Yishai Sweartz é o porta voz desta banda israelita
que surpreendeu todo o mundo com o fantástico álbum Hollow. A banda teve origem
nos Moonskin e partiu para este disco com vontade de criar algo memorável e
consegui. Só assim se compreende que tanta gente de renome (como o seu
compatriota Kobi Farhi e o nosso Fernando Ribeiro, por exemplo) tenham querido
contribuir. E foi um simpático e expressivo vocalista que encontramos para
conversar sobre este álbum e a banda.
Viva Yishai! Em primeiro lugar, importas-te de apresentar os
Tomorrow’s Rain aos metalheads portugueses?
Bem, nós somos os Tomorrow's Rain de Tel Aviv,
Israel. Formei a banda em 2002 com Maor Appelbaum (atualmente famoso de
masterização em LA) e o guitarrista Raffael Mor. A minha banda anterior Nail
Within separou-se logo após um álbum de estreia pela Listenable Records
enquanto Maor tinha a sua banda anterior, o coletivo gótico Sleepless,
que se separou. Estávamos numa séria crise tendo que enfrentar o golpe da
realidade e o sonho devastado, começamos a compor canções passo a passo e era
óbvio desde a primeira música que iria ser um reflexo dos nossos sentimentos e das
nossas vidas de volta ao que estava longe de ser normal e equilibrado,
depressão, bebida, ansiedade, stress e ataques de pânico, etc etc. A
razão pela qual demorou tanto é: quando começamos (como Moonskin) em
2002 a banda foi o nosso salvador. Escrevemos algumas canções, fizemos alguns
concertos, abrimos para os Epica aqui em Tel Aviv, e começamos a sentir-nos
mais normais nas nossas vidas pessoais, menos deprimidas, casamos e eu queria
que a minha vida seguisse o caminho certo. Senti-me muito melhor e senti que
não podia subir a palco noite após noite a cantar canções sobre a minha dor e
demónios interiores, enquanto casava, estava prestes a ser pai (a melhor coisa
que já me aconteceu). Estava mais feliz e era como ir para o trabalho, portanto
disse a Maor que não queria continuar já que não quero fingir. Foi uma forma de
pensar puramente artística. Por isso, paramos por volta de 2006. Em 2010 a minha
vida sofreu uma mudança séria de novo, divorciei-me, senti-me tão triste pelo
fim desse relacionamento e a única coisa na minha mente era proteger o meu
filho. Estava em baixo e virei-me para o melhor salvador que conheço: música....
músicas... a banda. Liguei para o Rafael e disse-lhe duas palavras: "vamos
lá", e foi simplesmente assim. Cerca de um dia depois estávamos em estúdio
e um mês depois de termos suportado os Dark Tranquility começarmos a
escrever o material que ouves agora no álbum. Desde então escrevemos o álbum e
tocamos com Paradise Lost, Rotting Christ, Swallow The Sun,
Kreator, Tribulation e estávamos prestes a tocar com Tiamat
e Samael, mas infelizmente surgiu a Covid 19...
Os Tomorrow’s Rain
nasceram em 2011 a partir dos Moonskin. Foi apenas uma mudança de nome ou é, na
verdade, uma nova banda?
Mudança de nome, tivemos poucas mudanças de formação,
mas Tomorrow's Rain é o que começou em 2002 como Moonskin.
De qualquer forma, qual
foi a base dessa mudança naquela altura?
Moonskin era um nome do nosso ex-baixista Maor Appelbaum e ele
mudou-se para L.A por volta de 2006, então, quando ativamos novamente a banda, pensamos
que seria melhor começar com um novo nome.
Falando em Hollow, como foi o
trabalho por trás dessa coleção de grandes canções?
Longo… Muito obrigado por dizeres isso, foi muito
importante para mim que as canções fossem fortes e convincentes por si mesmas,
mesmo sem os convidados. Isso é o mais importante num álbum, esta é a minha opinião:
músicas fortes. Os convidados podem apimentar e acrescentar valor extra, é
claro, mas para começar as músicas precisam ser fortes. Uma das coisas mais
importantes era escrever canções e não escrever riffs, olhar para o
quadro todo, toda a "história" e não tipo "é um ótimo riff".
Eu escrevi todas as letras exceto a de Hollow (escrita pelo nosso
teclista Shiraz Weiss) e a música foi escrita principalmente por Raffael
Mor, mas alguns outros membros da banda contribuíram também e até mesmo
alguns ex-membros como Maor Appelbaum, por exemplo. Os convidados
adicionaram solos de guitarra (Jeff e Greg) e vocais (todos os restantes), mas
as músicas foram escritas por nós. Portanto, o processo foi longo, foi uma
jornada infernal, mas demoramos para torná-la o melhor.
Como te sentes com esta estreia? Qual é a tua visão
perspetiva sobre todo o álbum?
Tu sabes que os artistas nunca ficam 100% satisfeitos.
Nunca! Essa é a nossa natureza, caso contrário, por que fazer outro álbum?
Estou satisfeito, estou orgulhoso, muito orgulhoso, mas acho que temos muito a
oferecer e estou animado para o segundo. Já temos 4 músicas novas e será
interessante.
Como se proporcionou essa ligação Fernando
Ribeiro dos Moonspell? E qual foi o seu papel neste lançamento?
Fernando é uma grande pessoa, um artista fantástico e
um amigo. Sendo de Israel sempre olhamos para os Moonspell como uma
inspiração, tipo "se eles podem fazer de Portugal nós podemos fazer de
Israel", não é necessário ser da Alemanha ou Escandinávia para fazer isso.
Os Moonspell surgiram em 1995 com ótimo material que tomou de assalto a
cena do metal. Ele gravou as suas partes em Israel e entendeu exatamente
toda a agenda e o que defendemos por termos a mesma idade e ambos crescermos no
metal underground do início dos anos 90, ou seja, temos a mesma
mentalidade. Ele é uma pessoa muito calorosa e honesta e para nós foi natural
já que os israelitas também são assim. Demo-nos muito bem.
Além do Fernando, contam com uma incrível lista
de convidados. Como foi possível teres conseguido essa parada de estrelas?
A ideia com os convidados era recebê-los de braços
abertos na nossa casa e fazer com que cada um deixasse algo de seu na nossa arte.
Pensamos em cada parte e demos a cada convidado exatamente as partes que achei
que lhe cabiam. Por exemplo em Misery Rain eu tinha uma parte quase
falada, a contar uma história muito pessoal e sempre que a cantava em estúdio
pensava "seria ótimo ter o Fernando dos Moonspell" a fazer
esta parte na mesma vibe que ele fez em partes semelhantes de Wolfheart
que é um álbum que eu adoro. Por isso convidei-o e ele fez essa parte. Para Jeff
Loomis, convidamo-lo para uma música sobre Warrel Dane. Warrel era
um amigo meu e na verdade deveria produzir Hollow, portanto, convidar Jeff
Loomis para tocar nessa música memorial pessoal para o seu amigo de longa
data e parceiro musical foi uma ótima ideia, etc etc. Acho que podes facilmente
reconhecer o solo especial de Greg Mackintosh em In The Corner Of A
Dead End Street e o mesmo serve para Aaron dos My Dying Bride em Fear.
Todos me deram uma pequena parte e por isso vou agradecer para sempre.
Para este álbum fizeram uma versão de um tema
de Nick Cave. Por que escolheram essa música em particular?
Crescendo nos anos 80, Nick Cave sempre esteve
lá, um ídolo, as suas letras encontraram um lugar quente no meu coração quando
eu era bem jovem. Além de que Nick é um mentor quando se trata de enfrentar
eventos traumáticos na vida e continuar, curar a sua alma e cantar a sua dor. Os
últimos 2 álbuns de Nick são puro reflexo da mensagem que tentamos transmitir
em Hollow: no final do dia temos que continuar, temos que nos curar e
continuar a jornada. Achamos que a ideia interessante numa versão é levar a
música para a tua área. Nunca entendi bandas que tocavam a música original como
era. É inútil e em quase todos os casos é mais fraca que a original. Numa
versão, a ideia não é ser mais forte que o original, mas sim tocar o original
no teu próprio idioma, à tua maneira. O nosso querido e velho amigo Kobi
Farhi dos Orphaned Land cantou comigo o dueto. A ideia era que um de
nós seria o pai e o outro o filho. Também estão Anders dos Draconian nos
guturais e Lisa Cuthbert nos vocais femininos.
Por que razão decidiram lançar uma versão deste
álbum em hebraico?
Porque queríamos fazer algo pela cena rock
israelita para além da versão mundial.
As críticas têm sido incríveis. Esperavam tal?
Eu sabia que tínhamos nas nossas mãos algo especial,
mas nunca esperei isso e é óptimo. Hollow foi lançado após alguns anos
muito complicados para nós como pessoas, por isso é ótimo ver que tocamos o
coração das pessoas.
De que forma a Covid vos
afetou e o que fizeram para superar a situação?
Bem, não podemos fazer espetáculos e todos nós
enfrentamos uma grave crise económica sem nenhuma ajuda do nosso governo. Por
isso, tentamos reinventar-nos e buscar formas criativas de obter rendimentos,
situação muito má.
Que projetos têm em
mente realizar nos próximos tempos?
Continuaremos a escrever e a compor o nosso segundo
álbum e ele manter-nos-á ocupados.
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