Envoltos em mistério, os Master Dy são uma das
primeiras grandes surpresas deste ano e o seu álbum de estreia Unknown Sound é muito mais
que uma sonoridade desconhecida. É conhecida e deve ser apreciada. A líder do
projeto, Dy MooB, irradia simpatia e espiritualidade e falou abertamente
(dentro do possível) deste projeto, avançando já os próximos passos previstos.
Olá, Dy, obrigado por despenderes algum tempo com Via Nocturna. Os Master
Dy nasceram em 2019, sendo, portanto, uma banda jovem. Mas, neste curto espaço
de tempo, como tem sido a vossa existência?
Bom, a banda é jovem, mas a
experiência dos músicos em questão é grandiosa e desde o começo eu já tinha em
mente tudo o que eu queria materializar no projeto, e infelizmente por causa da
pandemia houve alguns atrasos e temos estado apenas a ensaiar, compor e
estreitar a afinidade já que a convocação dos membros é relativamente mais
recente do que a formação da banda.
Como e de onde nasceu esta ideia de se juntarem neste projeto?
O projeto nasceu nas minhas
mãos, estava eu ainda sozinha e tinha chegado a Portugal há apenas 3 meses, não
conhecia ninguém por aqui e durante uma crise de TBT do qual sofro resolvi dar-me
mais uma oportunidade, depois de 17 anos na música e de várias experiências que
não me fizeram feliz. Fundei os Master Dy com o objetivo de ser uma
autoajuda e uma forma de descarregar a minha energia criativa em algo novo.
Portanto, já tinhas tido outras experiências musicais anteriormente. Ainda
manténs outros projetos em simultâneo?
Sim, comecei na música em
2004 em carreira solo, passei por 3 ritmos antes de me focar no que eu
realmente queria que é o metal, tive uma banda que até teve algum destaque em
2013 com públicos grandes, mas era um tipo de rock que ainda não me satisfazia, pois era um Rock nacional brasileiro e ainda
me deixava a desejar algo mais imponente. Já os outros músicos têm os seus
projetos pessoais, que por questões contratuais não podem ser revelados, mas as
suas experiências variam entre 10 e 20 anos na música. Um dos nossos músicos já
fez participações recentes com os Angra, outro dos nossos músicos tem
grande destaque internacional na sua carreira pessoal e a maioria deles é
multi-instrumentista foi incrível vê-los chegar e mergulhar neste projeto,
entregando as suas vidas a Madre como quem vende a alma ao diabo (risos).
Algum significado para um nome como Master Dy? Como surgiu?
Como eu sempre fui uma
mulher guerreira que tem o costume de fazer tudo sozinha, eu quis auto-homenagear-me
e coloquei o nome de forma a me enaltecer a mim mesma, e como a proposta da
banda claramente mostra que eu vim das “profundezas” para apoiar os desfavorecidos
então a junção do nome Master ao início do meu nome Dy para fixar a ideia de
ser mestre de si mesmo.
Que nomes ou movimentos mais vos influenciam? De onde vem a inspiração para
os vossos temas?
Comecei a banda sob a
influência da banda Ghost e também tinha inspiração nos Powerwolf,
mas como sempre gostei de algo mais frenético, fazer uma música totalmente no estilo
dos Ghost não estava dentro dos planos, por isso deles usei apenas a
parte teatral como inspiração e algumas técnicas de voz; já dos Powerwolf
vieram as maiores inspirações para o teclado que foram compostas pelo Draco
que foi o terceiro integrante que convoquei; para os riffs, as partes que eu compus,
inspirei-me um pouco em Dragon Force e dei espaço para mais inspirações
vindas de black e death metal que eram do estilo criativo do Draco e abri
também espaço para uma pegada nórdica da qual eu gosto muito que foi agregada a
duas composições através do primeiro personagem Perseus que tivemos. Já
as letras faço questão de compor. Claro que eu não ia ser egoísta a ponto de
rejeitar o processo criativo de um dos membros, portanto o Perseus
apresentou as ideias praticamente completas da Swords Against God I e II, eu fiz algumas adaptações
e o Draco compôs a parte instrumental; aquilo agradou-me e agregamos ao álbum.
A banda está envolta em algum mistério, com pinturas faciais e nomes
artísticos. Porque tomaram esta opção?
Resolvi fazer assim, porque
o foco principal era contar a história e criar uma conexão profunda com as
pessoas sem precisar exatamente de rostos humanos para isso; além do mais a Madre
Emerittus, o meu personagem em homenagem aos Ghost, é muito ciumenta
com a atenção do público, por isso esse mistério todo em torno dos integrantes
que tem contrato para manterem as suas identidades em sigilo até onde nos for
necessário.
Aliás, todo o conceito em torno da banda está muito bem elaborado. Podes
falar um pouco dessa temática?
Durante estes 17 anos, tenho
estudado várias formas de me conectar com as pessoas, mas o direcionamento mais
acentuado aconteceu durante a faculdade de marketing que cursei onde tive a oportunidade de fazer uma
pequena extensão em marketing musical oferecida pela faculdade de Harvard a
alguns alunos da nossa turma de 2016. Nesse período consegui compreender melhor
como transmitir através da minha arte que é a música, as mensagens que a minha
mente queria passar e fui me especializando nesse campo ao mesmo tempo que
desenvolvia o meu talento na escrita e elaboração de melodias que ativassem um
gatilho mental facilitando a minha conexão com as pessoas. Nunca quis fazer
isso de qualquer maneira, esperei até ter um projeto como este para poder
expressar os meus pensamentos, porque o que faço aqui não se trata de fazer
música para ser mais do que ninguém, ou para competir com outros músicos, trata-se
apenas da mensagem, da conexão e às vezes até de ajudar outras pessoas com
problemas a se expressarem ouvindo a nossa música.
Os Master Dy apresentam essa frase muito forte que é “connecting people
piece by piece”. O que pretendem enfatizar com essa afirmação?
Essa frase tem duplo
sentido, mas na verdade o que queremos dizer com isso é: uma pessoa que se está
a sentir destruída, normalmente sente-se aos pedaços, uma pessoa quando está em
crise seja depressiva ou por algum transtorno, sente-se despedaçada. Quero
mostrar que podemos juntar os pedaços juntamente com os pedaços de outras
pessoas e formar algo maior, juntar pedacinho com pedacinho de momentos ruins e
superar isso e transformar em algo bom.
Unknown Sound é o vosso primeiro e muito promissor álbum. Como decorreu
todo o processo de composição e gravação que, suponho, tenha já decorrido em
plena fase pandémica?
O álbum demorou cerca de 18
meses para ser concluído. Nos primeiros 5 meses eu estive a trabalhar nele sozinha,
depois chegou o Perseus que foi o primeiro baixista e em seguida o Hydra
que foi um baterista e logo depois o Draco. Cada um foi contribuindo um
pouco, mas o Draco foi essencial na transformação das minhas guias
iniciais em música, e também na elaboração de melodias novas que ainda faltavam
para completar as letras que eu já havia composto. No momento em que eu estava
em busca de integrantes para a banda eu já estava a fechar com a HNM Entertainment
para produção do álbum, pois já tinha em mente o tipo de trabalho que queria
desenvolver, e quem entrasse já ia pegar o bonde andando, com álbum em andamento,
patrocínio inicial e toda a divulgação básica que devemos ter para um
lançamento de estreia.
Assim, na tua opinião, Unknown Sound tem tudo
aquilo que a banda pretendia mostrar nesta fase?
Sim, estou satisfeita com
esse primeiro resultado, mas nós ainda queremos explorar outras nuances de
produção que podem ser feitas com essas mesmas músicas, portanto (alerta de spoiler) estamos a planear uma
versão deluxe com algumas músicas inéditas a substituir as covers e uma remaster diferenciada, talvez para
o fim do ano, ou começo do próximo.
De que forma surge uma cover de Poison de
Alice Cooper neste álbum? É um tema que frequentemente toquem ou com o qual se
identifiquem?
Alice Cooper é uma referência de como
usar a teatralidade na música e fora isso essa música é especial para mim por
conta de um amor platónico que vivenciei e eu ouvia esse som enquanto caia em
longos períodos de insónia pensando naquele ser intocável. Isso desencadeou
diversas crises emocionais e um misto de doçura, desejo e ódio que combinam com
a personagem da Madre Emerittus, portanto além de uma homenagem ao
grandioso Alice Cooper ainda por cima é uma forma de expressar um dos
meus momentos de loucura.
Final Breath e, precisamente, Poison foram os dois primeiros
vídeos. Que critérios estiveram subjacentes à escolha destes temas?
A Poison pelo mesmo motivo citado
anteriormente e a Final Breath é uma canção que escrevi durante a pandemia, sobre
a pandemia, sobre o medo demasiado das pessoas, por isso achei que essa canção
merecia receber um vídeo que seria estreado no nosso canal VEVO que também foi
uma grande conquista inicial da banda.
A terminar Dy, mais uma vez obrigado e dou-te a oportunidade de acrescentar
algo mais ao que já foi abordado nesta entrevista.
Eu e minhas constelações; Draco,
Perseus, Cethus, Cepheus, Aquilla e Hydra
agradecemos fortemente este espaço para falar abertamente sobre esse projeto
que se tornou a nossa vida. Eu falo em nome de todos não só porque sou criadora
do projeto, mas porque temos ganho tanta afinidade, tornamo-nos uma família e
queremos fazer um trabalho especial, não o mais rápido, não o mais bem vendido,
não estamos em competição, como eu disse, quero servir as pessoas e trazer
aquela palavra que elas precisam, deixar os meninos usarem os seus instrumentos
para tocarem as almas partidas e juntá-las todas, pedaço a pedaço!
Muito fixe, bem elaborada a entrevista!
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