Entrevista: Nameless Theory

Ghosts e, ainda antes, 2013, foram os dois EP’s que mostraram ao mundo os Nameless Theory. A partir daí foi trabalhar no primeiro longa-duração, Into The Void, que demorou cinco anos a construir. E que saiu, precisamente, na altura em que a Covid-19 se abateu sobre nós. Mas, como nos refere o baixista Márcio Júnior, desistir não faz parte do vocabulário da banda, pelo que haverá novidades para breve. Novidades que, pelo que se depreende desta entrevista, passarão por mais vídeos e por um novo álbum.

 

Olá Márcio! Depois de dois EP’s, de que forma estão a viver o lançamento do vosso primeiro longa-duração após uma carreira com cerca de sete anos de existência?

Na realidade ainda não tivemos tempo de divulgar este álbum como gostaríamos, a data de lançamento do álbum deu-se um mês antes de entrarmos em estado de emergência, o que nos impediu, de certa forma, de conseguir uma divulgação “ao vivo” como esperado e ambicionado por todos, para o qual todos os elementos da banda trabalharam. No entanto tem sido muito bom ler todas as críticas e mesmo esse mês de concertos que demos foi dos melhores meses que já tivemos enquanto banda. Ter o CD na mão e olhar para ele como uma obra que criámos também é uma ótima sensação, mas realmente ficou-nos aquele sabor agridoce com tudo o que surgiu depois.

 

Precisamente, a altura acabou por não ser a ideal, porque sai o álbum e passados poucos dias surge a pandemia. Sentem que isso vos afetou de forma negativa ou não?

Este seria o momento em que nos iríamos sentir mais à vontade, em cima de um palco. Por outro lado, este tem sido um período em que nos dedicámos à parte criativa o que nos permitiu antecipar o que iríamos fazer depois de uma tour de lançamento. Claro que este é o ponto positivo, a parte negativa foi mesmo o não conseguir estar em palco, afinal é disso que esta banda se alimenta.

 

Mas, indo um pouco atrás, o que vos motivou a criar esta banda, depois das experiências anteriores de alguns dos membros?

Esta banda nasce de um projeto concebido e construído de um projeto em paralelo de que fazia parte o André, o Júnior e o Pedro, no qual trabalhavam para lançar um EP. Durante as gravações, existiram divergências que não permitiram a conclusão da gravação, tendo sido convidado o Igor a assumir a bateria. Neste contexto foi-lhe dada a liberdade criativa para reformular a componente musical, mais precisamente em termos rítmicos, afinal esta já é a prática da banda, todos temos voz para acrescentar e influenciar a progressão criativa. Assim surgiu o EP 2013, talvez tenha sido este o ano que fez catapultar a nossa banda, sendo que os dois que se seguiram foram os anos que mais vezes pisamos o palco. Ao mesmo tempo estávamos a preparar o EP Ghosts. Depois deste EP o nosso foco passou a ser o conceito de banda, até porque a vida pessoal de cada um não permitia que o tempo dedicado à banda fosse o mesmo.

 

Soubemos que houve alguns pequenos problemas durante o processo de gravação. O que se passou exatamente?

Na verdade as gravações em si não tiveram problemas, o que aconteceu foi o que tem acontecido desde sempre na banda que é não fazermos disto profissão, ou seja, existiram alturas que ou por motivos profissionais ou por motivos pessoais e de saúde que a disponibilidade que gostaríamos de ter para a banda não existiu e isso acabou por acontecer durante as gravações, os chamados imprevistos. Por isso é que na nossa opinião é muito importante estarmos todos alinhados na visão que temos para a banda e também termos amizade muito forte que nos permite compreender estas situações a apoiarmo-nos mutuamente, porque a verdade é que gostaríamos de ter terminado este processo de gravação mais cedo, mas não foi possível. No entanto estamos bastante satisfeitos com os resultados obtidos. Fuck, o álbum tá genius!

 

A captação foi nos Ultrasound Studios, não foi? O que esteve na origem da vossa escolha?

Bem, em primeiro lugar queríamos gravar com uma pessoa de confiança, nomeadamente o Igor Azougado (Shivers), que nos ajudou desde o início e continua a ajudar. Daí a escolha natural ter sido o Ultrasound Studios, do qual faz parte o Igor Azougado.

 

Quando partiram para a composição de Into The Void, quais eram as vossas ambições?

Quando partimos para a ideia do álbum já tínhamos uma série de músicas que foram sendo compostas ao longo dos anos. Depois adicionámos algumas músicas, que já faziam parte dos EP`s anteriores (Slipping, Illumination, Oblivion e Ghosts), no entanto quem as comparar irá reparar que não são iguais pois estas músicas cresceram connosco ao longo do tempo e, como tal, tinham de estar presentes neste álbum. Um dos melhores exemplos é a Inside que abre o álbum e foi das primeiras músicas que fizemos juntos, mas que, no entanto, nunca tinha ido parar a um EP.

 

E sentem que essas ambições e objetivos foram plenamente atingidos?

Pessoalmente sentimo-nos muito satisfeitos. Ter o CD na mão, folhear o booklet, ouvir as nossas criações… É um sentimento de satisfação, orgulho e missão cumprida. É um legado que vamos mostrar aos nossos filhos. Só por isso já podemos considerar que este CD foi positivo. No entanto dada a conjuntura atual temos também um sentimento de que foi uma oportunidade perdida e que obviamente não conseguimos chegar a tantas pessoas quanto o gostaríamos de ter feito. Sentimos que temos muito para dar, principalmente ao vivo e agora não sabemos bem como recomeçar. Mas desistir não faz parte do nosso dicionário por isso já estamos a preparar algumas novidades para um futuro próximo.

 

Em termos líricos nota-se que as vossas letras não têm a estrutura convencional das letras de canção. Querem falar sobre isso, explicando de que se trata e qual o conceito lírico abordado?

Desde o início em que começámos a compor as músicas quem trouxe letras para a mesa foi sempre o Pedro (vocalista), digamos que foi assim que naturalmente que nos organizámos. E o que acontece é que a forma como compomos privilegia sempre primeiro a música e só depois a letra, o Pedro vai mandando umas postas de pescada para o ar enquanto estamos a trabalhar na música só para criar uma melodia e depois quando sentimos que a música está concluída ele trabalha numa letra final por cima da melodia que foi sendo criada. Por isso é normal que a estrutura vá variando, depende da música e até mesmo pelas influências prog dele, pois ele tenta sempre abordar a voz pensando em algo fora da caixa e que faça uma fusão de géneros, alternando entre uma abordagem mais rítmica, agressiva ou melódica consoante o que a música e a letra exigem. Em termos de conceito não podemos dizer que este seja um álbum conceptual. É um álbum que reúne as melhores músicas que fomos compondo nos 7 anos (e meio) que temos enquanto banda e as letras durante esse período (maior parte das vezes conturbado) foram sendo criadas com base nessas emoções. Portanto existe um “tema” comum entre elas que são as emoções e estados de espírito particularmente o lidar com ansiedade, depressão, frustração e tristeza. Mas não podemos dizer que elas tenham surgido de uma situação específica, mas antes sobre vivências da vida.

 

A COVID-19 adiou todos os eventos, portanto agora será prematuro falar de concertos, mas o que podem prometer os Nameless Theory quando tudo isto passar?

Podemos prometer aquilo que sempre demos que foi uma total entrega em tudo o que fazemos, seja num palco futuro, em composições ou videoclips. Nós fazemos isto precisamente por termos um gosto enorme, por sermos amigos e por acharmos que podemos marcar pela diferença. De uma forma mais prática vamos querer lançar pelo menos mais 2 videoclips deste álbum, um deles certamente sairá ainda este ano talvez lá mais para setembro. E de facto este tempo todo parado deu-nos muitas ideias por isso, entretanto já estamos a compor música nova, ou seja, é provável que um segundo álbum exista no final de 2021/início de 2022 uma vez que gostaríamos de promover um pouco mais o Into the Void assim que esta pandemia nos permita voltar aos concertos.

 

Obrigado Márcio. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?

Queríamos só mesmo agradecer mais uma vez pelo convite e pelo interesse em promoverem o nosso trabalho, estas oportunidades dão-nos força e fazem-nos sentir que todas as horas que investimos nisto e os cabelos brancos que ganhámos valeram a pena, por isso um grande abraço para vós e para quem lê o vosso trabalho contribuindo assim para o desenvolvimento do Underground

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