Entrevista: Stones Of Babylon

De Lisboa surgem os Stones Of Babylon que com o seu primeiro longa-duração, Hanging Gardens, mostram argumentos para se começar a olhar para eles. São 50 minutos de música divididos por cinco longos temas instrumentais de proporções bíblicas e riffs massivos. Pedro Branco e João Medeiros foram os nossos interlocutores nesta conversa para conhecer melhor o projeto e o álbum. 

 

Olá pessoal! Aí está a vosso regresso, embora possa ser considerada a estreia em termos de álbum. Que sentimentos vos dominaram com o lançamento de Hanging Gardens?

Pedro Branco (PB): Boas, sim como álbum é o nosso primeiro. O sentimento é de termos tentado fazer um trabalho com qualidade, com pés e cabeça e seguindo um conceito próprio deste projeto, que tem uma componente histórica e geográfica clara a que tentamos aliar um lado musical, sónico, que depois as pessoas consigam viajar a este mundo, das primeiras civilizações, dos mitos e da atmosfera entre o deserto e o crescente fértil.

João Medeiros (JM): É gratificante quando se consegue concretizar algo que sai de nós próprios e conseguir transmitir a nossa energia e emoções a quem ouve o álbum. Sentimos sempre que não foi um tempo perdido e que nos dá ainda mais força para mais trabalhos independentemente dos obstáculos a transpor.

 

Antes de irmos a Hanging Gardens, centremo-nos nos Stones Of Babylon. Quando nasceram, com que intenções e objetivos?

PB: Os SOB nasceram no outono de 2017, e a ideia era explorar a vertente instrumental dentro do universo do stoner psicadélico e do doom, pegando na tal inspiração histórica do médio e próximo oriente e tentando misturar com alguma sonoridade arábica. Sendo que a ideia era tocar, criar um reportório e como todos os projetos, gravar, tocar ao vivo e mostrar a nossa visão e criação.

JM: Eu entrei para a banda um ano depois, em 2018, mas desde o início que me identificava com a sua sonoridade a qual já vinha a explorar noutros projetos.

 

Todos vocês já tinham tido experiências musicais relevantes noutros projetos ou não?

PB: Nesta área musical, foi a primeira incursão, mas toquei anteriormente nos Albert Fish (1995-1998/99), Pragma (2001-2003), Clockwork Boys (2005-2011), Legion Of The Sadists (Ex-Sadists de 2010 a 2012), Supporting (2014- ), Baltik Porter (2016 - ), Atomkrig (2016-2019).

JM: Sim, pessoalmente já ando nisto desde a década de oitenta e desde então tenho tido várias bandas e projetos dentro do underground nacional. Em 2007 fundei os Acid Lizard, mais tarde Superflares e antes de entrar para SOB estava a formar os Moontruckers que tiveram uma morte prematura.

 

Se vos perguntasse quais as principais referências musicais para os Stones Of Babylon, o que me responderiam?

PB: Ao nível específico da banda em si, nomes como Black Sabbath, Sleep, OM são incontornáveis e os mais evidentes, mas penso que cada um depois tem as suas influências pessoais que acaba por trazer para o grupo, mesmo sendo sonoridades fora do cenário Stoner Doom.

JM: Todos nós temos um gosto musical bastante eclético, onde nalguns pontos se tocam e SOB é o resultado disso mesmo, na forma como os temas surgem e que todos nós compreendemos musicalmente.

 

Quando partiram para a composição de Hanging Gardens, quais eram as vossas ambições?

PB: Tentar que o trabalho que vínhamos desenvolvendo nos ensaios e nos concertos pudesse ser concretizado numa boa gravação, que pudesse captar o espírito e o conceito da banda e das composições.

JM:  A nossa única ambição é levarmos o nosso trabalho o mais longe possível e sentir que quem nos ouve consegue entender a nossa mensagem.

 

E sentem que conseguiram atingir esses desideratos?

PB: Creio que sim, obviamente que se fosse hoje provavelmente teríamos efetuado algumas mudanças, mas poucas, pormenores, mas no todo penso que conseguimos chegar onde queríamos, e o feed back que temos tido atesta isso, com boas reviews e principalmente nessas reviews percebemos que em geral quem ouve percebe o conceito e deixa-se levar na viagem.

JM: O álbum tem sido muito bem aceite dentro deste pequeno mundo, o que para nós é gratificante sentir que as pessoas estão recetivas à nossa sonoridade.

 

O álbum tem apenas cinco temas… mas com quase 50 minutos de música. O aspeto da improvisação é importante para a banda?

JM: A improvisação é por si só um modo de trabalho, não de todo, o modo de construção das nossas músicas no geral, mas por vezes pode surgir algo que depois de trabalhado ganha o corpo e a alma que nos caracteriza.

PB: Exato. Há temas que surgiram de improvisações, mas é uma “ferramenta”, tal como a criação pessoal, funciona muitas vezes como um desbloqueador de ideias, sendo que ao vivo, temos sempre um espaço aqui e ali para alguma improvisação, mas relativamente “controlada”.

 

E sempre de forma instrumental. Alguma vez ponderaram colocar voz nos temas ou não? E porquê?

PB: Na génese a ideia foi ser um projeto instrumental, e sabemos que ser instrumental tem sempre muitos desgostosos, que preferem bandas com vocalizações. Há quem nos tenha pedido, outros sugerido, a introdução de voz aqui e ali, mas por ora não temos essa possibilidade nos horizontes, mas obviamente não negamos à partida um futuro que desconhecemos.

JM: Penso que no formato de SOB a voz não é essencial, a ausência dela torna a sonoridade instrumental mais intensa e acaba também por prender mais as pessoas e levá-las nesta nossa viagem.

 

Entretanto, já depois do lançamento do álbum, Pawel Nowak cedeu o seu lugar a Rui Belchior. O que se passou?

PB: Passou-se a vida, isto é, o Pawel Nowak, sendo ele já um emigrante aqui (apesar de radicado já uns 4/5 anos), decidiu abraçar uma nova aventura laboral e emigrou para o Reino Unido, o que impossibilitou a sua continuação física connosco, mas continuamos amigos e falamos ocasionalmente. Porém, tivemos de procurar um novo guitarrista, sendo que dessa procura, entre as várias respostas que tivemos, optámos pelo Rui Belchior, que é um excelente guitarrista e ser humano também.

JM: Não foi um processo fácil. Este tipo de música não tem muitos aficionados, mas depois de umas quantas audições e um pouco de sorte conseguimos alguém que soube agarrar bem no conceito da banda e que se mostrou à altura de substituir o Pawel.

 

Projetos para o futuro, nomeadamente para o período pós-pandemia?

JM: Trabalhar novos temas, gravar e dar concertos, no fundo aquilo que qualquer banda e músico deseja.

PB: Sim, basicamente dar continuidade ao projeto, tocar, criar, editar e dar os nossos frutos sónicos ao mundo, tocar para nós próprios é terapêutico, mas tocar para o mundo é libertador.

 

Obrigado. Querem acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?

PB: Queremos agradecer-te pela entrevista e pela divulgação que fazes, e para o mundo desejamos muita saúde, que saibamos viver com inteligência e sem medo, tentando adaptar-nos ao que nos rodeia, e continuando a criar, a ouvir música, a viver!

JM: Obrigado pela iniciativa e pela oportunidade na divulgação do nosso trabalho e desejamos o maior sucesso para todos os que fazem parte do mundo da música e do underground em particular. Todos juntos somos mais fortes.

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