Entrevista: Remexido


João Lima, Carlos Ribeiro e João Dacosta, oriundos de Almada, contam inúmeras travessias pelo mundo da música Portuguesa. O trio carateriza-se por um forte pendor teatral e cinematográfico, invocando aspetos sociais e plurais da Portugalidade revelados num conjunto de canções heterogéneo. Chama-se Remexido e o seu álbum homónimo de estreia, num registo rock fadesco, tem causado sensação. João Lima, arquiteto, pintor e músico, elemento dos Oquestrada, apresentou-nos o conceito deste inovador projeto.

Olá, João! O que vos motivou a criar este projecto Remexido? E qual o motivo para a escolha deste nome?
Olá, viva! Remexido tem origem no encontro entre três músicos que partilham os seus mundos por vezes muito diferentes e que, após uma leve ignição, eclodiram, revelando-se num trabalho que apesar de bastante heterogéneo, se revela coerente. Mexer e voltar a mexer, não obedecer a preconceitos de género musical ou estilo, remexer e “voltar a baralhar”, sempre com um foco muito especial: música para quem a ouve e não somente para quem a toca e compõe – a caldeirada tem de ser bem-feita, a começar pelo amor que se lhe dedica. Esta é desse tipo!

Sendo que todos vocês têm passagens por diferentes coletivos, que objetivos procuraram atingir?
O objetivo de um músico é quase sempre o mesmo: tocar para Gente, ser ouvido e apreciado, amplificar as emoções que ao vivo e em gravação são reveladas e minuciosamente trabalhadas, ser respeitado enquanto profissional de uma arte que é muito específica e ser feliz na abordagem ao mundo que nos rodeia, ou na perceção que temos dele. Um músico não é só um tocador, também tem uma responsabilidade social e, por vezes até política. Agrada-nos a ideia de motivar alguém a chorar ou a rir, a dançar freneticamente, tropeçar em si próprio, ou simplesmente a estar aqui connosco. A nossa música enaltece “pequenas coisas” que compõem a Humanidade, os pequenos gestos, as grandes revoluções pessoais – é esse o nosso desígnio.

O álbum homónimo está aí, como tem sido a sua receção?
A receção tem sido bastante calorosa. Há quem elogie logo após a primeira audição e há também quem nos diga que depois de várias audições “não consigo parar de ouvir…” No geral, é mais ou menos consensual que é um álbum atraente, que se pode ir ouvindo e não cansa. E isso deixa-nos bastante orgulhosos e cheios de vontade de continuar a tocá-lo ao vivo e claro, com foco nas novas composições.

De que forma decorreram os trabalhos de criação dos temas? Como é que as coisas funcionam dentro do trio? Suponho que não haja nenhuns limites quando se trata de compor…
Decorreram de uma forma bastante espontânea. Já existiam algumas ideias em gavetas, depois foram cozinhadas, arranjadas e rearranjadas pelo trio, muitas deram origem a canções com voz, outras apenas instrumentais. Todo esse processo foi muito gratificante e ensinou-nos a descobrir o nosso verdadeiro ADN.

Principalmente, de que forma cruzam todas as influências que aqui se podem ouvir?
Acima de tudo pela diversidade que o trio revela nas suas origens, experiências e vivências. Há um denominador comum que define a matriz, incluindo os convidados que emprestaram o seu talento a este álbum, como os La Miseria Deluxe, Miranda (Oquestrada), Bjoy e Carmen Susana Simões que está em vários temas com a sua voz inconfundível e muito especial. As influências são mais evidentes no processo criativo em que todos se encontraram “na mesma esquina do mar”.

Mesmo sendo difícil, como é que mais gostam de descrever a vossa sonoridade?
Para além de muitas outras descrições possíveis, costumamos apelidar de Rock Fadesco. Mas estamos disponíveis para outras ideias…

Por que razão os diferentes interlúdios têm números nos títulos?
Foi uma opção do nosso produtor, o Jorge Lopes Fernandes, a quem devemos em grande parte a estruturação do álbum, opções ao nível da captação, mix e masterização. Houve também a necessidade de fazer respirar o conjunto dos temas de uma forma mais orgânica. As faixas que têm por título números são lugares diferentes que servem de trampolim para a audição dos restantes.  

Mulata foi a escolha para vídeo. Porquê a razão desta escolha?
Nós já tínhamos feito um vídeo com um tema instrumental – Tarantina, que surgiu do convite ao cineasta Edgar Pêra. Ficámos encantados com a experiência! Rodámos algures entre a Costa, a Trafaria e o Ginjal (em Almada) numa perseguição com laivos de Zé Gato e Duarte e Companhia (quem não se lembra destas série dos 80’s) em que as mulheres têm um protagonismo muito especial, neste caso a Rute Hugmenow foi a actriz que nos azucrinou o juízo nessa perseguição gravada num dia cheio de peripécias, como convém. A Mulata foi uma opção mais focada na apresentação da banda ao grande público, com um tema que nos parece mais acessível e imediato, encarando-o como o nosso primeiro single. Neste caso foi a Bárbara Pimenta que nos emprestou o seu encanto. Desta vez foi o Elisiário Carvalho que realizou e também, na Tarantina filmou planos aéreos com drones. Para além de mestre no Windsurf, revelou-se também um excelente realizador.

Já tiveram a oportunidade de fazer várias apresentações ao vivo. Como tem resultado a vossa sonoridade em palco? Têm mais algumas apresentações previstas para proximamente?
É curioso o nosso percurso desde 2015, quando nos juntámos. Eu vinha com a vertigem dos grandes palcos com Oquestrada, as tours intermináveis no estrangeiro, quando me deparei com um prazer imenso de no início de Remexido voltar aos clubes e auditórios, feiras e afins e de sentir um extremo prazer de encontrar um público cuja respiração e presença são audíveis em palco. Eu, o João Dacosta e o Carlos Ribeiro encontrámos um espaço muito especial, que demos seguimento a posteriori em palcos e espaços maiores e com mais audiência. Isso fez-nos crescer e valorizar cada segundo em palco, tentando estar do outro lado, procurando o nosso público que, pelo que temos visto, não tem idade nem um estilo muito específico. Isso é fantástico e queremos mais! Quanto às próximas actuações, destacamos no dia 2 de fevereiro no Ferroviário em Santa Apolónia, 26 de março no Teatro Municipal da Guarda e 29 de abril no Teatro da Trindade. Estamos a agendar outras datas e a 2020 Tour de Remexido promete!

Obrigado! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Gostaríamos apenas de agradecer o facto de nos terem convidado e desejar um óptimo ano para toda a equipa da Via Nocturna. Abraço Pedro!

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