Chegou, finalmente, a altura de colocar um
ponto final na trilogia que Simone Terigi e o seu projeto Lucid Dream iniciaram em 2013 com The Eleventh Illusion e continuaram em 2016 com Otherwordly. A parte final traz como título The Great
Dance Of The Spirit e foi com este álbum em mente, mas sem descurar toda a
história que ficou para traz que fomos conversar com o eloquente e meditativo Simone
Terigi.
Olá Simone, obrigado pela tua disponibilidade para esta
entrevista! Espero que esteja tudo bem contigo nestes tempos de crise...
Olá e obrigado. Tudo
bem, vamos em frente apesar de tudo. São tempos difíceis para a arte, mas
também para muitas outras categorias. Estou a tentar não perder tempo. Estou a gravar
um novo álbum dos Lucid Dream e também a fazer outros projetos... É um
momento que parece quase nos obrigar a trabalhar "dentro de nós
mesmos".
Este novo álbum, The Great Dance Of The
Spirit, está incluído e encerra uma trilogia. Importas-te de descrever em
que consiste e como termina neste capítulo final?
A trilogia começou com o segundo álbum The Eleventh
Illusion, depois Otherworldly e finalmente The Great Dance Of The
Spirit. Representa a grande exploração que podemos fazer dentro de nós
mesmos, enfrentando ilusões, medos, sofrimentos que residem nas nossas
profundezas. Explorando a sombra, podemos refinar a nossa energia interior e
empurrarmo-nos para as subtis dimensões do Espírito. No álbum Otherworldly
a ilusão é quebrada, como também sugerido pelas imagens. A primeira música da
trilogia é The Gates Of Shadows, a última é Wakan Tanka, alfa e ómega.
Esta última canção representa a dimensão mais subtil que já percebi e traduzi
em música, num mantra que glorifica o absoluto incognoscível. É o paradoxo do
ser humano: experimentar o infinito em roupas mortais.
Este álbum tem um título muito místico. Qual o seu significado e
de que forma surgiu?
O título
representa a vida, uma grande dança na qual estamos entrelaçados. Ao longo do
caminho encontramos pesquisa, luz e sombra, dificuldade, amor, paixão, energia,
sorrisos e lágrimas... Somos uma pequena célula de uma dimensão inescrutável
que chamamos de Espírito. Wakan Tanka significa Grande Espírito na
língua de alguns nativos americanos. Utilizei esse nome que me pareceu muito
bom, representando o anónimo, o Tao, o Espírito, o Estranho Invisível. Tens que
ser sanguinário como um leão e indefeso como uma gazela para o alcançar. Este
álbum fala do último esforço para alcançar o topo. Pegando na tracklist
poderíamos criar uma história deste novo álbum... Além da parede de fogo, da
mente racional, com muita energia honramos o Rei de todos os mundos, com a
eternidade sempre ao nosso lado, vencendo as últimas adversidades, vestindo-nos
nas estrelas, no reino do além, viajando pelo cosmos, encontrando com toda a
força do coração o Estranho Invisível... tudo é Uno! Cada música representa uma
experiência profunda que vivi nas minhas pesquisas, meditações, trabalhando arduamente.
Todo este conceito foi criado somente por ti ou trabalhaste em colaboração
com mais alguém?
Digamos que esse
conceito está escrito na minha pele. Para mim, é natural impressionar as minhas
pesquisas musicais. Diria que uso a arte exatamente para isso! Aí tive ótimos
músicos que tiveram a sensibilidade de mergulhar nessas dimensões e ajudaram-me
a dar vida ao trabalho. Roberto Tiranti, por exemplo, conseguiu dar voz
a Wakan Tanka que é a música mais "delicada" do álbum. Achei
que demoraria muito e depois de lhe enviar as audições, a primeira versão já
era a certa! Com certeza também porque o Roberto é um grande artista!
De que forma selecionaste os músicos que tocaram contigo neste
álbum?
Roberto Tiranti é um
amigo e pedi-lhe para gravar o baixo. Na verdade, além de ser um grande cantor,
ele também é um baixista excecional. Por isso, durante o trabalho ele também
quis cantar algumas músicas e fiquei muito feliz! Karl Faraci substituiu
Alessio Calandriello em todas as outras canções. Ele cantou o primeiro
disco a solo do meu amigo Pier Gonella e o disco dos Arca Hadian.
Ele tem uma voz linda e calorosa. PaoloPaolo Tixi já tinha tocado no Otherwordly.
Luca Scherani tocou teclado. Somos professores na mesma escola de música
e ele é o teclista de La Coscienza Di Zeno, onde Alessio é o cantor.
Para as cordas Sara Calabria e Andrea Cardinale já tinham tocado
no álbum anterior, gravando The Theatre Of Silence. Adicionei Rachele
Rebaudengo, que toca muito com Andrea, no violoncelo. Enfim, houve uma boa
rodada de músicos! Nicola Sannino e Emanuele Morena gravaram e misturaram
as músicas. Temos colaborado há vários anos. Simone Mularoni, grande
guitarrista e engenheiro de som, tratou da masterização.
Como descreverias toda a trilogia e, especificamente, este novo
álbum, para quem não conhece o teu trabalho?
É música, é
melhor não a descrever, mas escutá-la e vivê-la.
Além da música, os aspetos gráficos também são relevantes. Quem foi
o responsável por essa parte e quais foram os teus objetivos?
Nicoletta Mignone é a designer
gráfico que criou as imagens. Ele também criou as imagens dos trabalhos
anteriores. Representam o que vais encontrar na música, mas através de símbolos
e imagens, cores, formas... E é um aspeto importante, acho que acrescentam
sentido ao conteúdo das canções e, como a música, dialogam diretamente com o
nosso íntimo. Em cada álbum, as imagens adicionaram sempre conteúdo oculto ao
conceito. As ilusões e o trabalho de escurecimento em The Eleventh Illusion.
A quebra do feitiço que nos aprisiona no Otherwordly (sim, nós próprios quebramos
os espelhos, a fotógrafa Laura Bianchi e eu, numa espécie de ato
mágico!). A revelação de dimensões subtis em The Great Dance Of The Spirit...
Tudo tem o seu significado próprio e haveria muito para te contar e muitos
níveis de interpretação.
Foi nesse sentido que já criaram alguns vídeos a partir das
músicas deste álbum. Quais foram as músicas escolhidas e porquê?
Sim, escolhi as
imagens que tratavam de canções específicas e fiz os lyric-videos e o
videoclipe, exceto em The War Of The Cosmos onde usei as fotos da
pintura spray feita no teto da minha casa pelo meu amigo Max Romano!
O tema ficou perfeito! Agora estamos a fazer um lyric-video de Desert
Glass. Em Wakan Tanka usamos o fundo do booklet que é a foto
do riacho azul que flui das minas de Libiola, perto de onde moro. Um lugar
mágico onde também filmamos parte do videoclipe Wall Of Fire. Também
usamos a imagem da porta corta-fogo no final do booklet. Notaste o
símbolo no chão em frente à porta? O mesmo símbolo é a forma da fechadura da
porta... É um antigo ideograma chinês que indica Shen. É a forma mais subtil
de energia que pode ser refinada no corpo humano e também indica uma energia
suprema além de nós mesmos. Sou apaixonado pela cultura oriental. Quando falo
de energia, estou a referir-me ao Chi Kung e aos estilos internos de Kung
Fu. Tudo isso foi sempre uma fonte de inspiração e transformação para mim.
Portanto, para cruzar as barreiras da mente racional e ir além, precisamos do
selo do Espírito! Se olhares com atenção, perto da porta está também a imagem
espiritual de Luna, a gata mágica que me acompanha há muitos anos aqui
na terra, agora falecida. Luna pode ser encontrada em todos os trabalhos
anteriores! Há muitos anos sonhei com um homem vestido de estrelas que me deu
uma pasta no deserto, nunca o esqueci e ele tornou-se o símbolo dos Lucid
Dream! São tantas outras coisas escondidas, tenta encontrá-las!
Paralelamente à música tens desenvolvido algumas outras
atividades culturais. Podes falar um pouco delas? De que forma se cruzam com
Lucid Dream?
Faz parte da
minha pesquisa... ultimamente tenho feito um projeto muito especial em que a
primeira parte está quase acabada. Tenho que encontrar uma forma de a publicar.
São meditações guiadas em intervalos musicais. Escrevi sugestões hipnóticas
recitadas por Roberto Tiranti para levar o ouvinte a estados
particulares de consciência que cada intervalo evoca. Ouvir intervalos musicais
num estado meditativo, sem harmonia de fundo é uma experiência arquetípica. Estou
a trabalhar nisso há muitos anos. Estamos a criar uma versão em italiano e outra
em inglês. Escrevi dois livros sobre esses tópicos, o primeiro também traduzido
para inglês, mas queria criar algo mais prático e experiencial. Ensinar é
sempre uma parte importante da minha vida, é o meu sustento nestes tempos
difíceis!
Mais uma vez Simone, muito obrigado por esta entrevista! Queres
deixar alguma mensagem para os vossos fãs?
Nestes tempos,
tudo corre muito rápido e parece que as pessoas estão cada vez mais
hipnotizadas pela “grande máquina”. Agradeço sinceramente a todas as pessoas
que dedicaram algum tempo a si mesmas ouvindo a música dos Lucid Dream
com profundidade de alma. Espero que estas obras transmitam bons momentos, boas
vibrações, beleza, centelhas de eternidade, consciência, iluminação!
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