Entrevista: Razia

 


Rebaldaria tinha sido o último álbum dos Razia e já foi em 2013. Alguns anos se passaram, algumas mudanças de formação também ocorreram e para o novo álbum, Alegadamente, a banda surge com uma postura atual e… mais pesada. Com uma panóplia de material para escolher as suas histórias, os Razia assinam um álbum que também prima pela forte critica social. Para nos falar do que passaram até ao lançamento deste álbum e do virá a seguir, o coletivo juntou-se para falar connosco.

 

Olá, pessoal! Tudo bem? Antes de mais, obrigado por despenderem algum tempo com Via Nocturna. Para começar, novo álbum cá fora… O que nos podem, para já, dizer a este respeito?

Obrigado à Via Nocturna pela oportunidade. Gostaríamos de dizer que este novo álbum constituiu um marco na música moderna portuguesa. Mas o mais certo é ser apenas um registo daquilo que gostamos de fazer e que pouco ou nenhum impacto terá no panorama musical nacional.

 

Mas é um álbum que demorou muito a cozinhar, visto que o anterior, Rebaldaria, já datava de 2013. O que se passou?

Este álbum é o espelho do que esta nova formação de Razia cozinhou desde que se juntou em 2015. Depois do Rebaldaria, houve saídas de dois elementos, ambas por motivos profissionais, do Bidgi (baixo) e do Pedro Blas (guitarra). É nessa altura que o João é recrutado como baixista, para mais tarde passar para a guitarra e deixar o lugar do baixo para o Pedro. Com a entrada destes elementos a banda ganhou mais peso (tanto em som, como em quilos) e depressa se começou a fazer o normal para uma banda: tocar ao vivo, em tantos sítios quantos nos quisessem, ao mesmo tempo que íamos compondo algumas músicas. Começámos pouco depois a pensar na gravação de um novo álbum. Mas entre compromissos profissionais e pandemia, a coisa acabou por atrasar-se e só agora viu a luz do dia.

 

De alguma forma, pode afirmar-se que este é um álbum fruto da pandemia?

Não, de todo. A pandemia apenas atrasou ainda mais o processo de gravação. No inicio, a dificuldade que tivemos foi em acertar agendas. A vantagem de ter um espaço próprio onde fizemos as gravações, tem também a desvantagem de não nos criar pressão. Na pandemia, com restrições de mobilidade, nem sempre foi possível acelerar a gravação. E ainda assim, todos os coros foram gravados com máscaras, sem distâncias de segurança, mas com o devido teor etílico nas cordas vocais.

 

Uma das diferenças em relação à estreia foi o facto que, desta vez, foram vocês que estiveram responsáveis pela gravação. Foi uma necessidade ou opção? Porquê?

Desta vez optámos por gravar no nosso espaço ao nosso ritmo, porque já tínhamos amadurecido mais a ideia sobre o tipo de som que procurávamos, que tipo de som mais nos representa e que tentamos passar nos nossos concertos. A produção do Alegadamente ficou a cargo do Sérgio Gregório, um amigo da banda, companheiro de estúdio, a pessoa ideal para nos levar a bom porto nesta produção. Como nos conhece as limitações e partilhamos influências musicais, foi tudo mais fácil. Nós apenas dissemos o que queríamos, e ele ajudou-nos a executar.

 

Todavia, esse aspeto acaba por se revelar decisivo no aumento do peso e da crueza. Foi deliberado ou simplesmente aconteceu?

Foi exatamente essa sonoridade mais crua e pesada que queríamos passar. E para isso o trabalho de produção do Sérgio foi fulcral. Isto porque, para nós, o que faz mais sentido nesta fase é passar aquilo que é Razia, fruto das nossas influências: rock sem perder muito tempo com polimentos estéticos, com um piscar de olho ao thrash metal e liricamente contundente como o punk.

 

Alegadamente este disco assenta em muitas histórias do nosso quotidiano. Suponho que não tenha sido muito difícil arranjar matéria para trabalhar…

Não é nada difícil arranjar material para trabalhar, quando olhamos para as personagens da nossa história recente. Mas liricamente, temos também que realçar a colaboração do Tiago Carrasco, amigo de longa data da banda. Algumas das letras por ele escritas datam ainda do inicio dos Razia, e só agora viram a luz do dia em forma de música.

 

Porque optaram por seguir essa via?

Quando esta formação começou a tocar, estávamos a acabar de viver um dos períodos mais negros da nossa história coletiva. Sabemos o que nos trouxe até aí, e sob esse ponto de vista, identificámos vários personagens responsáveis, que consideramos “musas inspiradoras”. Claro que os temas da conturbada realidade atual não nos passam ao lado, e já temos algumas ideias para temas a incluir num futuro próximo. A opção por esta abordagem tem os seus riscos, mas para nós fica como um registo daquilo que nos influencia como povo.

 

O álbum foi lançado no dia 25 de abril. Suponho que não tenha sido uma data escolhida aleatoriamente…

Não foi nada aleatório. Foi uma data pensada e planeada assim que tivemos as masters finais na mão e o artwork (idealizado por nós, e todo desenvolvido pelo nosso photoshoper de serviço, o Pedro).

 

Como é feito o trabalho de composição na banda?

A composição não segue um método exclusivo ou sequer original. Às vezes surge um riff, que fica na “gaveta” até surgir uma letra que se ajuste. Outras vezes vem a letra primeiro, até que apareça um riff que lhe dê sentido. Outras vezes, já vem tudo feito. Em termos de música, a principal força motriz é a secção rítmica (guitarra, baixo e bateria), mas liricamente os autores morais vão variando.

 

O que é que estão a planear para promover este disco? Já há algo definido?

Neste momento estamos de regresso aos ensaios, tirar a ferrugem acumulada por mais de um ano sem tocarmos todos juntos. Surpreendentemente, tem estado a correr bem, e o que queremos é o mais rapidamente possível fazer a festa de lançamento do álbum, com a presença de amigos que fomos fazendo ao longo destes anos. Depois é tocar, apresentar o novo trabalho da maneira que mais gostamos, ao vivo, para uma audiência que esteja presente, sem restrições, numa sala de espetáculos, no meio de um parque ou campo agrícola. Aguardaremos o que for necessário para que isso possa acontecer. Há perspetivas de ainda este ano conseguirmos algumas datas. Nos planos também está a produção de vídeos de um ou outro tema captando imagens em atuações ao vivo onde se possa sentir o público e a interação com a banda. Enquanto se mantiverem as atuais restrições esse objetivo vai ser difícil de conseguir. Mas não desistiremos!

 

A terminar, mais uma vez obrigado e dou-vos a oportunidade de acrescentar algo mais ao que já foi abordado nesta entrevista?

Obrigado pela oportunidade. Parabéns por este projeto e votos de muito sucesso! Apoiar a cena musical em Portugal também passa por estes projetos de divulgação. Apenas acrescentar que nos Razia desenvolvemos o nosso estilo, ao nosso gosto, e procurando apenas o prazer de tocar música que gostamos, para quem gosta da nossa música É isto que sabemos fazer e esperemos que melhore com o tempo.

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #48 VN2000: My Asylum (PARAGON)(Massacre Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)