Celestial Burst é um novo nome da cena progressiva
francesa. E o seu trabalho de estreia, The Maze, é um disco que todos deveriam ouvir. Não
só porque no tema-título participa a diva Anneke van Giersbergen (uma curiosa
história levou à sua participação neste tema, como podem conferir ao longo
desta entrevista), mas essencialmente porque é composto por um conjunto de
grandes canções. Por isso, fomos interromper as férias do mentor Alexis
Lustenberger que nos falou do passado e dos projetos futuros dos Celestial
Burst.
Olá Alexis, votos para
que esteja tudo bem contigo! Primeiramente, obrigado pela disponibilidade para
esta entrevista! Em segundo lugar, podes apresentar a banda aos rockers portugueses?
Olá Pedro, estou muito bem, a passar as minhas férias
com a minha família. Isso é tudo que eu precisava durante este período
estranho. Na verdade, é a primeira vez que tenho a oportunidade de falar para os
rockers portugueses, por isso obrigado por me dares esta grande
oportunidade. Celestial Burst é um projeto de rock progressivo
francês que iniciei há muito tempo. Trabalhei principalmente sozinho até ao
final de 2019, quando Kenza se juntou a mim para terminar as redações e
me dar a sua visão de como o projeto poderia ser. The Maze é o nosso
primeiro EP conceptual. Cada música é parte de uma história única. É a história
de uma mulher que vagueia por um mundo que não compreende e ao qual não se consegue
adaptar porque não lhe convém. O labirinto é o símbolo que quis dar à aventura
que a espera, cheia de obstáculos e becos sem saída.
Quando começaste este
projeto e que objetivos e ambições tinhas?
Acho que foi em 2012. Como a música não é minha
atividade principal, demorei um pouco para criar o que agora se chama The
Maze, o nosso primeiro EP. Tudo começou com a tema-título The Maze.
Por alguns motivos que não consigo explicar, é claramente a música que tive
mais dificuldade para terminar. Mas assim que a terminei, as outras 4 surgiram rapidamente.
Acho que o projeto estava 95% concluído no final de 2017. Mas o último passo
foi encontrar o orçamento para gravar o EP num estúdio profissional com músicos
profissionais. Demorei um pouco para finalmente encontrar tempo e dinheiro para
passar por essa última etapa. No início, o único objetivo que eu tinha era
chegar a um EP/álbum bem produzido com uma atmosfera distinta tanto musical
quanto graficamente (adoro os diferentes artworks que a Sarah fez para
nós). Foi importante para mim lançar uma versão física. Mas agora que o projeto
é uma realidade e que as primeiras avaliações são incrivelmente positivas, digo
a mim mesmo “Bem, talvez as pessoas gostem!”. É por isso que estou a trabalhar duro
agora para dar ao The Maze uma boa visibilidade e ver como as coisas vão
progredir.
Qual é a tua formação
musical?
Comecei a tocar música recentemente (em comparação com
a maioria dos músicos) quando tinha 14 anos em 2004. Sem formação académica,
porém, aprendi a tocar guitarra sozinho com a ajuda de um professor, durante
dois anos. Por conta própria, aprendi toda a discografia dos Metallica
enquanto, do outro lado, o meu professor me iniciava no blues clássico e
palhetada de blues. Comecei então a entrar em contacto com a
música progressiva com Dream Theater, Porcupine Tree e Opeth.
No colégio, tinha uma banda na qual fazíamos covers de músicas (dos Metallica,
Opeth, Dream Theater, Porcupine Tree) e compunha. Foi aqui
que nos encontramos pela primeira vez com Kenza, já que ela era a
cantora dessa banda. Depois disso, comecei a concentrar-me nos estudos, o que
não me deixava muito tempo para tocar guitarra. Depois dos estudos, decidi
voltar ao básico com algumas aulas de teoria musical, arranjo e composição. Foi
aí que os Celestial Burst me vieram à mente.
Quais são as tuas principais
influências como guitarrista e como compositor?
Durante muito tempo, quando ouvia uma música, não
conseguia concentrar-me em mais nada que não fosse a guitarra. As minhas
principais influências naquela altura foram Metallica, Dream Theater,
Opeth. Depois percebi que a melodia e grandes vozes eram mais
importantes para mim do que qualquer outra coisa. Foi aí que mergulhei na velha
música progressiva (Pink Floyd, Genesis, King Crimson, Marillion...).
Não estou a dizer que Opeth, Dream Theater e Metallica não
têm boas melodias, mas eu precisava de algo novo para os meus ouvidos. The
Maze é uma mistura de todas essas bandas. Eu tenho uma playlist do Spotify
com 50 músicas que ouço no dia a dia chamada Prog Rock/Metal, se quiseres
saber mais sobre as minhas influências. Por exemplo, estou a ouvir muito Fireworker,
o último álbum do Gazpacho.
O projeto está sob tua responsabilidade
e de Kenza. Os outros músicos são referidos como convidados no álbum. Já tens uma
formação estável para a banda?
Os Celestial Burst não foram feitos para ser
uma banda ao vivo. Fazer tournées e espetáculos ao vivo não faziam parte
dos meus objetivos (um pouco como Ayreon), portanto não temos uma
formação estável. Mas para ser sincero, quanto mais o projeto cresce, mais eu
quero que ele se torne ao vivo! Kenza e eu somos, de facto, os membros
chave deste projeto e se a pandemia parar um dia, talvez procuremos uma formação
para tocar ao vivo.
Como aparece a oportunidade
de teres a Anneke a cantar numa música?
Essa é uma história incrível! Uma mistura de bom
momento, trabalho duro e sorte. Nada disso teria acontecido sem a pandemia. Durante
o período de confinamento, uma vez que os espetáculos ao vivo não eram
permitidos, Anneke tinha muito tempo livre (e rendimentos limitados, é claro). Por
isso pediu à sua comunidade que enviasse as músicas que fizeram. A regra: uma
música por artista e ela cantaria em algumas poucas músicas selecionadas. Enviei-lhe
a faixa The Maze e ela adorou!!
Acredito que deve ter
sido como um sonho que se tornou realidade! Chegaste a trabalhar cara a cara
com ela?
Quando recebi um e-mail da Anneke, nem
acreditei. Apaixonei-me por sua voz graças aos Ayreon. E despois descobri
os The Gathering e fiquei tipo: “Como diabos eu perdi esta banda por
todos estes anos!”. Infelizmente, não tivemos a oportunidade de trabalhar cara
a cara. A nossa comunicação tem sido totalmente digital. Enviei-lhe uma demo
com a letra e a melodia que eu tinha em mente e disse-lhe: “Faz o que quiseres
e, por favor, adiciona quantas vozes de apoio incríveis quiseres”. Ela devolveu-me
a demo com a sua voz e foi perfeito. Ela é extremamente profissional e
por acaso encaixa-se perfeitamente com a música. Lembro-me da primeira noite, adormecer
a ouvir a música em modo de repetição... A passagem que começa nos 6'17 é a
minha favorita.
A respeito da
globalidade do processo, quando começaste a trabalhar nessas músicas?
O processo começa sempre com a minha guitarra. Encontro
um riff ou uma progressão de acordes e trabalho em torno disso. Depois, vou
para o teclado e tento encontrar alguns arranjos. É meio estranho, mas as
letras e as melodias de voz sempre vêm por último no processo. Acho mais fácil
construir as letras e as vozes quando a música está quase acabada. O nascimento
da minha filha em 2017 foi uma grande fonte de inspiração. A música Anna
foi escrita para ela e lembro-me de compor Obedience enquanto tocava guitarra
para ela. Quando Kenza se juntou ao projeto, enviei-lhe as demos
com a minha voz (espero que ninguém tenha que ouvir essas demos - risos)
e ela adicionou muitas mudanças excelentes às músicas e às letras. Kenza
fez um trabalho incrível neste EP, conseguiu trabalhar em todas as músicas e
adicionar o seu próprio toque num período muito curto de tempo.
Mais uma vez Alexis,
muito obrigado pelo teu tempo! Queres deixar alguma mensagem para os teus fãs?
The Maze é o nosso primeiro EP e precisamos do apoio de cada um de
vocês! Não hesitem em nos seguir no Facebook e Instagram mas o
mais importante: continuem a ouvir a nossa música! Tentamos disponibilizar para
todos (Youtube, Spotify, Tidal, Deezer, Bandcamp,
...). E se gostarem, avisem-nos, avisem o mundo!
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