Há muitos projetos que
começam assim: compõem-se temas que não encaixam na banda principal e, para que
esses possam ter a merecida visibilidade, cria-se uma nova banda ou um projeto
paralelo. Vem isto a propósito dos Thorium, porque foi exatamente isso que se
passou. Os temas compostos por Tom Tee e Dario Frodo, membros dos Ostrogoth,
não seguiam a linha composicional da banda e daí nasceram os Thorium para seres
apresentados. E se o primeiro álbum de 2018, homónimo, deixou excelente
indicações, o que dizer do seu sucessor Empires In The Sun? Três
anos depois (e com um atraso de um ano devido à pandemia), o novo trabalho dos
belgas é sublime o que é confirmado pela presença, entre outros, de Anthony
Arjen Lucassen. Três dos tórios juntaram-se numa agradável conversa com
Via Noctuna.
Olá, pessoal, obrigado
pela disponibilidade e parabéns pelo novo álbum. Empires In The Sun foi lançado
no início de março. Como têm sido as reações até agora?
DAVID MARCELIS (DM): Olá Pedro, muito obrigado pela oportunidade de
apresentar os Thorium aos leitores da Via Nocturna em Portugal!
Como sabes, Empires In The Sun é nosso segundo lançamento. E enquanto a
resposta ao nosso álbum de estreia já foi incrível para dizer o mínimo, estamos
realmente maravilhados com as reações dos fãs e da imprensa ao nosso novo
álbum. Também observamos que estamos a começar a atingir um público mais amplo,
com novos fãs a mostrarem interesse nos Thorium. Após a nossa intensa tournée
pela Bélgica, Holanda, Alemanha, Reino Unido, Espanha e República Checa em 2018
e 2019, a propaganda boca a boca está a aumentar e estamos a receber solicitações
de fãs e pedidos de merchandising de todo o mundo.
DARIO FRODO (DF): Tem sido uma montanha-russa de excelentes críticas
até agora. Estamos muito felizes com o resultado. As pré-vendas têm sido
excelentes e muito além do que esperávamos, vários produtos já estão esgotados
como por exemplo a edição de vinil espiral.
Voltando um pouco ao
passado, a banda foi criada com membros dos Ostrogoth. O que vos motivou a
iniciar um novo projeto?
DF: Na altura, Tom Tee (o outro guitarrista) e eu
estávamos constantemente a escrever músicas que, para a maioria das faixas,
pareciam estar fora dos limites do que Ostrogoth representa. Portanto,
decidimos formar uma nova banda para que essas criações vissem a luz do dia.
Convidamos Stripe (baixo, também ex-Ostrogoth) para se juntar às nossas
aventuras e assim nasceram os Thorium.
Naquela altura
perceberam que tinham uma quantidade incrível de material novo. Algum desse
material foi usado na estreia homónima, mas guardaram algum material para um
sucessor que acabou por ser incluído em Empires In The Sun?
DF: Na verdade, More Than Meet The Eye foi a única faixa
usada no novo álbum. O que aconteceu foi que estávamos com uma mood tão
criativa que Tom e eu continuamos a escrever, embora já tivéssemos material
suficiente para lançar o nosso álbum de estreia. E naquela altura várias faixas
novas já estavam a tomar forma, mas além de More Than Meet The Eye,
nenhuma delas estava nos estágios finais na época do lançamento do primeiro
álbum. Mais ou menos o mesmo que está a acontecer agora; ainda estamos a escrever
e provavelmente temos material bruto suficiente para Thorium III e até
mesmo IV.
Focando-nos agora em Empires In The Sun,
como foi o processo criativo para este novo álbum? Mudaram alguma coisa na
vossa metodologia de trabalho em relação à estreia?
DF: Não muito. Tom e eu escrevemos e gravamos principalmente nos
nossos estúdios caseiros e começamos a trocar ideias quando as estruturas estão
a tomar forma. Ou trabalhamos separadamente nas músicas. Isso não mudou muito
nos últimos anos e espero que continue no futuro, pois está a funcionar da maneira
que gostamos.
O que Empires In The Sun
realmente significa? Têm algum tema principal no aspeto lírico?
TOM TEE (TT): O título do álbum foi retirado da faixa de mesmo nome. Tive
a ideia de escrever uma música que explorasse a noção de ambição humana; mais
especificamente, a sede do homem pelo poder e controle, que tão facilmente
corrompe alguém no longo prazo. Ainda mais especificamente, a música é sobre
como esse desejo de poder é fútil e como muitas dessas grandes ambições têm
vida curta. Muitos governantes ao longo dos tempos procuraram construir
impérios que durassem mil anos, ou mesmo para sempre, e, no fim, todos eles
estão destinados a ser varridos pelas marés do tempo. É a velha tragédia das
ambições dos homens mortais de alcançar um propósito maior e conquistar e
subjugar, enquanto muitas vezes os frutos desses esforços acabam por não viver
muito depois da morte de seu próprio instigador. Um toque divertido aí, acho eu,
é a introdução do álbum Dreams Of Empire - um ditado que se refere
exatamente a isso: a futilidade de construir impérios. É uma espécie de melodia
pastoral, porque no booklet refiro-me ao poema clássico de onde veio o
ditado; sobre um humilde pastor ou fazendeiro que adormece debaixo de uma
árvore e sonha em ser um grande e terrível governante. Ao acordar, ele ri e abana
a cabeça, percebendo o quão louco era o sonho. A introdução também faz um bom
trabalho ao tornar a faixa seguinte Exquisite soar ainda mais enorme e
brutal, em contraste com o suave som de guitarra clássica da faixa de
introdução.
Os Thorium têm aqui um
álbum incrível que atinge seu clímax em 1302. Como conseguiram
ter Arjen Anthony Lucassen, Joe Van Audenhove e Norman Eshley como convidados
nessa música e noutras músicas?
DF: Basicamente, enviamos-lhe um e-mail. Tão simples como
isso. Joe é um amigo de há anos, portanto, chamamo-lo. Tom enviou as suas
partes acústicas para Arjen e ele ficou imediatamente impressionado com o que
ouviu e instantaneamente quis contribuir. Quanto a Norman, ele não aparece na
trilogia 1302, mas empresta a sua voz única como narrador na
faixa-título Empires In The Sun e em Winterfall.
TT: Desde o momento em que 1302 foi escrita, eu sabia que
queria ter diferentes cantores assumindo os diferentes papéis dos personagens
na música. Era apenas uma questão de selecionar os vocalistas certos para o
trabalho. É muito divertido poder apresentar uma mini-ópera-rock como
esta!
Também têm incluída a música
Power
And Arms II. É a continuação da música Power And Arms incluída no álbum
de estreia?
TT: Oh sim! O título foi tirado do capítulo nove do clássico
romance de aventura Ilha do Tesouro, de Stevenson. Eu queria
escrever uma música sobre pessoas cujas vidas giravam em torno da "pólvora
e armas" - soldados, piratas, pilotos de caça, esse tipo de coisa. Imediatamente
soube que queria escrever uma continuação para o segundo álbum, não sobre as
“profissões” gerais, por assim dizer, mas sobre indivíduos reais desta vez.
Também pretendo continuar esta série, com um novo ângulo a cada vez; há muito
mais a ser feito com este conceito!
A situação de pandemia
causou alguns problemas e atrasos? Onde são mais visíveis?
DM: Empires In The Sun foi gravado na sua maior parte
durante 2019 e em novembro daquele ano tínhamos o master final nas nossas
mãos. Já estávamos em contacto com várias editoras e a planear um lançamento
para a primavera de 2020, quando o COVID-19 chegou. Decidimos adiar o
lançamento para momentos mais certos e tínhamos esperança de que poderíamos
fazer um lançamento logo após o verão de 2020, seguido por uma tournée europeia
para promover o álbum. Os nossos sonhos logo foram dissolvidos conforme a
pandemia evoluiu e uma segunda onda de infeções destruiu todos os nossos planos
para o outono. Naquela altura, havíamos chegado a um acordo com a Freya
Records e mutuamente tomamos a decisão de lançar o álbum em março de 2021,
independentemente da pandemia. Portanto, a pandemia atrasou o álbum em cerca de
um ano e a nossa agenda de tournée foi paralisada por pelo menos um ano
e meio. Esperamos que, a partir de setembro ou outubro, possamos começar a
tocar ao vivo novamente como suporte ao Empires In The Sun.
Quais são os principais
objetivos que gostariam de cumprir quando esta pandemia acabar?
DM: Na linha do meu comentário anterior, queremos principalmente
sair de lá novamente, retornar às cidades e locais que já tocamos e entrar num
novo território para encontrar novos fãs e divulgar a música dos Thorium.
Já temos muito material para o próximo álbum, mas sentimos que os nossos fãs
merecem comemorar Empires In The Sun ao vivo antes de voltarmos ao
estúdio. Portanto, fazer tournées é a nossa prioridade n.º 1, assim que
viagens e eventos sejam novamente permitidos.
DF: Muito simples: fazer uma tournée, outra tournée,
outra tournée e uma tournée de novo. Até começarmos a gravar o
novo álbum em 2022.
Muito obrigado. Querem
enviar alguma mensagem para os vossos fãs?
DF, DM, TT: Esperem um pouco mais, ouçam metal, curtam o novo
álbum dos Thorium Empires In The Sun e compartilhem-no (online)
com os vossos amigos. Antes que se apercebam, tocaremos ao vivo num local perto
de vocês. Até lá, mantenham-se saudáveis e seguros!
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