Entrevista: Flotsam & Jetsam



São um dos nomes mais sonantes do cenário thrash metal da Bay Area e já atingiram a bela marca de 14 álbuns. E apesar da longa carreira, vivem, atualmente um dos momentos mais inspirados como o prova a qualidade dos dois últimos álbuns The End Of Chaos (2019) e o mais recente Blood In The Water, já o 14º da sua discografia. É dos lendários Flotsam & Jetsam a quem nos referimos e precisamente para nos falar deste novo e empolgante lançamento fomos conversar com Ken Mary (bateria) e Steve Conley (guitarras). 

 

Viva, tudo bem? O vosso décimo quarto acaba de ser lançado. Como têm sido as reações até agora?

KEN MARY (KM): Sim, as respostas foram realmente incríveis e estamos muito animados sobre como os fãs e como a imprensa o recebeu. Acabamos de ver críticas incríveis e muitos 10/10, acabamos de entrar no top 10 na Alemanha nesta semana, que foi ótimo, entramos na 9ª posição e estamos ansiosos para ver o que acontece nos EUA e no resto dos países também nesta semana. A resposta dos fãs e da imprensa até agora tem sido absolutamente incrível.

 

Blood In The Water é um álbum matador, assim como já tinha sido o The End Of Chaos há dois anos. Podemos dizer que este é o melhor período da vossa carreira?

STEVE CONLEY (SC): Sim. Definitivamente, é a melhor parte da carreira desde que entrei na banda, com certeza. Cada álbum é melhor, aparece nos tops e algumas pessoas da editora disseram-me que nunca fomos tão bons. É muito raro para uma banda estar a avançar assim nesta fase da sua carreira e parece que estamos a fazer, ultimamente, um bom movimento na nossa carreira. Acho que tudo é bom, definitivamente.

KM: Vou acrescentar - esperamos poder fazer o que os Motörhead fizeram, que foi sempre icónico, sempre estiveram lá, mas ressurgiram de verdade no final da sua carreira. Do tipo, “esperamos poder fazer o que os Motörhead fizeram”. Ter uma trajetória semelhante em que nos saímos cada vez melhor com o passar do tempo.

 

Em The End Of Chaos, fizeram renascer o vosso monstro original. Por que escolheram este álbum?

SC: Isso pode ter sido parcialmente ideia minha. A ideia por trás do monstro era que estávamos a vender muitas t-shirts antigas (camisolas de basebol) e elas estavam a sair muito bem e eu pensei que muitas bandas adotaram a ideia de usar uma mascote e no merchandising geralmente fica melhor e os fãs gostam dessas coisas. Por isso, pensamos “vamos trazer de volta o monstro” (Flotzila), podemos colocar nas capas dos álbuns e fazer algum merchandising com algumas novas versões dele. Tentamos e foi muito bem-sucedido, pelo que temos voltado a tentar desde então.

 

E foi uma ótima ideia!! Blood In The Water é um nome estranho. O que significa?

KM: Posso dizer o que isso significa para mim (risos). Normalmente não gosto de ser muito específico nas letras porque gosto que as pessoas descubram o que isso significa para elas, mas, neste caso, Blood In The Water é, se olhares para a história da humanidade, seja um Napoleão, um Hitler, um Sadam Hussein, Stalin ou Alexandre, o Grande, a ideia por trás da história da humanidade é basicamente governar o mundo. Quem quer que seja o líder, eles querem governar o mundo e controlar as pessoas e eu acho isso repugnante, acho uma coisa horrível o facto da nossa história humana ser composta por gente a tentar controlar as pessoas e eu gostaria que isso parasse. Isso é sobre o que essa música fala.

 

E então eles sentem o cheiro de sangue na água?

KM: Bem, sim, repara, podes olhar em volta e seja a China ou os governos do mundo, quero dizer, os governos podem ser muito repressivos e com certeza podes ver isso na história humana e podes ver no mundo de hoje, isso é algo que nunca muda. Para ser honesto, eu não acho que isso vá mudar, eu gostaria que mudasse, mas não me parece que vá ser o caso. Portanto, sim, há sempre sangue na água (risos).

 

Podemos considerá-lo um álbum conceptual?

SC: Não, não acho que seja um álbum conceptual, necessariamente, mas tenho a certeza de que podes dizer com certeza que os acontecimentos dos tempos atuais definitivamente tiveram um papel nas músicas e nos tópicos.

 

Flotsam e Jetsam são nomes náuticos. De que forma a vossa história como banda se relaciona com o mar?

KM: (risos)

SC: (risos). Não sei. Acho que estar na banda é um pouco nomático, tipo, quando sais em tournée é como estar num navio pirata, cruzando o mar de cidade em cidade. Às vezes, quando estamos em tournée e fazemos um passeio em grupo, é como um bando de piratas a celebrar. Há espólios após os espetáculos, é divertido. Às vezes é um pouco como ser um pirata, acho eu.

 

Vocês são os dois membros mais recentes da banda. Qual é a sensação de fazer parte de uma banda tão grande como Flotsam & Jetsam?

KM: Bem, eu não tenho certeza se Steve é recente, estás na banda há 9 anos?

SC: Quase 9 anos, sim

KM: Estou na banda há 4 anos, o que certamente são alguns anos, mas os Flotsam & Jetsam sempre foram uma banda icónica e eu pessoalmente fui um fã da banda. Adoro os dois primeiros álbuns e sei que soa estranho, mas adoro os dois primeiros álbuns e os três últimos são os meus favoritos. Essa é, na verdade, uma das razões pelas quais me envolvi com a banda porque gravamos a bateria para o Flotsam & Jetsam no meu estúdio e Jason Bittner estava a tocar as músicas e quando o álbum foi lançado fiquei com o CD no meu carro durante meses e meses. Quando Jason saiu e Steve disse “Ei, quero tocar algo bem rápido em 11 datas na Europa”, eu disse “sim, vamos fazer isso”. É uma honra estar numa banda com uma história e um legado tão grande, é uma banda incrível e eu sinto que a banda agora é incrível. É quase como um alinhamento de estrelas. Nós temos AK que é indiscutivelmente um dos melhores cantores do metal de todos os tempos e temos uma dupla de guitarras incrível com Steve e Mike, um baixista incrível em Bill Botley e é uma química a acontecer agora, que eu realmente sinto que é uma banda incrivelmente forte.

 

Pela primeira vez, usam algumas partes orquestrais, por exemplo, o break em Seven Seconds ‘Tll The End Of The World. Por que decidiram incluir essas partes?

KM: Essa é uma pergunta interessante. Estive sempre envolvido em bandas sonoras de filmes e esse tipo de coisas. Sei que Steve me perguntou "queres fazer algumas partes orquestradas em Blood In The Water?" e eu acho que também há algumas em Burn The Sky. Não há Steve?

SC: Acho que sim.

KM: Basicamente, o motivo pelo qual fizemos isso é que estamos a tentar dar um sabor, adicionar outro sabor à mistura dos Flotsam, tentar injetar algo um pouco diferente e acho que fizemos isso de uma forma muito bem-sucedida que ainda mostra o peso da banda, mas que dá um sabor extra na mistura.

 

Funcionou muito bem. A propósito, fala sobre que essa música?

KM: Seven Seconds ‘Till The End Of The World é voltar para toda a história da humanidade. Estamos sempre num ponto da nossa história. Bem, nem sempre, não estamos num ponto da nossa história em que podemos obliterar completamente a vida no planeta e temos estado depois da 2ª Guerra Mundial. Portanto, essa música está basicamente a tentar fazer pensar sobre “E se o impensável acontecer? O que aconteceria se um asteroide caísse? Ou, e se houver uma guerra nuclear? E se houver um ataque biológico? E se algo acontecer?” Na verdade, é apenas uma música para estimular o processo dos teus pensamentos sobre o que é importante e o que é importante para ti, o que é importante na tua vida. O que farias se faltasse 7 segundos? No que irias pensar? É sobre isso que a música fala.

 

Também, Too Many Lives tem uma letra muito interessante. Qual é a temática?

KM: Bem, essas são principalmente letras de AK.

SC: O que eu aprendi com isso é como se muitas pessoas no planeta estivessem a usar os recursos.

KM: Espada do tipo de música para salvar o planeta (risos). Salvem o planeta antes que seja destruído por um asteroide (risos).

 

Embora os Flotsam & Jetsam, injustamente, tenham vivido sempre debaixo de nomes como Metallica/Megadeth/Slayer, a vossa estreia é a única a ser premiada com 6 em 5 pela Kerrang! Consideram isso o ponto alto da vossa carreira como banda?

SC: Destaque da nossa carreira? Provavelmente não. É uma super honra ser a única banda a conseguir 6 estrelas na Kerrang! Mas eu não chamaria necessariamente de destaque de nossa carreira. Eu diria que alguns dos destaques da nossa carreira provavelmente estão a acontecer agora.

KM: Para mim, é tocar em alguns dos principais festivais como Wacken, Under the Grave. Esses são alguns destaques para nós porque podemos aparecer para uma grande quantidade de fãs num único local e, especialmente, na Europa. É simplesmente fantástico o que acontece nesses festivais. As pessoas estão lá apenas para se divertir e é realmente evidente na forma como respondem à música. Esses são os destaques.

 

Vocês têm quase 40 anos de carreira. O que é que os vossos fãs ainda podem esperar?

SC: Bem, os fãs podem esperar que mantenhamos os nossos registos de qualidade e entreguemos uma apresentação ao vivo insana. Não temos nenhuma intenção de diminuir as coisas lentamente em nenhum momento em breve.

 


Ken, nesta altura também és o baterista dos Fifth Angel. Como está a situação dessa banda?

KM: Essa é a minha banda do ensino secundário. Essa é a primeira banda em que estive e estamos em processo de gravação. O que vai acontecer com isso? Ninguém sabe. Nós divertimo-nos com isso. É divertido ver a malta mais velha e é divertido fazer algumas gravações e tudo isso e, na verdade, Steve ajudou em algumas das novas canções. É uma banda divertida. É uma coisa boa voltar e revisitar as tuas raízes e é isso que estamos a fazer.

 

E quanto aos F5, Steve. Quando sai um novo álbum?

SC: (Risos). Eu não sei se alguém irá ver outro registo dos F5. Não fizemos nada com F5 desde provavelmente 2008. Não houve conversa para continuar esse projeto, portanto, não sei se algum dia haverá outro registo F5.

 

E também és o guitarrista dos Tragul. Nos últimos anos, lançaram nove singles. Por que decidiram lançá-los separadamente em vez de todos juntos num álbum?

SC: Tragul é o bebé do Adrian. Contratou-me como um tipo de trabalho por aluguer e ele é um guitarrista de sessão. Estendeu-me a mão e eu fiz mais algumas canções. Acho que ele começou apenas a lançar singles em vez de lançar um álbum inteiro só para ver como as coisas corriam, mas ele lançou um monte de coisas agora e continua a lançar coisas. Acho que ele fará um álbum completo, mas não sei. Não tenho certeza do que ele vai fazer.

 

E datas para a tournée deste álbum? Podem adiantar-nos algo?

SC: Haverá um anúncio na próxima semana com algumas datas americanas. Deverão acontecer em agosto.

 

E quanto a Portugal?

SC: Espero que no próximo ano possamos ir para a Europa. Outra banda quer ir para a Europa, devemos voltar e sair em tournée com os Accept no ano que vem. Mas em algum momento do próximo ano gostaríamos de fazer uma tour como headlining, por nós próprios e ver como funciona. Espero que possamos voltar a Portugal. Adoro Portugal.

KM: Sim, um país incrível. Adoramos absolutamente. Na verdade, a minha esposa e eu estamos a pensar que talvez nos possamos aposentar aí. Adoramos o país.

 

Obrigado, pessoal. Foi uma honra. Querem enviar alguma mensagem aos vossos fãs portugueses?

KM: Apenas queremos ver-vos. Temos esperanças de, muito em breve, todos estejam seguros e saudáveis e suas famílias estejam seguras e saudáveis e muito obrigado pelo vosso apoio durante todos os anos e muitos álbuns de Flotsam & Jetsam e esperamos ver-vos em breve.~



Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #48 VN2000: My Asylum (PARAGON)(Massacre Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)