Entrevista: Espiral


Nascidos em Ceuta, os Espiral completam este Verão, quinze anos de existência. Uma idade de rebeldia, de sonhos, de aventuras. Uma banda adolescente, constituída por elementos com idade já afastada da adolescência, mas onde tudo começou. Os Espiral, conhecidos em Portugal há dois anos, são já veteranos em Ceuta, dando os seus primeiros passos, em diversas bandas, nas décadas de 80 e 90. Com um som coerente e forte, praticam um heavy rock contagiante, que nos faz trautear em castelhano e abanar a cabeça ao ritmo da música. Com o seu quarto álbum, Cuando Vuelve El Sol, a ser lançado no dia 1 de junho, quisemos saber mais desta banda que tem conquistado fans portugueses pelas redes sociais. Estivemos à conversa com o baixista, Rogelio Pitalua, que nos falou do passado, presente e futuro dos Espiral.

Vamos começar pelo início: quem são os Espiral?
Espiral é uma banda espanhola de heavy rock, nascida na cidade de Ceuta, pelo ano de 2005, e é formada por Alberto Mateos, ex-Tharna, na voz, Luis Zapater, ex-Parking, na guitarra, Antonio Jurado, na bateria, José Luis Corrales, na guitarra e Rogelio Mateo, no baixo. Basicamente Espiral é um grupo de amigos que partilha a paixão pela música e esse é o segredo para estar ativa há tantos anos.

Os primeiros passos de Espiral, remontam ao projeto musical La Taberna de Moe, que gravou uma demo de 3 originais, cantados em inglês. Com a alteração de vocalista, surgem os Espiral, a cantar em espanhol. Porque não continuaram enquanto La Taberna de Moe, optando por mudar o nome e o idioma das canções?
La Taberna de Moe, surgiu como quarteto com bases muito próximas do hard rock, mas de facto, a demo está gravada com uma só guitarra.  A integração de um segundo guitarrista já supunha o endurecimento do som para algo mais heavy rock, mas a repentina saída do vocalista fez com que procurássemos um substituto apesar de nos mantermos a compor para La Taberna de Moe. Foi então, que a “casualidade” nos deu a oportunidade de incorporar Jorge como vocalista e com ele aconteceu a transição para Espiral. O primeiro planeamento foi adaptar os temas ao castelhano e fazer uma escolha de material de La Taberna de Moe.  Esta nova visão musical resgatou dois temas já compostos musicalmente, Sueño e Ante los Ojos de Dios, tendo sido adaptados à letra composta por Jorge. Descartámos o restante material de La Taberna de Moe.

E porquê o nome “Espiral”? O que significa?
Começávamos uma nova etapa e era necessário mudar, nascia outra banda. O passo seguinte foi mudar o nome da banda, o que não foi muito difícil. Levámos várias propostas para a sala de ensaios e com a convicção de que seria um nome curto, elegemos Espiral. Não foi idealizado com um significado em concreto, procurámos principalmente a sonoridade e que fosse um nome curto.

Apesar de os membros fundadores estarem ligados à música desde os anos 80, a banda surge na vossa idade adulta, quando já tinham uma carreira profissional, família constituída, filhos… o que é um pouco contrário ao que muitas das vezes acontece. A pergunta que coloco é: porquê nessa altura?
Como bem dizes, os três elementos fundadores de Espiral estiveram ativos durante a época de 80, mas por motivos profissionais e de estudos, permaneceram sem atividade musical, ou com muito pouca incidência. Foi já com a maturidade, que decidimos retomar a música, formar uma banda e recuperar essa ilusão de poder juntar um grupo de amigos e disfrutar da música, das composições, dos “ao vivo”, das gravações, etc… Já tínhamos outras facetas da vida estabilizadas e a música fazia-nos reviver os sonhos da juventude e a paixão de te sentires músico.

Este novo álbum surge seis anos depois de Cicatrices. Para além do novo vocalista, é também o primeiro álbum em que grava José Corrales, o mais recente guitarrista da banda. O que podemos esperar deste Cuando Vuelve El Sol?
Com este novo disco, pretendemos fixar as bases de uma nova Espiral, mais heavy rock, com a voz de Alberto, sem deixar de lado as contundentes guitarras de Pepe, fazendo a banda parecer fresca e poderosa ao mesmo tempo. Cuando Vuelve El Sol é um álbum que, para os nossos seguidores, vai soar diferente, não só pelo timbre da voz de Alberto, mas também pela nova sonoridade da banda com partes menos elaboradas e mais diretas. Os novos seguidores, encontrarão um álbum muito versátil, com matizes melódicos e encontrarão um álbum do qual, espero, nunca mais se esquecerão.

Cuando Vuelve El Sol é um álbum que faz a fusão entre o passado e o presente. É o encerramento de um ciclo, um renascimento ou uma ponte?
Não é o fim de um ciclo, mas antes um elo para um som mais cru e uma música mais direta temperada com influências de heavy rock clássico, sem desprestigiar em nada o som rude das nossas guitarras. Podíamos afirmar que, de certa forma, retomamos os cânones clássicos enquanto estrutura das composições, mas não em termos de som, que sempre soará a Espiral.

Nos últimos meses, o mundo viveu, e vive ainda, tempos complicados, sendo a música é um dos setores mais afetados. De que forma foi Espiral afetada por este tempo de confinamento?
Apesar do confinamento, a banda continuou a trabalhar no lançamento do álbum. Entendemos que era uma forma de manter a chama da ilusão de todos os nossos seguidores e, de alguma forma, também mostrarmos a nós próprios que a banda está preparada para retomar os ensaios e os concertos, logo que as autoridades o permitam.

São uma banda muito ativa nas redes sociais, onde mantêm um contacto próximo com os vossos fans. De que forma esse contacto foi importante neste período sem atividade musical?
É fundamental mostrar que estamos ativos nestes momentos tão incertos para a indústria da música. Ou estás ou te contaminas de negatividade. Os fans devem receber energia positiva através da tua música e serem envolvidos na sua banda.  O seu apoio é muito importante nestes momentos em que a atividade nas salas de ensaio e ao vivo está limitada. É uma forma de lhes comunicar que Espiral está ativa e ao mesmo tempo provocamos reações nas redes sociais que nos permitem continuar a trabalhar.

Como perspetivam as vossas atividades para o futuro próximo, uma vez que a normalidade que se retoma, não é a normalidade a que estávamos habituados?
O futuro próximo que a banda projetou, ou melhor, para o qual fomos forçados pela crise sanitária em Espanha, começa em 2021. A normalidade dos Estados irá ser recuperada paulatinamente, mas os espetáculos e os concertos temo que sejam os últimos a recuperar a normalidade. Só mais adiante desta normalidade é que podemos repensar, no nosso país, nos concertos de apresentação de Cuando Vuelve El Sol. De outra forma cairíamos no erro e no stress de não podermos cumprir com as expetativas criadas. Assim, o melhor é começar a trabalhar com foco no próximo ano.

Têm agendada a vossa vinda a Portugal, pela primeira vez, em outubro deste ano, onde irão partilhar o palco com algumas bandas portuguesas. Quais as vossas expetativas para esses dois concertos?
Sim, as datas previstas para Portugal ainda não foram alteradas e é para nós uma grande responsabilidade partilhar o palco com grandes bandas portuguesas. As nossas expetativas são elevadíssimas, queremos deixar a melhor imagem da banda ao vivo, perante um público que nos está acolhendo com muito apoio.  Curiosamente, Espiral apresentará o álbum em terras portuguesas antes de o fazer em terras espanholas, e será um agradecimento aos nossos irmãos de Portugal, que nos deram oportunidades que não vamos desperdiçar.

E como surgiu esta vossa relação com Portugal e com as bandas portuguesas?
A relação com Portugal surgiu na base da nossa participação como banda de abertura no concerto da banda portuguesa Attick Demons, organizado pela Associação Séptimo Infierno, no final de 2018, em Ceuta. Daí surgiu o contacto com uma nossa amiga portuguesa, que nos fez uma entrevista e através dela surgiu a possibilidade de contactar outras bandas portuguesas e fazer dois concertos: um em Ceuta com os Gwydion e os Enchantya, de Portugal e os Inferno, de Ceuta, e o outro em Portugal. Esta nossa amiga converteu-se na sexta Espiral, é uma joia, um tesouro de pessoa.  Temos uma relação muito próxima e ela está a apoiar a promoção da banda, não só em Portugal, mas também noutros países. E é mais que justo que aqui mostremos todo o nosso agradecimento, por todo o seu trabalho, dedicação e apoio aos Espiral.

Desde os anos 80 que se assiste ao nascimento de bandas muito fortes em Ceuta, mas que têm imensa dificuldade em ser conhecidas fora da região. Se nas décadas de 80 e 90, ser conhecido implicava sair fisicamente da cidade, hoje em dia, com a proliferação das redes sociais, esse caminho está mais facilitado. O que acham que falta para que o rock e o metal de Ceuta quebrem as fronteiras impostas pela localização geográfica?
Ceuta sempre foi berço de grandes bandas e continua tendo bandas de elevado nível.  Mas como no passado, ainda temos a limitação do transporte de ferry, o que torna todas as despesas de viagem mais caras e isso faz com que as bandas sejam menos acessíveis aos promotores. Sem dúvida, as redes sociais fizeram muito bem a difusão das bandas, mas em Ceuta continuamos com um lastro histórico, o Estreito de Gibraltar.

Quinze anos e quatro álbuns autoeditados, é muita vida, muita música…. Qual o balanço que fazem?
Quando falas de música e o fazes da perspetiva de uma banda veterana como Espiral, o balanço é sempre positivo.  Existem muitas experiências positivas em torno de uma banda como a nossa. Sem nos dedicarmos profissionalmente à música, podemos oferecer música que pode estar frente a frente com álbuns profissionais. Espiral dá-nos emoções e descobrimos que, sermos “donos” de todo o processo musical e vermos o nosso álbum na rua, é reconfortante. Vês que nele estão muitos sonhos, muita dedicação empregue, por satisfação pessoal. Ver a carrinha chegar, abrir as embalagens ...  “Já temos aqui o álbum!” São momentos que só se têm numa banda autoeditada, e uma delas é Espiral.

Para terminar, que mensagem gostariam de deixar aos vossos fans em geral e a Portugal, em especial?
Em primeiro lugar, agradecemos o seu apoio a Espiral e por nos darem a oportunidade de seguirmos desenhando canções com a alma. E em segundo lugar queremos dizer a cada um dos nossos seguidores que, apesar das circunstâncias, está num grande momento e que regressaremos aos palcos logo que seja possível. Pedir-lhes um último esforço, que o seu confinamento não seja um peso, mas sim uma rampa que lance o nosso novo álbum Cuando Vuelve El Sol. Para os nossos seguidores em Portugal, acrescentamos que estamos muito deslumbrados com o acolhimento que temos aí e que muito em breve nos veremos por lá, apresentando o novo álbum.
[Entrevista: Rosa Soares]

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