Entrevista: Lunar Shadow



São muitas as diferenças que o novo álbum dos Lunar Shadow traz. Mas tudo tem um sentido para o líder desta banda que também decidiu deixar de atuar ao vivo. Aliás, The Smokeless Fire, de 2019, já tinha deixado algumas indicações, que, de facto, se confirmam num adequadamente intitulado Wish To Leave. E foi para nos falar deste novo e muito interessante registo que contactamos o vocalista e guitarrista Max Birbaum.

 

Olá, Max, tudo bem? Obrigado pela disponibilidade para esta entrevista. E o que podemos dizer é que desde The Smokeless Fires de 2019, a banda e tu próprio passaram por uma grande transformação. Podes explicar o que aconteceu?

Eu acho que Wish To Leave é apenas uma consequência lógica do que estava a começar a ficar visível em The Smokeless Fires. Vejamos, por exemplo, a música Roses, eu sabia que em 2019 a nova música dos Lunar Shadow iria mais nessa direção no futuro. Mudamos algumas coisas no som, principalmente nas guitarras. Há muito menos ganho, usei uma velha Greco-Strat de 1979 para este álbum e pessoalmente adoro o som que desenvolvemos. No entanto, também sou da opinião (e é isso que ouço muito dos nossos fãs) que ainda soa muito como Lunar Shadow, apesar de algumas mudanças e novos elementos.

 

Por que decidiram interromper todas as atividades ao vivo dos Lunar Shadow? É apenas devido à situação de pandemia ou não?

A situação pandémica não tem nada a ver com isso. Eu já queria parar de tocar ao vivo depois do nosso espetáculo em Londres em 2019, mas logo após o nosso regresso à Alemanha recebemos a oferta do festival Party.San e eu não quis rejeitar. Eu não gosto de tocar ao vivo, não gosto de viajar, estar longe de casa. Sei que outros músicos querem tocar ao vivo tanto quanto possível, mas para mim é apenas stress mental. Para ser honesto, nunca vi os Lunar Shadow como uma banda ao vivo em geral.

 

A vossa direção musical para este álbum também pode causar alguma admiração. Por que decidiram seguir este caminho? Quais foram as principais motivações para isso?

Nos últimos anos, continuamente tenho-me afastado do Heavy Metal clássico. Ainda ouço os clássicos e outras coisas favoritas, sempre ouvi, sempre ouvirei. Mas perdi o contacto com bandas mais novas principalmente porque, na maior parte das vezes, realmente não me interessam. Em vez disso, cada vez mais gostava de ouvir bandas como Interpol, The Chameleons, Editors ou Ritual Howls, basicamente numa direção Indie Rock/Post-Punk e podes ouvir isso na minha música. Simplesmente não poderia ter escrito outro álbum de Heavy Metal, isso seria falso e terias notado que é falso. Foi apenas um, como é que colocas nestas entrevistas, um “desenvolvimento natural” (risos).

 

Essa é a razão pela qual este novo álbum se chama Wish To Leave? Ou existem alguns outros motivos?

Para mim, o termo Wish To Leave, basicamente, significa mudança. Às vezes, precisas deixar certas coisas ou certas pessoas para trás para te tornares a pessoa que desejas ser. Significa trabalhar em ti próprio e esforçares-te pelas coisas que desejas alcançar na vida.

 

Esta mudança de direção musical foi um risco calculado? Sentiste que provavelmente poderias dividir a tua base de fãs?

Sem querer soar arrogante, não me importo com o que as pessoas esperam de mim, não posso fazer música e pensar em como as pessoas podem gostar ou não. Também seria fatal se eu fizesse isso. Escrevo músicas principalmente para mim. Acontece que eu achava que este álbum receberia críticas e opiniões mistas, mas devo admitir que me enganei aqui, porque a maioria dos feedbacks é extremamente positivo e o álbum foi bem recebido pelos fãs e também pela imprensa. Talvez eu tenha subestimado um pouco os ouvintes. Fico feliz que as coisas tenham funcionado dessa maneira, mas também teria lidado com mais feedback negativo. Risco seria uma palavra errada, porque estaria ligada a ambições. E eu não tenho isso com a minha banda, eu gravo e lanço o álbum que quero fazer e as pessoas gostem ou não, ambos estão perfeitamente bem.

 

Com tudo isso dito, na tua opinião, como definirias este teu novo álbum?

Maduro, crescido. Uma boa declaração e um retrato de onde me encontro neste momento da minha vida.

 

Referiste-te a Wish To Leave como o álbum da grande cidade dos Lunar Shadow. Porquê?

Sim, muitas faixas foram inspiradas em Leipzig, a cidade onde moro. No verão passado, fiz muitas caminhadas pelas ruas à noite, sozinho ou acompanhado. O vidro quebrado, as calçadas, o betão, as ruas vazias. Muitas dessas impressões foram para as canções e letras. Pela primeira vez, usei essas influências diretas do meu ambiente e trabalhei-as nas minhas canções. Foi emocionante.

 

Podemos considerar este álbum como o mais autobiográfico até agora? Porquê?

Pode dizer-se que sim, pois as letras desta vez tratam em maior medida de tópicos do meu dia a dia. Pessoas que conheci, situações que aconteceram. Amor, desespero, saudade, felicidade. Não os atiro à tua cara do género “Hoje fui ao supermercado comprar pão – solo de guitarra”, mas está lá.

 

Liricamente foste, mais uma vez, inspirado pelo aclamado autor Robert E. Howard. Que história escolheste desta vez?

Sim, And Silence Screamed é uma música mais antiga, escrevi-a há 8 ou 9 anos atrás. As letras são inspiradas em dois dos seus contos sobre Kull Of Valusia, The Screaming Skull Of Silence e The Striking Of The Gong. Procura-os!

 

O que estás a planear fazer após a pandemia?

Pessoalmente, apenas encontrar-me novamente com os meus amigos. Em grupos maiores, sentarmo-nos à mesma mesa, juntos, tomar algumas cervejas e falar sem sentido. Fumar alguns cigarros e ouvir Reverend Bizarre. Isso é o que eu sinto mais falta. Como banda? Não posso dizer ainda. O tempo dirá, suponho...

 

Muito obrigado, Max! Quer enviar alguma mensagem para os teus fãs?

Muito obrigado, Pedro! Ouçam um pouco do Rush, sejam gentis uns com os outros e cuidem-se!



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