Precisamente
numa altura em que no Brasil os Tuatha de Danann lançam o seu novo álbum, In Nomine Éireann, o seu anterior, The Tribes Of
Witching Souls (originalmente lançado em 2019 e apenas no seu país natal)
chega à Europa e ao resto do mundo através de uma edição pela Trollzorn
Records. Este é um disco que apresenta os mineiros pela primeira vez em formato
trio, mas sempre bem acompanhados por um naipe de convidados que o engrandecem.
O mentor do coletivo e sua principal força motriz, Bruno Maia, falou connosco e
contou-nos tudo.
Olá, Bruno, tudo bem?
Antes de mais, obrigado pela disponibilidade e deixa-me dar-te os parabéns por
este sensacional álbum! Todo o conceito volta a ser realmente espetacular. Como
foi a vossa abordagem, desta vez, em termos conceptuais?
Olá, eu que agradeço ao Via Nocturna pela
oportunidade em divulgar o nosso trabalho. Muito obrigado pelas palavras. É
verdade que estamos muito satisfeitos com o disco, as composições, performances
e sonoridade; assim como a parte gráfica. Quanto à abordagem lírica, com
exceção da faixa título (que aborda motes, temas e personagens nossos de outros
discos) e de Tan Pinga ra Tan (que é sobre uma ilha mágica, do deleite
eterno), as outras são mais conscienciosas. Your Wall Shall Fall, ataca
a tirania do capitalismo predador, do fascismo e desumanidade de alguns líderes;
Turn aborda a passividade e conformismo que muitos de nós temos em
relação à política e protagonismo social; Outcry questiona a experiência
colonial que muitos países sofreram no passado e muitos outros sofrem ainda sob
acordos com FMI, subserviência às cartas globais que os mantêm colonizados; em Warrior
Queen aludimos a grandes rainhas guerreiras do imaginário e história celtas
como Boudica, Maeve, e Cartmandua, porém prestamos um tributo
a todas as mulheres, que acreditamos já nascer tendo de superar mais obstáculos
que nós homens, sofrendo preconceito, assédio e mesmo violência e, por isso, já
nascem guerreiras. Conjura aborda um episódio da história brasileira, do
nosso estado, Minas Gerais, que foi a Inconfidência Mineira, que resultou na
execução de Tiradentes.
E em termos musicais, de que forma é que The Tribes Of Witching Souls se demarca ou se
aproxima dos vossos trabalhos anteriores?
Acredito sinceramente que este é um dos nossos melhores
trabalhos! Ele apresenta a banda fiel à sua história, sem medo de ousar. Como
evoluímos como seres humanos e como músicos, o mesmo acontece com a nossa
música. Todos os elementos que já marcam a nossa identidade composicional estão
em Tribes…, mas não tivemos medo de experimentar ritmos e convenções
diferentes. Um exemplo é a faixa Turn, que tem um ar moderno, pelo
ritmo, além de um acento pop, mas sem perder o peso habitual e o tema
celta em torno do qual a canção se estrutura.
Bem, a verdade é que, no passado, vocês
estiveram algum tempo parados. O que aconteceu para isso ter sucedido? E o que
vos motivou a regressar em 2013?
É verdade, tivemos muitos problemas entre 2007 e 2010,
problemas internos e externos à banda, que fizeram tudo explodir em 2010. Em
dezembro de 2010 a banda oficialmente parou. Porém todos os anos tocávamos num
evento chamado Roça’n’Roll, daí em 2013 resolvemos voltar de vez e
lançamos em 2015 o álbum de retorno que foi o Dawn Of A New Sun, do qual
nos orgulhamos muito, e daí a coisa vem vindo.
Este trabalho já tinha sido lançado no Brasil,
no ano passado como um EP. Esta nova versão é diferente. O que foi alterado?
É a mesma versão, mas creio ser um álbum. Um
jornalista musical informou-nos que um álbum tem mais de 30 minutos. O Tribes…
tem 31 minutos, por isso é um álbum. Repara, o Reign In Blood dos Slayer
e mesmo o primeiro dos Bathory são menores que o Tribes… Por
isso, digo que é um álbum, o nosso sexto álbum.
Este ano também já lançaram dois singles, mas estes acabam por não
estar incluídos no álbum. Porquê?
Pois é, lançamos o Tribes… no ano passado e fizemos
uma tour muito boa aqui no Brasil, com diversos shows e tudo
mais. Assinamos com a Trollzorn no ano passado e já era para o álbum ter
saído aí na Europa antes, mas surgiu o Coronavírus e tivemos atrasos e tudo
mais. Coincidiu de laçarmos aqui no Brasil um álbum esta semana, um ano e meio
depois do Tribes…, um álbum novo, chamado In Nomine Éireann, que
é um álbum tributo à música irlandesa, com canções e temas da música tradicional
irlandesa com versões nossas. Estes dois singles que falaste estão neste
álbum.
Sendo os Tuatha de Danann uma banda de folk rock/metal, e sendo o vosso país
muito forte em tradições musicais, de alguma forma usam o folk brasileiro, nativo ou
não, como condimento dos vossos temas?
Diretamente não, pelo menos ainda não. Usamos apenas
um tema lírico na faixa Conjura deste álbum e eu tenho a intenção ainda
de fazer um álbum conceptual com os Tuatha de Danann sobre a formação do
nosso estado, Minas Gerais, a corrida do ouro, Guerra dos Emboabas, os
Quilombos e tudo mais.
Este álbum é o primeiro a surgirem em formato
trio. O que se passou?
Foi que depois do disco Dawn Of A New Sun
alguns membros da banda saíram, em 2017 e 2018. Continuamos a fazer espetáculos
com músicos contratados e amigos, porém precisávamos lançar um disco novo. Como
eu sempre fui o principal compositor, o responsável pelos conceitos em torno da
banda e mesmo o produtor dos álbuns, eu já tinha as músicas e o nosso amigo Fabricio
Altino, que trabalha comigo no estúdio, gravou todas as baterias. Optamos
por afirmarmos a banda como trio neste álbum, pois, fomos nós os remanescentes
da formação antiga e nós que gravamos o álbum com o baterista convidado.
Mas contam com alguns convidados ou não?
Para os nossos álbuns convidamos sempre músicos que
admiramos ou amigos para participar na nossa arte. Neste álbum contamos com a Fernanda
Lira (ex-Nervosa), Martin Walkyier (Ex-Skyclad) com quem compus Your
Wall Shall Fall, a Daísa Munhoz (Soulspell) canta em Warrior
Queen e assim foi. Adoramos este tipo de troca!
Esta é a vossa primeira experiência na
Trollzorn Records? Como se estão a sentir e de que forma os vossos caminhos se
cruzaram?
Sim, esta é nossa primeira experiência com eles e até
agora tem sido bem legal. Contactei-os quando lançamos o Tribes…, pois
eles lançaram bandas de amigos como Cruachan, Skiltron entre
outras de folk metal, e eles interessaram-se em lançar o álbum. Estamos
bem felizes de que o álbum possa circular na Europa e isso é graças a eles.
Como tem sido este processo de adaptação a uma
nova realidade causada pelo coronavírus?
Para nós, como músicos, é muito difícil, pois todos os
nossos espetáculos, a verdadeira fonte de rendimento secou, né?! Aproveitamos
o início da pandemia para entrar em estúdio e fazer este disco irlandês que está
a sair agora. Tivemos apoio de muitos admiradores da banda que contribuíram com
recursos financeiros e fizeram este disco sair e as nossas vidas mais
tranquilas para nos podermos dedicar a este trabalho. Espero que a Ciência, e
não o obscurantismo, vença esta pandemia o quanto antes com uma vacina eficaz,
seja ela de onde for, e tudo possa voltar ao normal, espetáculos, vida social e
mais alegria para todos.
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