Normalmente, tento encontrar primeiro o refrão para o tornar cativante. Estamos
mais interessados em fazer linhas vocais melódicas que ficarão na cabeça das
pessoas. No entanto, devo admitir que escrever letras no final às vezes pode
ser um desafio. Para algumas músicas novas em que já estamos a trabalhar, estou
a tentar experimentar escrever primeiro o texto e colocar a música sobre ele. É
uma abordagem diferente, mas também pode levar a ideias inesperadas e abrir
novas portas para a criatividade!
Em que temas trabalham nas vossas músicas?
Ser um trio às
vezes é difícil, pois temos muitas ideias para arranjos que depois nem sempre
podemos reproduzir ao vivo. Exemplo: gravação de diferentes faixas de guitarra
e harmonias. No entanto, temos a mentalidade de que nunca devemos estabelecer
limites e devemos sempre seguir as melhores ideias possíveis para gravar a
versão mais completa possível da música. Se não pudermos ter todo o arranjo
vivo, não importa muito. Podemos reorganizar a música para a apresentação ao
vivo e os fãs ouvirão a música ao vivo com outro ângulo diferente do estúdio e
que manterá o interesse de nos ouvir ao vivo. Afinal, quem quer ouvir uma banda
ao vivo que soa exatamente como no estúdio?
Muito obrigado, Renaud! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Muito obrigado por
esta entrevista. Foi muito divertido responder! Portanto, atualmente estamos a
trabalhar num novo videoclipe para a música Pourchasser Le Dragon.
O vídeo terá um cenário engraçado relacionado ao tema do vício em videojogos. O
vídeo deve ser lançado no final do verão!
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