Entrevista: Al Mouraria



A guitarra portuguesa, viola acústica, contrabaixo, percussões, acordeão e outros sopros, são os instrumentos que acompanham os novos temas do álbum Com Vida de AL Mouraria. O mais recente álbum, sétimo disco do grupo, tem a sua edição numa altura de pandemia nacional e o título escolhido acaba por ser uma mensagem que AL Mouraria deseja passar e que Valentim Filipe acentuou nesta conversa com Via Nocturna: que estamos vivos, que temos de nos manter vivos com todos os cuidados necessários, que a vida continua e temos de seguir com as nossas vidas em frente enfrentando as vicissitudes do momento.

 

Olá Valentim, obrigado por despenderes algum tempo com Via Nocturna. Os Al Mouraria são um projeto diferente no panorama musical nacional. Sentem isso e sentem que a vossa abordagem diferenciada tem sido enriquecedora? Como é que tudo começou e de que forma analisam o vosso percurso ao longo de quase duas décadas de existência?

Sempre quisemos ser diferentes: desde logo o facto de incluirmos instrumentos que não eram tradicionalmente aceites como o acordeão e outros sopros, o termos sempre duas cantoras e até o facto de incluirmos desde o início percussões, coisa que agora vai sendo habitual, mas que na altura, e falamos de há mais de dezassete anos, chocou muita gente.

 

Entre fado mais ou menos tradicional, há espaço para muitas outras incursões em diferentes géneros musicais. De que forma isso acontece ou é trabalhado?

Em gravações tentamos sempre ser um pouco mais contidos alternando entre o fado mais tradicional e outros temas que embora mais ligeiros não deixam de ter a génese do fado. Nos concertos libertamo-nos mais um pouco e fazemos incursões até à dita música tradicional. No entanto nisto até nem somos inovadores já que a própria Amália Rodrigues já o fazia cantando “malhões” e “cantigas da Beira Baixa” nos seus concertos e, sem que por isso deixassem de ser concertos de fado.

 

E sabemos que este formato tem sido bem aceite até lá fora. Já tiveram oportunidade de tocar fora do país? Como foi a experiência?

Ultimamente não tem acontecido muito, mas houve um tempo em que eram frequentes os convites e várias vezes atuámos em países como Espanha, Marrocos e Cabo Verde.

 

Quanto a Com Vida, como e onde nasceu esta ideia de juntarem todos estas vozes (e não só) neste projeto?

Depois do trabalho Fado Tango de 2014, considerado pela crítica como um dos melhores CDs do ano, mas que por razões várias acabou por não ter da parte do público a aceitação que esperávamos, apoderou-se do grupo uma espécie de desencanto e desilusão, o que levou a que alguns elementos resolvessem seguir outro caminho mais direcionado para os projetos individuais. Assim, com a saída das duas cantoras que estavam connosco há cerca de dez anos, abriu-se a oportunidade de no CD seguinte fazermos a convite a várias e diferentes cantoras para participarem o que veio a acontecer, daí que o nome inicialmente pensado tivesse sido Convida (associado aos convites), tendo depois evoluído para Com Vida.

 

De que forma é feito o trabalho de composição na banda?

A escolha dos temas é normalmente feita por mim, que sou o leader. Depois de apresentados ao grupo é ele próprio que começa os trabalhos de composição elaborando as primeiras ideias e esboçando os arranjos que são posteriormente trabalhados e definidos nos ensaios com o resto do grupo.

 

Os trabalhos de gravação e produção deste disco decorreram da forma prevista ou sentirem algum tipo de dificuldades?

As gravações começaram em novembro de 2019 com intenção do CD sair em março/abril do ano seguinte. Tendo as gravações terminado na primeira quinzena de março e já com os fortes sinais da pandemia a afetar-nos, o resto do trabalho (misturas, masterização, etc.) foi já feito à distância por meio de tele chamadas e vídeo conferências.

 

De que forma a presente situação de pandemia vos afetou e como tem tentado superar a mesma?

Afetou-nos como decerto afetou a maioria dos artistas. Acabámos por fazer à distância com cada um na sua casa, alguns vídeos e tocámos nalguns concertos organizados por autarquias em streaming feitos sobretudo no Natal. Tudo, no entanto, a saber a pouco.

 

Obrigado! Querem enviar alguma mensagem?

A mensagem que gostaríamos de enviar está no título do CD. Efetivamente Com Vida acaba por ser uma mensagem de esperança e a certeza de que vamos superar este terrível momento com força e com vida.

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #48 VN2000: My Asylum (PARAGON)(Massacre Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)