Art Of Agression foi o EP de 2010 que fechou o
ciclo dos promissores thrashers nacionais Angriff. E se há coisas boa
que a pandemia trouxe, uma delas foi que José Rocha, com mais tempo, começou a
sacar uns riffs e o resultado foi o regresso aos discos deste veterano
da cena nacional. Poderia ter sido com um novo projeto, mas a escolha acabou
por recair na opção de ressuscitar os Angriff. E ressuscitar é o termo certo
quando esse regresso se faz com um Sodomy In The Convent, quase
totalmente voltado para a questão da religião. José Rocha e OJ Laranjo foram os
nossos convidados nesta conversa.
Olá, José! Obrigado pela disponibilidade. No início do século os Angriff
surpreenderam com dois excelentes álbuns, em 2001 e 2006. Em 2010 ainda houve
um EP, mas depois pararam. O que aconteceu?
JOSÉ ROCHA (JR): O que aconteceu foi que depois de alguns anos ativo sem parar com concertos, ensaios, composições e mudanças de line up constantes (inclusive no meu caso, até de instrumentos) seguiu-se uma saturação natural da minha parte, de quem andava nesta vida há 20 anos… aconteceu-me o mesmo com a Rádio, deixei de me interessar e entusiasmar com o que se estava a fazer e resolvi parar e dedicar o tempo que dedicava à banda, aos eventos.
E o que motivou o vosso regresso passado tantos anos?
JR: O
regresso de ANGRIFF nunca esteve nos planos, aconteceu devido ao facto
de estar parado a nível de organização de concertos fruto da pandemia e de
estar mais tempo em casa, tendo voltado a pegar na guitarra e ter “sacado” uns riffs
engraçados. Como já tinha ideia de avançar para um projeto individual há alguns
anos fui compondo temas atrás de temas; mostrei a alguns amigos que me disseram
que soava a ANGRIFF e que deveria gravar isso com o nome da banda etc,
um dos quais o OJ Laranjo, que foi nosso vocalista na era Under The Decadence
e que ainda continuava a tratar da página da banda nas redes sociais. Além
disso, independentemente do nome que o projeto teria, ele seria sempre o
vocalista ou no mínimo quem iria escrever as letras. Após ponderar muito
resolvi avançar com os temas sob o nome de ANGRIFF e em boa hora o fiz.
Durante este período, certamente estiveste envolvido noutros projetos.
Queres fazer referência a alguns deles?
JR: Não
estive envolvido em banda e parei de tocar bateria… só tocava às vezes guitarra
em casa e já tinha alguns riffs e até dois temas antigos dos tempos de ANGRIFF.
Um deles chegou a ser tocado ao vivo em 2006 mas nunca foi gravado e outro
nunca o mostrei à banda que era a The Baron of Doom porque era diferente
do que fazíamos. A nível de organização de eventos, iniciei o Penalva
Rocks (entretanto já extinto), Viseu Rockfest e Tondela
Rocks; voltei também a organizar algumas datas de grandes bandas no Hard
Club e RCA Club.
E agora regressas em formato mais curto – apenas um duo – juntamente com o
OJ Laranjo. Tu já tinhas estado no Under
The Decadence, certo? Como foi essa reunião ou nunca chegar a estar
afastados?
OJ LARANJO (OJL): Sim eu já tinha estado na banda de 2004 a 2007, tendo
gravado o Under the Decadence, e contribuído também com três temas para
o seguinte EP Art of Aggression. Na realidade, apesar de ter saído da
banda em 2007, isso não abalou a relação de amizade e proximidade que tinha com
o Rocha. A meio de 2020 ele abordou-me para lhe escrever uma letra para um
tema, e passadas algumas semanas, após várias conversas, disse-me que tinha
escrito vários riffs, que poderiam eventualmente tornar-se em novas
músicas. Curiosamente esses temas até seriam para um projeto à parte, mas a
semelhança sonora com ANGRIFF era tanta, que decidimos “ressuscitar” a
banda e avançar com este novo álbum.
Entretanto, passaram muitos anos. Achas que o nome Angriff ainda traz
lembranças a muita gente?
JR: É
natural que para muitas pessoas sim, pois chegámos a abrir para grandes bandas
de nível mundial, mas depende das gerações. A alguns miúdos que chegaram agora
ao Metal somos uma banda nova, talvez tenham ouvido falar de nós e até
poderão ter ouvido qualquer coisa ou ter visto um vídeo no youtube,
porventura.
Este regresso faz-se com música nova. De que forma olhas para este vosso
novo registo?
OJL:
Acima de tudo, o mais importante é mesmo tanto eu como o Rocha estarmos
satisfeitos com o resultado final, e ambos estamos certamente contentes com o
álbum, apesar de, só conseguires perceber realmente o impacto do mesmo passados
alguns anos, todavia, creio que se nota uma clara evolução, quando comparado
com trabalhos anteriores. Acho que escrevemos o melhor álbum possível para
agora.
JR: Olho
para o registo com orgulho pelas condições especiais em que foi feito, foi um
processo muito rápido, o facto de estarmos a viver um período ímpar, estranho,
novo ou o facto de ter arriscado gravar todos os instrumentos sem ter a certeza
que conseguiria constituiu um verdadeiro desafio! O OJ também não teve tempo de
corrigir algumas coisas dado não viver em Portugal e tivemos que aproveitar um
dia de férias dele para gravarmos numa tarde a voz em 9 temas. Além disso
outros fatores pessoais que me aconteceram este ano afetaram-me muito e o álbum
foi a terapia perfeita. Claro que se tivesse sido planeado e se houvesse mais
treino em todos os instrumentos poderia ter ficado melhor e hoje já alteraria
algumas coisa mas a ansiedade faz parte de mim e não me deixou (risos) e por
todos estes factos fiquei bastante satisfeito e orgulhoso do resultado final.
A pandemia acelerou o teu regresso aos Angriff e aos discos ou nem por isso?
JR: A
pandemia foi a única responsável pelo regresso. Quero também realçar que os
temas que eu quis gravar mesmo, fosse sob o nome de outro projeto, não teriam
nenhuma alteração instrumental.
Como conseguiste o Chris Holmes para um solo?
JR: Como
sabes trouxe o Chris ao Mangualde Hardmetalfest e a partir daí
mantivemos contacto e como queria ter um convidado sonante no disco, lembrei-me
dele pois seria um “sonho impossível”, já que tanto eu como o OJ somos grandes
fans de W.A.S.P.. Falámos-lhe dessa ideia e ele aceitou, apesar de não
ser o tipo de sonoridade à qual ele está habituado, mas por mim bastavam dois
segundos que já seria um orgulho!
Para além dele, também o António Baptista contribui com dois solos. Na tua
opinião que mais-valias estes nomes trazem a Sodomy In The Convent?
OJL:
Quando começámos a estruturar os novos temas, ficou claro que alguns deles beneficiariam
em ter solos de guitarra. Um dos temas ficou “reservado” para o Chris Holmes,
e nos restantes dois, a nossa intenção foi sempre ter o António envolvido, até porque
ele conhece a nossa sonoridade e nós sabemos o tipo de solos que ele consegue
fazer. Foi no fundo a combinação de dois mundos próximos um do outro. Ambos os
solos acabaram por conferir ainda mais personalidade às músicas.
Liricamente, este é um disco claramente apostado na critica às religiões.
Pode ser considerado um álbum conceptual?
OJL: Não
é um álbum conceptual, pelo menos não na forma tradicional, como um The
Crimson Idol ou Operation Mindcrime. São temas focados na religião
(à exceção da música Savage Deeds) mas que não seguem uma linha de
história como habitualmente acontece em álbuns conceptuais. Ainda assim, é
indubitavelmente o trabalho mais próximo de um álbum conceptual que alguma vez
escrevemos.
O que têm previsto para quando a pandemia passar?
JR:
Gostaria de voltar à minha atividade normal, de realizar os cartazes dos festivais
que tive que adiar e depois logo se vê se haverá mais qualquer coisa. Sabes que
este período completamente estranho veio alterar muitas coisas que antes
pareciam fáceis e que agora poderão não ser, não vale a pena fazer planos,
estou bastante saturado e desiludido… estamos de mãos atadas, não podemos fazer
nada sem que isto volte ao normal ou então teremos mesmo que nos adaptar a
novas realidades... veremos!
Obrigado. Querem acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado
nesta entrevista?
JR: Obrigado
Pedro, ouçam o nosso álbum, divirtam-se e apreciem as coisas boas da vida!
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