Reviews: Outubro (II)


Portugal 2018 (TIAGO VILHENA)
(2019, Pontiaq)
Após ter saboreado a composição com a companhia de uma banda, os Savanna, e de ter explorado a escrita individual no mundo do pop rock usando o nome George MarvinsonTiago Vilhena entra numa nova etapa com a primeira experiência musical na sua língua natal. Intitulado Portugal 2018, Vilhena abarca a composição de uma forma experimental e com referências ao jazz e à música tradicional, seja ela portuguesa, chilena ou grega. São 10 canções em menos de meia hora (logo aqui se percebe que o autor não esteve com muita preocupação para grandes expansionismos nem explorações sonoras, apesar de existirem algumas progressões harmónicas interessantes) com forte tendência filosófica, relaxada e introspetiva. Este é um disco que por vezes nos lembra Sérgio Godinho ou Zeca Afonso e que, por isso, também se pode afirmar como a nova expansão para a música de intervenção. Fica a faltar apenas mais um pouco de fibra e intensidade e, vá lá, um maior desenvolvimento das muitas das boas ideias aqui presentes. [69%]


No Songs For Lovers (INADREAM)
(2019, Echozone)
No Songs For Lovers é o álbum de estreia dos Inadream, jovem banda de Bochum que pega no punk-pop dos anos 80 para se tentar afirmar. Melodias catchy mas bastante básicas, guitarras com distorções ligeiras e a tender para a popalhada e vocais algo melancólicos são alguns dos aspetos descritivos da música do coletivo. E se a ideia era fazer punk, pois bem, neste conjunto de canções falta atitude, intensidade e rebeldia. Se era fazer pop, então também falharam porque as guitarras estão demasiado altas para os fãs desse género. No Songs For Lovers acaba, assim, por trazer um título que não descreve o produto. Estas canções não são para amantes, nem para rockers – são para uma geração de putos pseudo-rebeldes que acham que os Green Day ou os Tokyo Hotel são o expoente máximo da anarquia. [63%]


Loser Delusions (BLACK MASTIFF)
(2019, Grand Hand Records)
Se não for por mais nada, os Black Mastiff foram falados quando John Garcia (vocalista dos lendários e pioneiros Kyuss) gravou uma versão de um tema dos canadianos no seu primeiro álbum a solo. Desde logo se percebe que quando se fala de Black Mastiff, nos referimos a stoner e desert rock. Sem mais. E Loser Delusions, sucessor de Music Machine, de 2015, mostra essa faceta muito bem, num álbum com uma vibe setentista acentuada e bom trabalho dos vocais e na criação de riffs. O power trio consegue, desta forma, criar a sua visão muito própria do stoner rock, explorando o groove e estruturas polirrítmicas. Aconselhado para fãs de Kyuss (naturalmente!) e Queens Of The Stone Age. [71%]


Vida (CATARINA ROCHA)
(2019, Independente)
Depois de Luz, Catarina RochaVida ao fado. E dá vida com um disco curto onde os temas com energia e humor – destaque para a abertura Fado Abananado – alternam com momentos com mais calma e melancolia. Dos dez temas de Vida, oito são originais (tendo recorrido a alguns dos mais importantes compositores da atualidade, como Pedro da Silva Martins, Tiago Torres da Silva, Carlos Paiva e Paulo Abreu Lima), dos quais quatro são composições próprias suas. Os restantes dois fazem parte do repertório de Amália Rodrigues, tendo sido regravados, com uma abordagem muito pessoal pela fadista. Curiosamente, três dos quatro temas escritos por Catarina situam-se num nível superior de emotividade – Meu Amor, Não Sabe Amar e Expresso da Saudade – e são eles os grandes pilares responsáveis pela subtileza e magia que Vida apresenta. [73%]


Galavanting (TIME FOR T)
(2019, Street Mission Records)
Hoping Something Anything tinha deixado alguns bons apontamentos quanto à qualidade dos Time For T, mas é agora, na sua segunda proposta, Galavanting que o projeto liderado por Tiago Saga se começa a emancipar. O disco começou a ser delineado no Algarve, proporcionou o crescimento das canções num trabalho desenvolvido em Brighton, enquanto as gravações de distribuíram entre Lisboa, Madrid e o Algarve. Uma banda multinacional com trabalho construído em diversos cenários, sendo o resultado precisamente uma abordagem multi-influências e multicultural. Por isso, do calor dos ritmos brasileiros ao folk rock, do blues ao soul ou ao reggae, tudo são pormenores a descobrir num Galavanting que até estreia uma secção cantada em português. [70%]

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