Reviews: Gavin Harrison & Antoine Fafard, Banda Zé Ninguém, Neurotox, Scatterface, Holy Mother


Chemical Reactions (GAVIN HARRISON & ANTOINE FAFARD)

(2020, Independente)

Há já algum tempo que Antoine Fafard tem espalhado o perfume do seu baixo em discos de prog/fusão de classe elevada. Mas sempre com a clarividência de nunca deixar que o seu instrumento ofuscasse os dos seus companheiros. Esse altruísmo volta a ficar bem patente no seu novo registo, onde até divide os créditos do título com Gavin Harrison (Porcupine Tree, King Crimson), extraordinário baterista. Mas, apesar de só estes dois nomes aparecerem na capa, o destaque deste Chemical Reactions também deve ser extensível a Jerry Goodman, com um sensacional desempenho no violino e à orquestra que os acompanha em alguns temas (Holding Back The Clock, Chemical Reactions), a Janacek Philharmonic Orchestra. A faixa de abertura, Transmutation Circle, mostra toda essa complexidade rítmica com Fafard e Harrison a conduzirem o tema por labirínticos pormenores. Como aliás acontecerá ao longo de todo o disco. O tema mais longo deste disco tem mais de dez minutos e é Proto Mundi, onde se pode ouvir as sincopadas tensões rítmicas exploradas pelo duo. O violino de Goodman exprime-se ao longo de todo o disco, mas será em Singular Quartz onde atinge o seu ponto máximo de eloquência. [85%]



The Singles Collection 2020 (BANDA ZÉ NINGUÉM)

(2021, Independente)

Durante o ano de 2020 a Banda Zé Ninguém foi gravando ideias e lançando singles. Foram, no total 11 faixas criadas dentro dos mais variados géneros. Da música alternativa à eletrónica, passando pelo celtic punk, psychobilly, ska, dub e reggae, o coletivo bracarense não sentiu dificuldades em criar canções para todos os gostos. O presente álbum reúne todos esses temas dispersos ao longo de um ano e confirma que, no conjunto, estes temas não resultam tão bem como em separado. A falta de uma linha condutora é notória e apesar de ser uma banda a cumprir o seu 20 aniversário, continua a revelar-se pouco compacta, havendo muitas arestas a limar, nomeadamente no setor vocal. [66%]



Egal Was Kommt (NEUROTOX)

(2021, Metalville Records)

Os Neurotox não perdem tempo e apresentam com Egal Was Kommt, o seu quinto disco em seis anos de existência. E o que nos trazem são descargas cheias de adrenalina, boa disposição e despretensiosas de um punk rock feito como manda a tradição... mas adicionado de alguns extras significativos. Dentro desses extras, referem-se os apontamentos acústicos introduzidos aqui e ali e que culminam num tema totalmente em versão unplugged, Ewiges Kind. Já o tema título embarca no campo do ska com os sopros a mostrarem-se atrevidos e o baixo a conferir um swing único. Também Ich Hasse Menschen se revela um tema evoluído de classic rock, com vocais polifónicos, boas harmonias da guitarra e um dos raros solos do álbum. Como se percebe, os melhores momentos de Egal Was Kommt estão guardados para a segunda metade. Já a primeira mostra-se mais direta e básica (se excetuarmos o excelente tema que é Auf All Meinen Wegen), numa tentativa, provavelmente, de agarrar os fãs de uma forma rápida. [76%]



2020 (SCATTERFACE)

(2020, Echozone)

Scatterface é o nome de um artista, produtor e compositor sedeado na Alemanha. E o primeiro aspeto a mencionar neste seu trabalho é a ampla variedade de abordagens – desde momentos acústicos, deliciosos pianos, trompetes até vocais death metal e batidas techno, de tudo se pode encontrar em 2020. Também musicalmente se pode observar essa discrepância: desde temas atmosféricos (Path Of The Sun), passando por canções arrebatadoras pela sua emotividade (Lust II ou Endless Rain) até faixas minúsculas e sem sentido (2020, Apnoea) ou outras despidas de conteúdo (We All Float), este disco é uma verdadeira manta de retalhos. O projeto é criado na Alemanha e consubstanciado com a colaboração a todos os níveis (deste o musical ao artístico) de músicos espalhados por todo o mundo. A ideia é fomentar a diversidade e a transversalidade, mas o resultado é pouco consistente e são mais os momentos descartáveis do que os memoráveis. [66%]



Face This Burn (HOLY MOTHER)

(2021, Massacre Records)

Os Nova-iorquinos Holy Mother estão de regresso, 18 anos após o seu último lançamento Agoraphobia, fruto da reunião dos dois membros fundadores e principais compositores Mike Tirelli e James Harris. E regressam perfeitamente atualizados para a nova sonoridade do metal, com um disco compacto, poderoso, musculado com riffs densos, graves e agressivos. E também diversificado. O primeiro momento a promover alguma diferenciação qualitativa só surge em No Death Reborn, mas a partir daí há espaço para a inovação. Prince Of The Garden é a canção mais evoluída em termos de composição trazendo para os dias atuais as influências grunge de uns Alice In Chains; Wake Up America e Mesmerized By Hate têm uma abordagem stadium rock (Def Leppard e afins), mas plenamente atualizada e modernizada; Today traz colossais riffs de peso intenso; The River entra no speed metal e Superstar fecha este disco com o momento mais melódico em jeito de uma estranha balada. [74%]

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