Entrevista: Ruben Portinha

 


A verdade é uma: Ruben Portinha tinha mesmo de arriscar. Por isso, surge este seu segundo disco, com 12 canções escritas em português, que derivam entre a pop, o rock e o funk, com um aceno ao jazz. Falam de nós, do nosso mundo, do nosso tempo, das nossas forças, das nossas imperfeições… e claro, daquele que não poderia faltar: o amor.

 

Olá, Ruben, tudo bem? Três anos após Realidade, sentiste que era a hora de arriscar? E arriscaste de que forma?

Olá. Sim, decidi arriscar, antes de tudo, em trabalhar num segundo álbum e perceber que quero seguir este caminho. Daí resultaram os outros objetivos que, todos juntos, representam o título do álbum: arriscar em tentar fazer canções mais amadurecidas, em preparar melhor o trabalho antes de ir para estúdio, em ter melhor som em relação ao primeiro disco, em ter boas fotos, bom grafismo, boa promoção… E tudo isto requer um grande investimento material e humano. Embora tenha sido um risco mais ou menos calculado, não deixa de ser um risco. Mas tudo ganha mais sentido quando sabemos que é por ali que queremos ir.

 

E estes três anos foram dedicados a preparar este trabalho?

Na verdade, e apesar de alguns dos temas terem nascido antes, o álbum só começou a ser efetivamente preparado no início de 2019. Foi nessa altura que compus a grande maioria das canções. O ano anterior foi passado essencialmente a mostrar o primeiro disco e a fazer o rescaldo sobre todo o processo que o fez nascer, numa perspetiva de tentar perceber o que tinha corrido bem e menos bem, para conseguir fazer melhor no segundo.

 

Todas as composições são tuas, certo? E resulta num disco bastante variado. O que ou quem te influenciou ou de onde surgiu a inspiração?

Certo. No fundo, a música que faço é o resultado de tudo o que fui ouvindo ao longo dos anos. Como sou muito eclético enquanto consumidor de música, acabo por refletir isso no meu trabalho. Acho que, em comparação com o primeiro, este segundo disco acaba por ser mais homogéneo em termos de sonoridade (anda essencialmente à volta da pop, do rock e do funk, com um pequeno desvio jazzístico pelo meio), mas ainda assim não deixam de se notar uma série de influências. Claro que posso destacar alguns nomes que me marcaram mais fortemente, casos de Jorge Palma, Ornatos Violeta, Djavan, Stevie Wonder, Tom Jobim, Sérgio Godinho… mas são tantos, tantos, que nunca mais daqui saía.

 

Em termos instrumentais apresentas neste disco um conjunto de músicos fixos. Serão ele que te apoiarão ao vivo (quando isso for possível, naturalmente)?

Sim. O Nuno Barreto (guitarra), o João Coelho (bateria) e o Ricardo Duarte (baixo) estão comigo há vários anos – ainda antes do primeiro álbum, e agora temos a sorte e o privilégio de contar com mais um membro na família: o José Manuel David nas teclas. Mais do que quatro excelentes músicos, são quatro excelentes pessoas com quem quero continuar a contar, para que possamos crescer lado a lado, quer em palco quer em estúdio. Quero continuar a aprender com eles e que eles possam aprender comigo, para que possamos ser cada vez mais capazes. Claro que isto não impede que, no futuro, possa ter a colaboração de outras pessoas, mas o núcleo será sempre constituído por nós os cinco.

 

Este é um álbum em nome individual, mas com alma coletivo, certo?

Sem dúvida. Embora não fosse este o meu objetivo inicial, acabei por assumir a produção do álbum (à semelhança do Realidade). No entanto, fiz sempre questão que houvesse troca de ideias, sugestões diferentes, e que dos pontos de vista de cada um pudéssemos criar um resultado final com que todos se identificassem. Claro que o nome que aparece é Ruben Portinha, mas este é acima de tudo um trabalho de banda.

 

E contas com alguns convidados para a voz. Queres apresentá-los e contar como se proporcionou a sua participação?

Mais do que pensar em nomes, pensei nas vozes e nas posturas musicais que gostaria de ter em cada um dos temas. Partindo desse pressuposto, os nomes surgiram-me naturalmente. A Andreia Baleiras, não sendo ainda cantora profissional, tem uma voz que sempre me encantou; quando comecei a compor o Tinha de Arriscar (o tema que dá nome ao álbum), a voz dela começou a soar automaticamente na minha cabeça. A Marília foi um dos maiores desafios deste disco… conheci-a (enquanto espetador) em 2018 no The Voice Portugal e fiquei fascinado com ela enquanto artista. Sendo a Marília brasileira, a viver em São Paulo (um oceano entre nós), decidi tentar contactá-la pelas redes sociais e lancei-lhe o desafio de cantar comigo O Nosso Tempo; ela aceitou e eu fiquei todo contente! Acabou por gravar a parte dela no Brasil e a obra nasceu. O Pedro Vicente, para além de ser um grande amigo, é um músico, intérprete e autor extraordinário. Achei que podia acrescentar ao Ansiedade o registo e a intenção certas para esse tema, ainda para mais sendo uma canção gravada apenas com voz e piano (que neste caso foi tocado pelo José Manuel David, mas que é também o instrumento que o Pedro mais utiliza para compor). Tal como o Pedro e a Marília, a Inês Trevo também tem um trabalho muito bom enquanto autora e instrumentista, para além da belíssima voz. Achei que seria a pessoa certa para cantar comigo o História Sem Final e terminar o alinhamento do álbum da melhor forma. O que me deixa mais satisfeito, além de contar com quatro excelentes convidados musicais e quatro pessoas incríveis, é perceber que todos eles corresponderam ao que eu tinha idealizado para cada tema. 

 

E já agora, como foi também o processo de adaptação a esta nova realidade causada pelo coronavírus? Sei que atrapalhou um bocado…

Atrapalhou sobretudo a etapa que vem depois de lançar o álbum, que é a fase dos concertos, para além de ter atrasado em quase meio ano a data de lançamento. Já estava praticamente tudo gravado antes da quarentena, mas depois o trabalho de edição, mistura e masterização ficou bastante condicionado. Fomos tentando levar as coisas da melhor forma possível, e para isso contámos com a preciosa ajuda do Henrique Macide, que foi o engenheiro de som responsável por todo o processo. A produção de videoclips também ficou bastante condicionada, alguns planos que tínhamos foram por água abaixo. Até agora, acabámos por só conseguir fazer um videoclip (gravado em casa durante a quarentena com os meios disponíveis), e claro que isto prejudica muito a promoção do álbum, pela enorme importância que os produtos visuais têm, como sabemos. Mas sobretudo faz-nos muita falta o público… acabámos por fazer um concerto de apresentação online em outubro, e depois disso já fiz mais alguns em formato voz e guitarra, mas nada disso substitui o contacto direto com as pessoas.

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