Entrevista: John Diva And The Rockets Of Love

 

Como o próprio John Diva admite, não poderia haver mais contradição num título como American Amadeus. Contradição e liberdade para explodir em todas as direções possíveis. Tudo muito bem explicado nesta delirante entrevista que o vocalista americano nos concedeu a propósito do lançamento do segundo álbum dos Rockets Of Love. Uma entrevista que nos levou desde as praias portuguesas ao feminismo.

 

Olá John! Obrigado pelo teu tempo e parabéns pelo novo álbum. Mas, como consegues juntar no mesmo álbum Amadeus e Marilyn (risos)?

Excelente pergunta. Ainda não tinha pensado nisso. Talvez, porque os dois tinham um penteado ótimo (risos). Combinação perfeita para uma banda de LA Hair Metal.

 

Bom, mais a sério, após o sucesso de Mama Said Rock Is Dead, sentiram algum tipo de pressão para este novo álbum?

De modo nenhum. Costuma dizer-se que o segundo álbum é o difícil. Não para nós. Só há uma direção a seguir para os Rockets: Up! Tínhamos muito mais histórias para contar, muitas outras canções para escrever. Em American Amadeus abrimos, diversificamos, levamos ao extremo. Ainda assim, permanecemos fiéis às nossas raízes.

 

Para este novo álbum, tentaram uma abordagem diferente, certo? Sentiram que precisavam evoluir, criar desafios a vocês mesmos?

Foi mais uma intuição. Após o sucesso de Mama Said… sentimo-nos encorajados a ir mais fundo. É um álbum bem americano e tentamos ir até o fim, usando instrumentos como banjos e pedal steel. A sensação ainda é 100% Glam, mas desta vez parece muito mais multifacetada. A faixa-título – American Amadeus - é uma homenagem ao velho mundo, à alta cultura europeia. Foi aqui que tudo começou, Mozart foi um dandi, um punk, um rockstar. O hard rock e metal vieram do Reino Unido e nós crescemos com isso. Purple, Lizzy, Sabbath. Nós, californianos, acrescentamos o sol, o fator de bem-estar. A cultura pop, o lixo (risos). É um choque de culturas, o melhor dos dois mundos: sou um jetsetter cosmopolita, um Amadeus americano.

 

De que forma a tournée do último álbum teve impacto no caminho que a banda quis seguir desta vez?

É extremamente emocionante quando tocas pela primeira vez as músicas de um álbum ao vivo em palco. Este processo foi muito satisfatório e revelador com Mama Said…, mas percebemos que mais algumas faixas de alta temperatura seriam adequadas para nós. Esse era um requisito para o álbum atual. Agora temos mais do que o suficiente: Voodoo, Sex And Vampires, Bling Bling Marilyn, Wasted In Babylon. Por outro lado, isso deu-nos espaço para abrir e adicionar músicas que poderiam ser facilmente tocadas num hotel em Las Vegas (Moving Back To Paradise) ou apenas com uma guitarra acústica numa praia em Portugal (2 Hearts).

 

Com tudo isto em consideração, de que maneira American Amadeus é diferente de Mama Said Rock Is Dead?

Mama Said… é um cosmos próprio, quase um álbum conceptual. De certa forma, poderia ter sido produzido entre 1984 e 1987, embora o som seja definitivamente maior do que costumava ser. American Amadeus é mais lúdico, mais multifacetado e ousado. Não nos censuramos. Tudo era possível, até havia uma música country na seleção mais próxima. No final, nós cinco decidimos que músicas iriam para o álbum. Não estou interessado em repetir um conceito de sucesso indefinidamente, sou mais como Bowie. O que podem contar sempre de nós: glamoroso, extravagante, maior do que a vida.

 

De onde vem a influência para este título e para esta coleção de canções?

Tudo começou com uma festa selvagem de 3 dias num castelo nos subúrbios de Berlim. Uma mistura de Eyes Wide Shot, Love Parade e o Whisky a Go-Go no seu auge. Usei o meu cabelo no estilo de Mozart e estava enrolado numa bandeira americana - foi quando as conheci minhas duas ex-namoradas e uma delas chamou-me imediatamente American Amadeus. No fundo senti que esse seria o título do nosso segundo álbum. Essas duas palavras são uma contradição maravilhosa, um convite perfeito para ser loucamente criativo e colocar as coisas noutra perspetiva. Não quero dizer que depois disso tudo foi um passeio no parque, mas a direção era clara: tudo pode acontecer. Seguir a intuição.

 

A versão em vinil inclui três faixas bónus. Importas-te de falar sobre isso, especialmente a respeito do título engraçado de Blonde! Black! Red! Brunette! É uma homenagem às mulheres em geral?

Podes apostar que sim. Adoro mulheres. Já te apaixonaste por duas mulheres ao mesmo tempo? Quero dizer: amor verdadeiro? Não canto sobre o amor porque me faltam outros temas. Eu canto sobre o amor porque ele determina a minha vida. E as mulheres estão sempre no centro do meu amor. Um guru disse-me uma vez: tens que te amar a ti próprio. Pode ser, mas prefiro amar uma mulher. E depois há Star Of Rock. O que achas dessa música? Para mim, é uma viagem à origem do rock and roll. E, também, obviamente para Lee Stingray Jr, o nosso baterista. Quando escrevi a música, pensei em Keith Moon. Lee obviamente teve a mesma ideia: ele toca uma bateria incrível em todo o álbum, mas aqui ele enlouquece completamente. É maravilhoso.

 

Não receias que alguns setores da sociedade americana te acusem de sexismo?

Estamos a experimentar uma aceleração do discurso. Chegamos a uma nova era de ideologias. Isso torna muitas coisas complicadas, mas obviamente muitas coisas devem ser discutidas novamente de forma fundamental, especialmente no que diz respeito à questão do poder. Isso é exaustivo, mas é necessário e correto. Eu sou branco, homem, heterossexual. O mundo mudou para mim da melhor maneira possível até agora. Quando se trata de sexo, trata-se de consentimento, mas também de ser capaz de realizar o que se deseja, de experimentar. Isso deve ser verdade para todos os envolvidos - o sexo é uma coisa bonita demais para ser mau. John Diva é liberdade, liberdade para todos. Queremos que todos participem e brincamos com isso. Claro, o Hard Rock sempre teve e ainda tem uma abordagem muito machista - e eu sei, que muitas mulheres gostam disso. Ainda assim, amor e sexo, em primeiro lugar, têm a ver com respeito. Eu amo mulheres fortes. Isso pode parecer engraçado, mas podes citar-me a este respeito: eu sou um feminista.

 

Após a data de lançamento do álbum, começarão uma grande tour. Tudo pronto para isso? Não receias que alguns espetáculos sejam cancelados?

Tivemos que adiar a nossa tour duas vezes, o que foi dececionante, cansativo e triste. Ainda assim, temos certeza de que finalmente estaremos de volta à tour no final do verão de 2021. Já é altura de voltar. Lançar American Amadeus em janeiro foi uma decisão difícil porque dificilmente o podemos promover. Mas simplesmente não queríamos esperar mais um minuto e esperamos poder dar às pessoas algo lindo e glamoroso num momento difícil. Sobre estar pronto: acorda-me a meio da noite e dá-me um microfone. Estou pronto para rockar 24 horas por dia, 7 dias por semana.

 

Portugal será incluído nessa digressão?

Espero muito. Já estive no Porto e em Lisboa e conheci muitas pessoas fantásticas e bonitas. Há uma energia tão grande em Portugal. Muito coração, muita liberdade. Eu adoraria fazer alguns espetáculos no teu país.

 

Muito obrigado, John! Queres enviar alguma mensagem aos vossos fãs em Portugal?

Eu quero mais!!

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #47 VN2000: White Lies (INFRINGEMENT) (Crime Records/We Låve Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)