Reviews: André Carvalho, Zero Times Everything, Inner Axis, Owl Cave, Azores & Metal


Lost In Translation (ANDRÉ CARVALHO)

(2021, Independente)

A base para o novo, e quarto, trabalho do baixista André Carvalho foram palavras intraduzíveis. Assim nasce Lost In Translation juntando-se a ele os músicos José Soares (saxofone), André Matos (guitarras) e João Almeida no trompete em três faixas. Uma música instrumental com títulos intraduzíveis e em línguas estranhíssimas como Urdu ou Waginam, aparentemente falada apenas por... duas pessoas no mundo! A dificuldade de expressão por palavras não teve eco na dificuldade e expressão nos tons musicais criados para Lost In Translation. É uma sonoridade contemplativa, intimista, mas exuberante nas performances. O jazz e a música contemporânea a cruzarem-se e a criar profundas paisagens sonoras altamente exploratórias e desafiantes. [70%]



Sound Of Music (ZERO TIMES EVERYTHING)

(2021, Independente)

Os americanos Zero Times Everything trazem a matemática para a música e logo com uma indeterminação. Talvez por isso Sound Of Music, título do segundo álbum da banda, lançado em formato duplo, ande sempre numa indeterminação se deverá enveredar por um rock mais cáustico, se por um prog rock elaborado, se por pura eletrónica, se por ambientes intimistas e minimalistas ou mesmo por campos da música contemporânea e experimentação. Ao longo dos 16 temas de Sound Of Music há espaço para tudo isso com a peça central a localizar-se nos 19 minutos de Die Nacht Ist Leben, mas com o momento mais ambicioso a ser apresentado nos 26 minutos divididos por seis partes de Lux Aeterna. Sound Of Music é um disco muito aventureiro, artisticamente exuberante, completamente fora-da-caixa, onde nada é óbvio ou evidente. Mas também é um disco de muito difícil audição e onde, por vezes, as fórmulas não resultam muito bem. [70%]

 


Midnight Hunter/Steelbladed Avenger (INNER AXIS)

(2021, Fastball Music)

Os fãs dos Inner Axis já anseiam por um novo álbum desde que estes lançaram We Live By The Steel, em 2017. Mas as coisas parece que estão a andar... e bem! Em abril e maio deste ano surgiram dois singles - Midnight Hunter e Steelbladed Avenger. Ambos foram lançados de forma independente e digitalmente e ambos traziam no seu lado B a versão instrumental do tema. O que a sua editora, a Fastball Music, fez foi dar uma apresentação nova a estes temas, lançando, em finais de agosto, em formato físico o conjunto dos 4 temas. E fez bem. Porque por esta amostra preparem-se para uma obra em grande no próximo álbum dos germânicos. Heavy metal puro e tradicional, com enormes ganchos, guitarras puxadas, mas melódicas e uma secção rítmica pulsante. Para já, estas duas malhas são muito fortes e claramente deixam água na boca para o que aí virá. [92%]



Broken Speech (OWL CAVE)

(2021, Time Tombs Production)

Broken Speech é a estreia do projeto one-man francês Owl Cave. O enigmático S. é o responsável pela criação e execução (bem, não totalmente, porque a bateria foi gravada por um músico de sessão, cujo nome também não foi divulgado) de 43 minutos de música incluídos numa faixa única. Mas se as suas raízes brotam do movimento black metal, Broken Speech acaba por mostrar muito mais que isso. Continua a ser cru, frio, negro e desconfortável, mas a sua costela cáustica leva-o para as zonas sombrias e dissonantes do sludge/post-metal. Depois existem os contrastes. E eles são feitos com algumas passagens atmosféricas, elementos tribais, sons industriais e apontamentos naturais. Sem palavras, acabam por ser estes contrastes que providenciam o necessário equilíbrio e dinâmica de Broken Speech. [75%]



Azores & Metal Vol #1 (V/A)

(2021, Museu Heavy Metal Açoriano)

Se já todos sabem que o metal nacional está bem de saúde, ficamos agora a saber que, nos Açores, o movimento também está muito bem entregue. O lançamento Azores & Metal Vol#1, a cargo do Museu do Heavy Metal Açoriano, junta 17 nomes representativos do movimento no arquipélago e é um documento exemplar importante para demonstrar o seu dinamismo. Todos os géneros e subgéneros estão representados, o que também é uma boa maneira de se confirmar todo o ecletismo dos músicos açorianos. E assim, sempre se pode dizer que em Azores & Metal Vol#1 há sempre algo para cada um. E também há destaques importantes: os lendários Morbid Death participam com um tema inédito, composto em exclusivo, Over & Over, onde se nota uma abordagem mais orientada para o thrash; os Wreck Age reuniram-se (estavam fora de atividade desde os anos 90) para gravar Carved In Stone e mostrar que ainda continuam em forma; os Veia também participam com um tema inédito (Ironheart), num dos melhores momentos do disco; os Depths Of Mankind abrem, em formato instrumental e num nível elevado com Necessary Chaos; e os Mazk nasceram propositadamente para esta iniciativa e apresentam a excelente malha Always. Se nos permitem, gostaríamos de salientar mais dois nomes: os Palha D’Aço, única banda a cantar em português com um Verdade que mostra que o coletivo terceirense já está num nível muito elevado e a merecer uma maior projeção; e os Dreaming In Black que nos surpreenderam muito favoravelmente com o seu metal melódico a lembrar Edenbridge. Outra banda a acompanhar, como, no geral, as restantes que fazem parte deste projeto, que consideramos extremamente ambicioso e de relevante importância não só regional como nacional. [84%]

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