Entrevista: Raven Black Night


Sete anos após Barbarian Winter os australianos Jim Petkoff e Rino Amor regressam aos discos com Run With The Raven. O álbum que saiu no final do mês passado volta a cruzar epic, doom e heavy metal, mas mostra que o coletivo está mais audaz nas suas composições. E, curiosamente, num disco que até era para ser apenas uma demo. Foi o guitarrista e vocalista Jim Pektoff que nos acompanhou nesta conversa.

 

Viva Jim! Os Raven Black Night vêm da distante Austrália, portanto, podes apresentar a banda aos metalheads portugueses?

Sim, saudações cá de baixo! Eu, Jim Petkoff (guitarra/vocais) e o outro membro fundador, Rino Amor (guitarra) começámos a viagem dos Raven Black Night em 1999 para tocar Heavy/doom/metal épico old school, mas com um olho para o futuro e não tendo medo de trilhar o nosso próprio caminho, tivemos vários baixistas e bateristas para ajudar a atingir a nossa visão.

 

O vosso lançamento anterior foi Barbarian Winter… em 2013. Porque um intervalo tão longo entre álbuns? O que aconteceu para este hiato?

Acho que depois do lançamento de Barberian Winter, estivemos sempre a escrever em em tournée pela Austrália. Naquela altura, viajar para o estrangeiro foi muito desafiador. Dinheiro, distância, festivais etc., por isso, apenas praticámos constantemente com um novo baterista e com o meu irmão no baixo. Em 2019, tocámos no Up the Hammers um grande festival de metal em Atenas, com uma incrível seção rítmica grega, ficamos maravilhados com a resposta e com quantas pessoas nos conheciam. E a última gravação que deveria ser uma demo transformou-se num álbum ao longo de um ano e meio. Quem disse que o tempo voa não estava errado (risos)!!

 

Mas os Raven Black Night nunca pararam, certo? Em que atividades e/ou projetos estiveram envolvidos durante estes anos?

Não, de forma alguma. Como disse antes, estivemos constantemente a tocar e a escrever, e sim, estive ocupado com uma banda de blues rock chamada Big Toms, um tributo a Jimi Hendrix. Eu e o meu irmão Tom e um baterista de Adelaide da cena punk começámos uma banda chamada The Caterpiller. É uma explosão de proto rock do final dos anos 60/70 com música psicadélica e jazz rock. Também fiz alguns espetáculos como vocalista de uma banda tributo aos Iron Maiden chamada Children Of The Dammed, e recentemente comecei a improvisar músicas para gravar para os The Loving Tongue, a minha outra banda que está no início da tradição Hard/Rock de Rainbow. Pareço ocupado, mas todas elas não tocam ao mesmo tempo (risos). Raven Black Night é a prioridade.

 

Portanto, desde quando começaste a compor músicas para este álbum?

Bem, algumas delas datam de pelo menos 5 ou mais anos ou até 7 anos. Com esta banda até agora tocamos sempre material novo ao vivo e ele tem evoluído lentamente. Algumas das músicas são mais recentes e trabalhamos muito no ensaio. Até agora temos alguns riffs e músicas novas, e alguns datam de há quase 15 anos atrás, mas estamos sempre a descobrir e a reinventar. Parece que os Raven Black Night têm um membro silencioso que nos leva gentilmente em direções diferentes.

 

E como foi o método de trabalho desta vez? Semelhante ao dos álbuns anteriores?

Devo dizer que, por pensarmos que era uma demo que estivemos um pouco mais relaxados, mas conforme foi progredindo, pensei que um projeto de dois dias se havia tornado num longo ano. Acho que isso deu à gravação uma abordagem crua e espontânea que polimos um pouco com a mistura e masterização.

 

Musicalmente falando, mesmo considerando todo o tempo que passou, este álbum mantém a mesma matriz composicional?

Com Raven Black Night, se fores ao nosso primeiro, Choose The Dark, ao segundo Barberian Winter e agora Run With The Raven, há uma linha comum nos temas e sons que exploramos. Parece que temos um grupo de músicas melódicas misturadas com partes extremas do nosso som e isso nunca foi planeado. Gostamos das bandas mais antigas por escreverem canções que podes cantar, mas também por poderes fazer headbanging, e tentamos algumas coisas diferentes, como faixas escondidas, uma versão, etc.

 

No entanto, também podemos notar algumas diferenças subtis. São o resultado do vosso crescimento e maturidade?

Sim, é verdade. Tu apegas-te a este espírito que te fez querer pegar numa guitarra e transformá-la num 11/10 e deitá-la fora. Mas a idade e maturidade podem ser uma boa coisa para aprender a expressar ideias e abordagens diferentes. Toni Iommi criou o seu som ao longo dos anos, mas ainda é o Toni que amamos e Angus Young também, na guitarra é um exemplo. As letras também vêm da experiência, às vezes queres ouvir o trovão do Dio a cantar, ou o drama de Shakespeare, outras vezes o Lemmy a berrar o Ace Of Spades. Sim, crescer graciosamente.

 

Por exemplo, de onde vem a inspiração para a atmosfera hispânica em Ancient Call?

Boa pergunta, eu adoro muita música de todo o mundo, principalmente as canções do tipo folk, algumas coisas realmente boas para encontrar e adicionar ao meu som. Os meus pais vieram da Europa, das áreas dos Balcãs e do Mediterrâneo, está no meu sangue. Ancient Call é um suave interlúdio de reflexão antes da música seguinte, Fire And Steel. Empurra o nosso som pesado para um extremo e ao ouvir o solo há um sentimento semelhante às notas de Ancient Call.

 

E quanto à declamação em Ancient Rivers? De quem é esse poema?

Estou sempre a escrever poemas. Tenho que os escrever antes que os esqueça. Nunca é forçado, pois tenho que cantarolar as minhas ideias de músicas para o telefone. Quando tocamos no Up The Hammers em Atenas, ficamos uma semana antes para ensaiar e tocar. Assim como em Los Angeles e Hamburgo, também me apaixonei por Atenas. Onde estávamos hospedados havia muitas personagens, artistas, boa comida, perto do museu e da universidade e não muito longe de Plaka, a cidade velha. Andando pelas ruínas e pela vida construída em redor dela e com todos os gatos de Atenas perambulando inspiravam-me como se eu já tivesse estado lá antes numa vida passada. Por isso talvez seja sobre um velho feminino, espírito ou deusa ou um sentimento geral de desejo, não tenho a certeza, e sou um grande fã dos The Doors e de Jim Morrison, adoro a música quando ela sai.

 

Que projetos tens em mãos e/ou pretendes desenvolver nos próximos tempos, mesmo considerando a situação pandémica?

Bem, com a covid, como todos sabemos, o mudou o mundo dramaticamente. Na Austrália sendo uma ilha grande, até este ponto temos muita sorte em comparação com muitos lugares, mas o meu coração clama para que o mundo se cure e este terrível vírus desapareça e desejo muitas bênçãos para aqueles que foram afetados por ele. Pessoalmente, quero continuar a gravar com todas as minhas bandas originais e viajar e tocar quando ficar mais seguro. Os espetáculos acabaram de recomeçar na nossa cidade natal agora. E com os Raven Black Night atuais, empurramos a música para velhos e novos fãs com a ajuda da SAOL que tem sido incrível. Para o futuro, quero construir o nosso legado com Raven Black Night e lançar alguns álbuns num ritmo mais rápido, mas sem perder qualquer integração no processo. Em conclusão, adoraria tocar em Portugal e visitar novamente a Alemanha/Europa e novos lugares como a Inglaterra e os Estados Unidos.


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