Com um sensacional passado ligado ao jazz, com trabalhos para orquestras de jazz,
big bands, álbuns a solo (nos formatos quarteto e quinteto), César
Cardoso resolveu abraçar o projeto de prestar tributo aos nomes que maior
influência tiveram no seu crescimento. Mas tributo não é, para o saxofonista, o
termo certo. Retribuição é a palavra que melhor descreve o que o músico sentiu
na criação deste disco. Como se depreende das suas palavras.
Olá César e obrigado pela
disponibilidade. Quando e porque surgiu a ideia de criar um álbum como Dice Of Tenors?
A ideia surgiu em
finais de 2018, depois de lançar o disco Interchange. Tive a ideia de
criar um disco diferente dos anteriores, com uma formação maior e com uma
complexidade de composição diferente do que tinha usado até então.
No teu disco acabas por referir que este
não é um tributo. É uma retribuição. O que pretendias afirmar com isso?
É uma retribuição do que me deram, da
importância que estes saxofonistas tiveram para o meu crescimento enquanto
músico e compositor, e quis com este disco dar visibilidade a saxofonistas que
me são especiais.
De que forma escolheste estes
compositores e não outros?
A escolha destes saxofonistas surgiu
naturalmente, foram saxofonistas que me influenciaram enquanto estudante. Foram
músicos que estudei e muitos dos temas que escolhi foram temas em que
transcrevi solos e onde tinha um conhecimento mais aprofundado de como eles, os
saxofonistas, interpretaram estes temas.
A tua experiência tem estado mais
orientada para quartetos e quintetos. O que procuraste obter com a utilização
de um ensemble de 8 elementos?
Na verdade, a minha experiência não está só
orientada para quartetos e quintetos, é verdade que os meus primeiros 3 discos
são nesse registo, mas tenho já uma grande experiência a escrever para big band, para a Orquestra
Jazz de Leiria e também para a Orquestra
Jazz do Hot Clube de Portugal.
Com este ensemble procurei ter uma formação intermédia entre o
quarteto/quinteto e a big
band. Gosto muito do grupo SF
Jazz Collective que tinha este tipo de formação e sempre tive
esta vontade de escrever para uma formação assim.
E como foi trabalhar com um naipe mais
alargado de músicos?
Foi mais difícil, a começar pela dificuldade
de conjugar agendas e disponibilidades de tantos músicos (somos 8 elementos) e
ainda por cima com vários músicos estrangeiros. Outra das dificuldades foi a
nível de escrita e composição dos temas. Nunca tinha escrito para este tipo de
formação, o que me obrigou a uma pesquisa grande, mas que, por outro lado, me
permitiu evoluir enquanto compositor.
Sei que para este disco utilizaste novas
abordagens e técnicas novas recentemente estudadas. Que abordagem foi essa?
Foi uma abordagem mais complexa a nível rítmico
e harmónico. Fruto do trabalho realizado com músicos estrangeiros, como os
casos de Miguel Zenón, Guillermo
Klein e John
Hollenbeck, levou-me a ver a composição de um ponto de vista
mais profundo. Procurei assim, criar uma nova ideia e visão, através de polirritmias,
modelações métricas e reharmonizações.
Quando partiste para o trabalho destes
seis temas standards do jazz, qual foi a
tua principal preocupação?
A minha maior preocupação foi o de tentar não
“destruir” os temas. Eu nunca tinha gravado a não ser originais, mas neste
disco com esta homenagem achei que fazia sentido escolher temas caraterísticos
de casa saxofonista. Ao fazer os arranjos, naturalmente que procurei criar algo
novo, como se um novo tema se tratasse, mas ao mesmo tempo tentando não perder
a essência do original nem o descaraterizando ao ponto de não ser reconhecível.
É um compromisso muito difícil, sobretudo quando se trata de temas que toda a
gente conhece e que ficaram celebrizados.
Este disco tem dois temas originais
teus. Foram composições criadas especificamente para Dice Of Tenors?
Sim, estes dois temas foram feitos para este
disco e para esta formação. Na verdade, foram os últimos temas do disco a serem
feitos, para tentar balançar o disco de modo a criar diversidade, fazendo temas
diferentes dos arranjos que já tinha feito de modo a tornar o disco mais
completo.
Para além deste disco estás atualmente a
trabalhar em mais algum projeto?
Neste momento estou focado sobretudo neste
projeto, que por si só já me ocupa muito tempo. Mas naturalmente que sendo
músico freelancer participo em muitos outros projetos entre grupos
pequenos e formações grandes como a Orquestra
Jazz de Leiria.
Há (ou já houve) possibilidade de
levares Dice Of Tenors para palco?
Já houve essa possibilidade para junho deste
ano, mas com esta pandemia do Covid infelizmente foi adiado para possivelmente
o próximo ano. A situação pandémica atual que vivemos tornou muito difícil
arranjar concertos e poder apresentar o disco em palco. Esperemos que passe depressa para podermos
voltar à normalidade e eu poder levar esta música a muitos locais.
Obrigado César! Queres acrescentar mais
alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?
Queria deixar os meus contactos para quem quiser fazer questões ou dar
opiniões sobre este disco. Podem fazê-lo através do:
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