Bill
Beadle vem de forma frequente a Portugal de férias. Mas nunca cá veio tocar com
os seus Sacrilege, mítica
banda dos anos 80 que, à semelhança de outras tantas, encontra na sua segunda
vida a felicidade que lhes fugiu na primeira. O seu mais recente disco chama-se
The Court Of The Insane e é mais um passo decisivo no definitivo estabelecimento
na maior liga do metal mundial. A simpática conversa com o guitarrista e
vocalista centrou-se no novo álbum, embora tenha visitado outras temáticas.
Olá Bill, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo
álbum The Court Of The Insane. E que grande regresso este! Quatro anos a
trabalhar nele valeu bem a pena…
Olá Pedro, obrigado! Sim, já
foi há algum tempo que as mudanças de guitarrista causaram algum atraso. Eu
escrevi o álbum há dois anos e a maior parte do álbum estava pronta há anos,
tirando as partes de guitarra, depois de Tony Vanner, o nosso antigo
guitarrista ter decidido que queria parar de tocar. Aí quisemos ter o guitarrista
certo que se encaixasse em Sacrilege.
Todas estas músicas
são novas ou foste recolher alguma mais antiga?
Todas estas músicas são
novas. Depois de estar parado tanto tempo, começar de novo e receber todos os aplausos
do nosso último álbum Six6six, queria que este fosse mais um passo
adiante e com os grandes músicos/amigos da banda, podes ouvir bem os seus
talentos. Felizmente a maioria dos jornalistas concorda que é o melhor álbum
dos Sacrilege.
Como definirias The Court Of
The Insane, especialmente em comparação com os
vossos álbuns anteriores?
A minha composição tem
tantos estilos diferentes que já fomos chamados de NWOBHM, doom, heavy
metal, epic metal, heavy rock, rock clássico e a lista
continua. Six6six era num estilo muito doom e eu não queria
escrever o mesmo álbum novamente, mas queria manter a conexão, daí o doom
surgir na primeira faixa Celestial City. Mais uma vez este álbum tem um storyboard/conceito
que pode ser seguido, mas que não foi intencional até se tornar aparente depois
de terminar de escrever as músicas. Eu diria que tem um pouco de todas as
minhas influências - Judas Priest, Nightwish, Black Sabbath,
Iron Maiden e The Scorpions. Portanto, quem gosta deste tipo de metal,
deve gostar deste álbum, acho eu.
O álbum foi gravado
por um trio, certo? Mas quem é a atual formação dos Sacrilege?
Sim, Neil Turnbull na
bateria e Jeff Rolland no baixo estão comigo desde 2013, depois que
reiniciei os Sacrilege em 2012 e, definitivamente, puseram o seu selo no
som dos Sacrilege e na melhor seção rítmica que já ouvi em qualquer
banda, mas estou um pouco velho (risos). Agora temos o Paul Macnamara, ex-Salem
na guitarra e sinto que esta é uma ótima formação. Como precisávamos apresentar
The Court Of The Insane o mais rápido possível devido a todo o atraso,
pedi a Dave Lear para fazer os solos. Depois de o ouvir tocar em um
estúdio nos ensaios, Paul ainda não se tinha juntado e Dave também masterizou e
tratou da engenharia do álbum, por isso também soou tão especial graças a ele.
Podemos voltar um
pouco no tempo? O que aconteceu em 1987 com a separação da banda?
Naquela altura era jovem e
impaciente e estava cansado de tudo e pensei que não precisava de mais problemas,
especialmente com outras coisas a acontecer na vida, na família etc. Eu escrevia
as músicas, agendava espetáculos e ensaios, além de manter um emprego em tempo integral
e acho que os outros elementos não perceberam quanto esforço é necessário. Por
isso vendi tudo e não pensei em tocar música até 2007.
E, 25 anos depois, o
que te motivou a reformar a banda?
Eu conhecia os gajos dos Mud,
banda de glam rock e John Berry (baixista) é meu amigo. Na verdade
eu conduzi para a banda, durante um período, nos anos 90 e, em conversa com
ele, surgiu a ideia de perguntar como soariam hoje as músicas antigas dos Sacrilege,
se eu as gravasse novamente. Construí um estúdio no meu jardim e com a
tecnologia atual, a gravação é muito mais fácil e menos cara do que era
naqueles dias em que comecei a gravar e escrever algumas novas músicas. Uma vez
que já não sou o guitarrista mais rápido do mundo, procurei alguém para fazer as
partes principais ainda sem a intenção de fazer outra coisa senão tocar para
minha diversão em casa. Aí conheci on-line Pekka Loikkanen, que
mora na Finlândia e pedi-lhe para ele fazer os solos depois de ouvir o seu
ótimo trabalho. Quando ele colocou os nas minhas músicas, fiquei super
impressionado com a forma como soavam. Escrevi mais e mais, mas eventualmente
Pekka estava tão ocupado que me pediu para encontrar alguém mais próximo e avançámos
para a fase em que Neil Abnett, que pode ser ouvido no álbum The
Wraith, me convenceu a tocar ao vivo novamente. Eu fiz o 'regresso ao vivo'
dos Sacrilege num espetáculo no dia 25 de outubro de 2012, numa casa
cheia. É claro que adorei e queria mais, então aqui estão sete álbuns depois,
curtindo cada minuto.
Todos os membros da
primeira existência da banda continuam agora com os Sacrilege?
Não, receio que não. Ainda
estou em contacto com Rick Burgess, o nosso primeiro baterista, mas não
vejo ou falo com Alex Cookson ou Steve Barrs há mais de 30 anos.
Naquela época, eu não tentava conseguir um contrato de gravação ou tocar em
grandes festivais, apenas escrevia algumas músicas que as pessoas gostavam. Na
verdade, em 82, quando tocamos na televisão com os U2 e os The
Stranglers, nem tínhamos tocado ao vivo. Estava tudo a ir muito rápido e as
deceções tornaram-se maiores.
Desejas comentar a forma
como o artwork foi criado?
Precisávamos de lançar The
Court Of The Insane rapidamente e estávamos à procura, em todos os lugares,
de uma capa de álbum que se conectasse com a faixa-título. Entrei em contacto
com Andy Pilkington, um renomado artista de metal e não sei por
que não pensei em ir até ele antes. Neil e eu tínhamos a mesma ideia de um
antigo tribunal com bobos da corte etc. Além disso, Neil achou que seria uma
boa ideia incluir-me em algum lugar da capa. Contamos as nossas ideias a Andy e
ele surgiu com o médico da Peste, a minha cabeça num prato (charmoso, risos!) e
tudo estava perfeito. A Pure Steel adorou e tenho a certeza que
pediremos ao Andy para fazer o nosso próximo álbum.
Disseste que não
querias escrever o mesmo álbum duas vezes. Achas que o conseguiste?
Sim, penso que sim. Não abandonamos
o som dos Sacrilege, mas acho que podes ouvir trechos de todos os álbuns
anteriores, mas este álbum parece mais maduro e mostra a progressão da banda
até o Six6six. Eu sempre gostei de escrever faixas mais longas, para que
se possa entrar na música e também para o ouvinte perguntar para onde ela será
a seguir e há algumas faixas longas neste álbum. Recebemos muitos elogios pelas
faixas mais longas, mas é claro que há faixas como Lies, I Can Hear
The Silence e Ride Free, que são músicas clássicas de 4 minutos.
Têm alguma coisa
planeada para apresentar este álbum ao vivo?
Isso já foi discutido há
algum tempo e é algo que realmente deveríamos fazer. Espero que tenhamos um em
2020. Depois dos espetáculos recebemos sempre comentários como “wow,
vocês são muito mais pesados ao vivo que nos discos”. Portanto, acho que é algo
que devemos fazer...
Obrigado Bill! Queres
acrescentar mais alguma coisa?
Em dezembro, a banda estará em
Itália a gravar o vídeo de The Court Of The Insane. Será uma grande
produção com o realizador italiano, pelo que estamos ansiosos. Também fomos
votados pelos fãs para tocar no festival Stonedead com os Black Star
Riders. Agora cabe à equipe de produção determinar se chegamos ao
alinhamento final. Cruzemos os dedos - 2020 será um grande ano para nós. Também
adoraríamos ir tocar a Portugal, vou aí de férias duas ou três vezes por ano,
por isso fazer um espetáculo ou dois seria fabuloso. Muito obrigado pela
entrevista, espero encontrar-te num espetáculo dos Sacrilege em breve.
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