Entrevista: Norton



São nove canções escritas entre Castelo Branco, Lisboa, Mértola e Vila Velha do Ródão. Chama-se Heavy Light e surge seis anos após o último registo. E fecha-se um ciclo na carreira da banda albicastrense Norton. Um ciclo que se fecha também no Japão. Pelo menos para já... Foram estes alguns dos temas conversados com o guitarrista Manuel Simões.

 

Viva, obrigado por despenderem algum tempo com Via Nocturna. Os Norton já vão no seu 5º álbum de originais e com uma sólida carreira de 18 anos. Como tem sido a vossa existência?

Nós é que agradecemos o espaço na vossa casa. Tem sido uma viagem intensa e muito gratificante. Já percorremos vários períodos da música e isso foi também moldando o nosso som, assim como a contínua experiência que tem enriquecido as nossas vidas enquanto músicos e seres humanos.

 

E têm essa particularidade de serem uma banda do interior, onde tantas vezes se fala de falta de oportunidades. Mas vocês nunca sentiram isso, pois não?

Sentimos, pois. Porém, criámos sempre alternativas a essa falta de oportunidades. Nunca nada nos impediu de concretizarmos os nossos objetivos, mesmo remando contra a maré. Não conseguimos fugir das dificuldades que advêm de estarmos localizados no interior do país e de escassearem as oportunidades que se encontram nas grandes cidades. No entanto, isso também nos tem posto os pés na terra e oferecido outras perspetivas. E se podemos ser representantes do que é ser uma banda do interior, que assim seja. Ficamos felizes por quebrar o estigma de que nada se passa por lá e, quem sabe, abrir portas para que outras bandas desfrutem disso mesmo.

 

Quando partiram para a criação de Heavy Light que objetivos vos nortearam?

Acima de tudo, fazer um disco que nos deixasse felizes, com canções que representassem os Norton atuais. Com os quatro membros a viver em cidades diferentes, em Portugal, o método de composição e de gravação tornou-se diferente do habitual. Isso acabou por ser também uma forma de reinvenção na escrita das canções e, por conseguinte, moldar o resultado final. O objetivo foi trabalhar da melhor forma através da situação que nos rodeava, nessa altura. Quanto às letras, abrimos o leque do nosso vocabulário para nos aproximarmos mais das pessoas através de pontos de vista mais particulares.

 

Este álbum esteve para ser lançado em março, mas devido à pandemia acabou por ser adiado. Foi a decisão mais acertada?

Na altura, foi o mais correto, mas uma decisão muito difícil. Tínhamos cerca de dez datas marcadas para apresentar o álbum que, por razões óbvias, foram canceladas. Para nós, não fazia sentido avançarmos sem ter palcos para o apresentar.

 

O álbum Heavy Light, na vossa opinião, fechou um ciclo. E este novo disco que surge seis anos depois?

O Heavy Light marcou um momento mais adulto na vida da banda. É o reflexo da evolução do nosso percurso e das nossas vidas, e das muitas etapas que enfrentámos juntos para chegar aqui.

 

E já agora, quais as razões para um intervalo de tempo tão longo entre lançamentos?

Acaba por vir no seguimento da resposta anterior. Fomos pais, mudámos de cidade, de emprego. No entanto, tivemos mais tempo para olhar em redor. O longo processo de composição permitiu darmos mais atenção ao que nos rodeia e pensar nas canções até ficarmos plenamente satisfeitos. O facto de sermos uma banda 100% independente também nos dá espaço para podermos prolongar todo este processo. Calhou ser este o disco que se tornou mais demorado.

 

Como definiriam este vosso novo trabalho?

É um trabalho autêntico e o melhor retrato dos Norton de agora. O álbum que mais se liga com quem nos ouve e com quem gosta de nós.

 

Curioso é o facto de os vossos álbuns terem lançamentos no Japão. Aconteceu o mesmo com este?

O Japão é um amor muito antigo. Infelizmente, depois de alguns esforços para continuarmos a parceria com a nossa editora japonesa, não foi possível com este disco.

 

Na vossa opinião, a que se ficará a dever tal opção? Têm tido feedback dos fãs japoneses?

O nosso segundo disco, Kersche, foi o primeiro a receber uma edição por lá, em 2008. Esta relação surgiu quando fomos contactados por um A&R norte-americano que estava à procura de bandas europeias para serem editadas no Japão. A partir daí, todos os discos foram editados em simultâneo com o lançamento em Portugal. Ser ouvido do outro lado do mundo é uma sensação indiscritível. Apercebemo-nos do feedback do nosso público japonês quando lá estivemos em digressão. Nos concertos, cantavam as nossas canções! Todas as palavras são poucas para descrever o que foram aqueles dias.

 

Portanto, já tiveram a oportunidade de ir lá tocar. Qual foi o sentimento?

Sim, em 2015 fizemos uma digressão em Tóquio e foi além das nossas expetativas. Acima de tudo, sentimo-nos em casa, pela excelente forma como fomos recebidos. Era um sonho que tínhamos e somos mais felizes hoje por o ter concretizado. 

 

Já conseguiram apresentar este disco ao vivo ou ainda não? E tem alguma coisa prevista para o futuro?

Conseguimos por três vezes: em Castelo Branco, Coimbra e Valência (Espanha). Apesar desta altura conturbada, foram as oportunidades possíveis que nos permitiram escapar para estes palcos e apresentarmos, em primeira mão, as novas canções. No futuro, esperamos retomar o plano inicial e tocar, finalmente, o Heavy Light em todos os lugares possíveis. Mal podemos esperar por voltar à estrada, estar com as pessoas e recuperar a vida que ficou em suspenso.

 

Muito obrigado!

Muito obrigado, nós. Longa vida para o Via Nocturna!

[Fotos por: Arlindo Camacho]

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