Entrevista: Room Experience


Depois da sua experiência em nome próprio, Gianluca Firmo volta a trabalhar com David Readman nos Room Experience. O segundo disco do colectivo transalpino surge em plena pandemia e o próprio título procura uma fuga para estes tempos de crise – Another Time And Space. Menos de dois anos depois, voltamos a conversar com Gianluca Firmo, agora focados neste disco e na transição desde Rehab.

 

Olá Gianluca! Como estás nestes tempos de Covid?

Olá Pedro! Prazer em encontrar-te mais uma vez! Acima de tudo, estou indo bem... passamos por alguns dias muito difíceis aqui na Itália e principalmente na minha região, e ainda nem podemos dizer que estamos de volta à normalidade, vamos devagar nessa direção ou pelo menos aprendendo a viver de uma nova maneira. Mas acho que, de alguma forma, é o mesmo em todos os lugares. Além disso, quando for velho, poderei dizer aos meus netos que lancei um disco no meio de um evento pandémico.

 

Há pouco tempo, conversamos a respeito do teu projeto pessoal Firmo. E como na altura referiste, um novo álbum de Room Experience seria lançado. Another Time And Place é o vosso segundo lançamento, certo? O que nos podes dizer sobre todo o processo de criação e gravação deste novo álbum?

Bem... para mim, a primeira parte do processo criativo não muda muito porque ainda sou o único a escrever as músicas e sou uma pessoa muito intuitiva quando se trata de música. Todo o trabalho é apenas para manter e melhorar a sensação “instintiva” que uma música me dá quando nasce na minha mente. O que muda em relação a Firmo é que aqui o cantor é David Readman, pelo que todos os arranjos são feitos com o foco na sua voz peculiar e poderosa, que é bem diferente da minha. Outra diferença é que quando eu escrevo uma música, na realidade não presto atenção ao seu estilo: eu vou bem com rock, hard rock, AOR, pop rock, country... e se for um disco de Firmo, serás capaz para distinguir todas essas influências com bastante clareza. Ao contrário, Room Experience é fortemente orientado para o AOR, isto é, tenho que trabalhar ombro a ombro com Davide Barbieri e Pierpaolo Monti para “renderizar” todas as músicas do disco nesse estilo, mesmo aquelas que na minha mente nasceram como pop-rock. Acontece muitas vezes que o que escrevi como balada tornar-se um tema rock… ou o contrário.

 

Naturalmente existem diferenças entre os dois projetos, como referiste na última entrevista e como acentuaste agora. Mas como o Another Time And Place aparece depois do Rehab, tentaste misturar algumas influências do projeto Firmo?

Sabes como dizem: tu vives, tu aprendes. E é o mesmo na música. Acho que qualquer disco é peculiar e precisa ter uma identidade própria, portanto, esse é o meu esforço. Mas o meu primeiro lançamento profissional foi o álbum de estreia dos Room Experience em 2015. E trabalhando nesse álbum com David, Dave, Zorro e todos os músicos incríveis que participaram do projeto, aprendi coisas novas e surgiram novas perspetivas que apliquei quando trabalhei em Firmo, há 2 anos. Por outro lado, também trabalhando em Firmo, aprendi mais coisas com os meus outros colegas da banda. E tudo o que aprendi ali veio para Another Time And Place. Tenho a certeza que podes encontrar algumas influências, aqui e ali. Algumas são desejadas, outras não. No final das contas, tudo na vida é... EXPERIÊNCIA. (risos)!

 

Pelo menos, uma coisa deixou em ti - a vontade de cantar, como podemos ver na faixa bónus...

Oh sim. Desculpa por isso (risos). Adoro cantar e principalmente cantar as músicas que escrevo, porque sei exatamente como quero que sejam cantadas. Divirto-me a sério. Mas tu irias correr e esconderes-te se ouvisses algumas das minhas demos para este novo álbum: o problema é que nenhuma voz se encaixa em todas as músicas e especialmente quando uma música atinge notas muito altas, tenho que dar um passo atrás e deixar um cantor de verdade fazer o trabalho. Quando o cantor é incrível como David, recuar é um pouco menos difícil e posso relaxar e desfrutar. Também acho que David fez um trabalho incrível neste álbum: dá uma olhadela em todos os tons da sua voz ao longo do álbum. Tanta classe e tanto talento. A faixa bónus, de qualquer maneira, encaixa-se no meu tipo de voz e gostei de a ter cantado sozinho.

 

Este é mais um grande álbum de rock melódico com toda elegância da escola italiana do estilo. Achas, no entanto, que a covid influenciou a forma como chegou aos teus fãs? Sentiste isso?

Obrigado por isso. E obrigado por falares sobre uma “escola italiana”. Acho que o rocker italiano ganhou muita personalidade ao longo dos anos e estamos diante de uma grande leva de bandas vindas do nosso país. Houve muitas também no passado, mas a minha sensação é que estavam a tentar muito soar como americanas, ou inglesas ou suecas, enquanto cada país deveria ter sua própria marca registada num estilo. Quero dizer... se ouvires bandas de rock americanas, elas não soam como suecas, mas ambas fazem um rock incrível e reconhecível. E assim é agora na Itália. E isso deixa-me orgulhoso. Desculpa, isso afastou-me da questão principal sobre como a covid influenciou o lançamento. Não sei nada ainda sobre as vendas, mesmo que o álbum esteja a receber muitas críticas positivas em todo o mundo e as pessoas estejam entusiasmadas com isso, mas tenho quase a certeza que esta merda da Covid terá uma influência nisso: muitos trabalhadores estão a ser afetados pela crise que vem com os confinamentos e quando ganhas menos dinheiro, primeiro pensas nas principais necessidades: comprar discos não é uma questão de sobrevivência, portanto as pessoas que têm menos dinheiro para gastar comprarão menos discos. MAS... de uma forma positiva, o confinamento forçou todos a ficar em suas casas e manteve todos longe dos espetáculos ao vivo, pelo que pode ser esse o momento em que as pessoas puderam ouvir muito mais música, levando todo o tempo de que precisam para isso. Isso faz-me esperar por uma nova geração de ouvintes. Eu sou sempre uma pessoa positiva e tento sempre encontrar a luz no escuro.

 

Quer a formação da banda, quer os convidados são todos elementos bem conhecidos. De qualquer forma, qual foi a tua intenção ao convidá-los para este álbum?

Como disse antes, acho que qualquer álbum precisa ser peculiar e ter a sua identidade própria. Para chegar a esse tipo de resultado tens duas opções: ser uma banda tão unida que tudo o que fazes é único; ou podes ter uma banda sólida composta por músicos talentosos e inserir outros convidados talentosos que dão à música um toque muito pessoal, apimentando-a e levando-a para o próximo nível. Ambas as opções têm prós e contras, mas como estamos a tocar um estilo que há anos atrás deixou de ser inovador, acho que ter convidados tão talentosos torna a música uma experiência melhor, com mais tons e mais detalhes.

 

Como de desenrolou o teu trabalho com o David Readman? Sempre remotamente ou trabalharam cara a cara?

Encontramo-nos cara a cara em algumas ocasiões, é claro. Como quando filmamos o vídeo de Hear Another Song aqui na minha cidade natal. Mas, na maioria das vezes, foi um trabalho remoto. Ele tem o seu próprio estúdio onde mora e grava lá as suas peças. Estamos sempre em contacto próximo para qualquer necessidade (como, por exemplo, se eu precisar mudar alguma letra ou se eu gostar de ouvir algo especial numa determinada parte da música) ou para confrontar coisas que podem ser melhoradas em qualquer parte do processo de produção. Mas como já trabalhamos juntos, realmente entendemo-nos com um piscar de olhos. Ele é realmente uma ótima pessoa, não apenas um super cantor.

 

Deste álbum foi feita uma edição muito personalizada limitada a apenas 30 cópias. Em que consiste e qual foi a intenção?

A intenção é apenas dar ao colecionador algo muito especial. Não há faixas bónus ou diferenças relacionadas com a música. Mas tem uma slipcase feita à mão (portanto, cada uma é diferente, porque é artesanal), cada cópia é numerada e vem com um "certificado de autenticidade" assinado pelo dono da editora e com o nome do comprador. É realmente um produto pessoal e, como diria um colecionador amigo meu, é essencial. Acho que num momento em que o CD está a perder a liderança para downloads digitais e serviços de streaming, na Burning Minds eles tiveram uma ótima ideia de dar às pessoas um motivo para comprar o CD. Porque estás a comprar algo que nenhum serviço digital jamais te dará.

 

Muito obrigado, Gianluca! Queres acrescentar algo mais ou deixar uma mensagem?

Aproveito para te agradecer Pedro pela tua gentileza e palavras agradáveis e agradecer a todos os leitores e todos os fãs pelo apoio. E vou embora deixando o desejo de que, assim que o mundo voltar à sua normalidade, todos nós tenhamos a oportunidade de nos encontrarmos em outro tempo e lugar.


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