Reviews: Junho (II)

Goodbyes To Forever (HELLRIDE)

(2020, Fastball Music)

Os Hellride são pioneiros do acoustic metal, mas pelos vistos as coisas não têm sido muito bem aceites. O trio (duas guitarras acústicas e voz) nasceu em 2010, lançou o primeiro álbum em 2013, Acousticalized, entrou num hiato e agora despede-se, em 2020, com o segundo e último disco – Goodbyes To Forever. Claro que estamos habituados a que no mundo da música, muitas das despedidas sejam apenas um até já, mas ouvindo Goodbyes To Forever percebe-se o porque da banda querer por um ponto final na carreira. Afinal, a ideia até parecia ser boa: fazer metal com apenas guitarras acústicas já deve ter passado pela cabeça de muita gente, mas nunca ninguém o tentou a sério, limitando-se a umas quantas versões com a energia desligada. Os Hellride resolveram avançar. Mas as suas boas ideias esbarram numa série de imprecisões e carências. De tal forma que o melhor tema de Goodbyes To Forever é… uma versão de Rod Stewart. OK, Air Supremacy, tema que encerra o disco, também é bom, mas tudo o resto, embora soando um pouco a Iced Earth, é chato e confuso. [65%]

 


On Ghastly Shores Lays The Wreckage Of Our Lore (OLD CORPSE ROAD)

(Trollzorn Records)

Poder-se-á afirmar que a vertente claramente britânica de fazer black metal continua bem entregue. Se os Cradle Of Filth já não contam e os Bal-Sagoth se mantêm em pausa, sobra tempo e espaço para outras bandas tentarem ocupar os seus lugares. Uns podem ser os A Forest Of Stars, mas o mais sonante nome serão os Old Corpse Road. A banda nasceu em 2007 e herda os nomes infinitamente grande dos citados Bal-Sagoth, sendo que On Ghastly Shores Lays The Wreckage Of Our Lore é o seu terceiro registo em formato longa-duração. Mas também herda muito do legado de fazer um black metal diferente que sempre foi caraterístico dos britânicos. Este disco vem cheio de melodias góticas, melodrama vitoriano e frequente recurso a momentos diferenciados (quer no instrumental, onde os elementos acústicos se sucedem, quer nos vocais, com o uso de registos de todos os tipos) e melódicos em contrapeso com as estruturas extremas. E carrega paisagens que mais que blackmetallers são teatrais e épicas e vêm diretamente de influências como Bathory. Ou seja, e voltando ao tema inicial – black metal tipicamente inglês com um caráter próprio e único. [72%]

 


SoCal Split (V/A)

(2017, Awfully Good Records)

SoCal Split é o disco que serve para apresentar 4 bandas da Awfully Good Records. No total são 20 temas equitativamente distribuídos, o que perfaz a média de cinco temas por banda. Abrem as hostilidades os Firing All Cylinders, banda de Los Angeles que se inspira em bandas como AC/DC e Black Sabbath, dizem eles. Mas enganam-se e enganam toda a gente, porque a sua zona é um metal moderno cheio de groove e que se aproxima dos Avenged Sevenfold (sem a sua capacidade melódica), dos System Of A Down (sem a sua genialidade) e dos Korn (aqui sim, com a sua desmesurada brutalidade). Um coletivo com pouco a oferecer, mas onde deve ser dado destaque ao trabalho da guitarra, se bem que um tema como Lost In The Sound deixe no ar uma perspetiva de evolução. Seguem-se os The Sex Tape Scandal que, num registo bastante melhor, mostram, no entanto, que ainda não definiram por onde querem ir. A sua base de glam rock inspirado no movimento californiano dos anos 80 apresentada nos dois primeiros temas (Bad Girl poderia ter sido escrita por David Lee Roth!) não se enquadra minimamente com o metal moderno e agressivo, a roçar o metalcore, dos restantes três (até nos questionamos se estaríamos, realmente, a ouvir a mesma banda). Seria importante definirem-se. Continuando a subir no interesse e na qualidade, os Desolate The Few trazem-nos uma abordagem já tantas vezes ouvidas, de um punk rock/metal juvenil – Offspring, Green Day, Sum 41 e afins – mas, ainda assim, com algum conteúdo sendo capazes de atrair pela sua postura descomprometida, melodias diretas e boas dinâmicas criadas pela secção rítmica, sendo que por vezes evoluem para algo substancialmente mais agressivo. As hostilidades fecham com os From Zero 2 Hero, uma banda de rock/post hardcore/punk, onde a energia marca presença. Mas um tema como Villain, por exemplo, mostra que o empenho na construção dos temas é, também, tão ou mais importante que as descargas de adrenalina e berraria. [72%]

 


Requiem (Live At Roadburn 2019) (TRIPTYKON)

(2020, Century Media Records)

Quando Tom G. Warrior deixou os Celtic Frost em 2008 formou os Triptykon. E uma das suas ideias sempre foi terminar a trilogia Requiem que originalmente tinha começado em 1986 e cuja primeira parte tinha surgido no álbum Into The Pandemonium. Um tópico que voltou à mesa da discussão, quando Tom Warrior e Martin Eric Ain recuperaram os Celtic Frost em 2001. E, imediatamente, se se começou a trabalhar naquela que viria a ser a terceira parte e que viria a ser incluída no álbum Monotheist. Com a segunda morte dos Celtic Frost, em 2008, volta a ficar a obra incompleta. E foi só em 2018, trinta anos depois, quando Walter Hoeijmakers, do Roadburn Festival, contactou os Triptykon para oferecer a o seu apoio à conclusão do projeto Requiem, que Warrior começou a trabalhar na terceira parte (que seria a segunda em termos de apresentação), Grave Eternal. Tom G. Warrior pode, então, finalmente descansar em paz, com a sua mais obra grandiosa completa. Já não foi executada pelos Celtic Frost (banda que apresentou as partes 1 – Rex Irae - e 3 – Winter), mas pelos Triptykon e com a sublime ajuda da Metropole Orkest. Esta é, pois, uma obra que durou trinta anos a ser concluída e que mostra o mais fino avant-gard metal, cheio de experimentalismo e onde a orquestra desempenha um papel importante na definição das texturas e de todas as ambiências, mais ou menos densas, mais ou menos obscuras, mais ou menos experimentais. [71%]

 


Phase Three (DEVICIOUS)

(2020, Metalapolis)

Não há uma sem duas, nem duas sem três! Em três anos consecutivos os DeVicious lançam álbuns. Este Phase Three é o terceiro trabalho seguido e acentua o que já tínhamos referido em relação a Reflections. A banda não tem qualquer estratégia e tudo que compõe grava. E, posteriormente, tudo o que grava, lança. Resultado – em Phase Three volta a notar-se tudo feito à pressa, sem tempo para as canções se desenvolverem e claramente a mostrar uma face de saturação e de ser tudo feito de forma muito forçada. Mas, entre tantos lugares-comuns e banalidades, chamamos a atenção para os temas Walk Through Fire, You Can’t Stop Now e, principalmente, Bad Timing (curiosamente a faixa bónus), que conseguem apresentar algo mais elaborado. O que é certo é este tema final, o melhor do disco, diz tudo quanto a este Phase Three – uma má altura para ser lançado, sendo que a banda juntava estes três temas a outros tantos de Reflections e, com mais um esforço, estaria agora a lançar o seu segundo álbum sem estas críticas negativas. Até porque o coletivo já demonstrou com Never Say Never que sabe como criar boas malhas. [64%]

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