Entrevista: Pedro Cunha


Convite é o nome do álbum de Pedro Cunha (ex-Santos e Pecadores) que será editado neste ano de 2022 e gravado em salas de espetáculos nacionais de norte a sul.  Em cada localidade Pedro Cunha convidará um artista da região - autor, músico…, para subir ao palco e com ele colaborar numa das canções do disco, das quais já está disponível o primeiro single, Perfeita Equação. No seu arranque, fomos conhecer melhor este projeto inovador com o próprio Pedro Cunha.

 

Olá, Pedro! Obrigado pela disponibilidade! Tens estado a trabalhar em Convite. Podes contar-nos em que consiste este projeto e este álbum?

Olá, Pedro Carvalho! Antes de mais quero agradecer-te pelo convite e a oportunidade de poder abrir um pouco do véu sobre este projeto Convite. Este projeto nasceu da necessidade de trabalhar com outros músicos, na maioria ainda desconhecidos do grande público, aprender e apreender coisas novas, refrescar as parcerias, surpreender-me para não me perder no «baralhar e volta a dar». Sei que existem por todo o país bastantes músicos com bastante qualidade e que ainda não tiveram oportunidade para se mostrar. Assim resolvi percorrer o nosso país e tentar mostrar o que temos de bom na área musical, mas que ainda desconhecemos. O nome Convite está obviamente relacionado com todo o processo, eu faço o convite para que possamos trabalhar em conjunto, assim como convido todas as pessoas para assistir e colaborar através da sua participação no disco, uma vez que será gravado ao vivo. Posso acrescentar ainda de que este disco conta com a colaboração da Sociedade Portuguesa de Autores (S. P. A.).

 

E os temas que farão parte desse álbum ao vivo serão todos novos, compostos especificamente para este trabalho ou não?

Sim serão 10 temas todos originais, compostos especificamente para este disco (Convite).

 

Em cada um desses locais serão escolhidos artistas para te acompanhar. Já podes avançar com algum nome?

Este é um projeto que tenho de gerir com pinças e por isso infelizmente ainda não posso avançar com nomes nem locais devido a questão pandémica pela qual passamos, porque a classe artística (como outras) como sabes tem sofrido bastante com cancelamentos de espetáculos e a consequente abertura e fecho dos locais dos mesmos. Há muitos adiamentos e os programas das salas acabam por ser alterados e remarcados o que faz com que o processo ainda esteja meio confuso. Consequentemente, este é um projeto que irá acontecer só depois do verão de 2022, talvez entre o final de setembro e o princípio de outubro, até porque eu quero que seja gravado em espaços fechados e essa será a altura mais propícia para tal.

 

E como surgiu essa ideia de cobrir este projeto com a criação de uma curta-metragem? Quem está/irá trabalhar contigo nesse âmbito?

A curta-metragem/documentário terá cerca de 50 minutos e é algo que acho que o projeto necessita para acompanhar todo o processo desde a parte criativa até ao espetáculo. Irá ser como um diário de bordo, onde os pequenos pormenores terão importância, assim como a vida dos músicos na estrada e no seu dia de trabalho. Será uma curta-metragem, mas também será dividida em pequenos episódios de cerca de 5 minutos cada, para que possa ser absorvida também pelo público que gosta de assistir a pequenos trechos e não tem paciência para longos documentários. Acho que este tipo de conteúdo faz falta na música em Portugal. É algo que ainda estamos a começar a explorar. É algo que quero ser eu a produzir, por saber exatamente aquilo que quero e por vezes é difícil conseguir que outro faça aquilo que idealizaste.

 

Pedro Cunha é um nome principalmente associado aos Santos e Pecadores. Que memórias guardas desses tempos?

Bastantes memórias. Tantas histórias para contar... Foram muitos anos de estrada, concertos, ensaios e gravações. Muitos hotéis, muitas cidades e locais. Muitas amizades criadas e muita experiência adquirida. Guardo com muito carinho tantos e tantos episódios que ficaram guardados e fazem parte da minha história como músico e como homem. Fez parte do meu crescimento. A certa altura (2013) resolvemos fazer uma pausa indefinida. Voltaríamos quando quiséssemos, quando achássemos que o queríamos fazer. Na altura estávamos todos muito cansados e precisávamos de uma longa pausa que dura até hoje. Infelizmente durante este caminho perdemos o nosso companheiro Rui Martins (saxofonista/percussionista) em maio deste ano (2021). Foi uma enorme perda e um rude golpe nas nossas vidas e na vida da banda.

 

Estiveste associado a alguns dos seus maiores êxitos. Olhando para trás, para todo o teu trajeto, o que sentes?

Sinto que alcancei com os Santos & Pecadores aquele que sempre foi o meu maior desejo – ser músico profissional. Os Santos & Pecadores proporcionaram-me isso. Dentro de um espírito muito forte de amizade, que foi a base da nossa sustentação como banda na indústria da música portuguesa. Tivemos sorte em aparecer na altura certa. Na altura que se apostava na música portuguesa. Não só as editoras, mas também os media. O nosso esforço e dedicação também foi muito importante. Os nossos amigos iam para a praia e nós íamos ensaiar. Passámos um mês a construir a nossa sala de ensaio. Muitas vezes dormíamos lá. Depois desse processo conseguimos o nosso primeiro contrato discográfico. Penso que foi um trajeto de que me posso orgulhar.

 

Mas, naturalmente, há um Pedro Cunha após Santos e Pecadores. Em que atividades tens estado envolvido nos últimos anos?

Sim. Quando os Santos & Pecadores resolveram fazer uma pausa senti a necessidade de procurar outras áreas de trabalho, conhecer pessoas fora do ramo da música e surgiu a aviação. Foi uma experiencia muito enriquecedora. Obviamente a música continuou a fazer parte do meu cotidiano e em 2015 fiz o meu primeiro trabalho a solo (Satélite On) com o pseudónimo Ah Nuc. Para mim era importante sair do foco dos Santos & Pecadores e por isso o pseudónimo iria libertar-me e distanciar-me um pouco mais da esfera do grupo. Senti a necessidade de fazer algo só meu. Estava habituado a fazer tudo em parcerias. Queria experimentar ser eu a compor tudo. Tinha bastantes ideias para canções e não queria que ficassem na gaveta.

 

Between Silence & Noise foi o teu segundo álbum e surpreende por um título em inglês. Porque fizeste essa opção?

Between Silence & Noise foi o meu segundo álbum a solo. Um disco basicamente suportado por composições antigas que queria libertar de alguma forma. Só criei 4 temas para esse álbum, os restantes já estavam feitos e nem quis voltar a pegar-lhes. Um dos temas (Glória) que criei para esse disco foi com o intuito de poder cantá-lo com o Tiago Gardner (Joker). Foi com ele que dei os primeiros passos mais a sério na música. Fomos colegas em São João do Estoril e ambos tínhamos essa paixão de um dia sermos músicos profissionais. Felizmente aconteceu, mas não no mesmo projeto, por isso tinha vontade de gravar com ele. A questão do inglês foi simplesmente porque a maioria dos temas que tinha já estavam letrados assim e como sempre achei e continuo a achar que a música não tem barreiras, por que seria a língua um obstáculo?

 

Mas, agora, a atender pelo single de avanço, Perfeita Equação, estás de regresso aos títulos em português?

Penso que depois de soltar tudo o que tinha feito para trás e que estava na gaveta há bastante tempo, senti uma liberdade na composição e na escrita. Neste momento quando componho, automaticamente componho em português. Voltando atrás acho que o que fiz sob o pseudónimo Ah Nuc foi uma espécie de libertação, limpeza do passado e por isso agora já assino o próximo disco como Pedro Cunha. Será muito difícil voltar a escrever em inglês ou noutra língua, mas, como disse atrás, isso nunca será uma barreira à criação.

 

Já agora, explica-nos lá esta equação que acaba por se transformar numa música?

Perfeita Equação nasceu numa notícia que li, de que um estudo científico comprovava que amar fazia bem ao coração. E se existisse uma equação para o amor? E se essa equação fosse só um estado de espírito que durasse apenas por momentos? Ou para sempre? E o amor sendo um estado de espírito poderá ser copiado pela ciência? Poderá existir uma fórmula, uma equação que nos leve a esse resultado? Duas pessoas não descrevem o amor da mesma forma, há sempre algo de diferente. Depende do que se quer e daquilo que se procura alcançar. Assim sendo, descrevi a minha perspectiva, a minha Perfeita Equação.

 

Muito obrigado, Pedro! As maiores felicidades! Queres acrescentar alguma coisa que não tenha sido abordada?

Gostaria de acrescentar que a cultura em Portugal precisa de ser tratada como qualquer outra área na nossa sociedade e que tem sofrido de um grande abandono e vista por muitos como algo menor, muitas vezes como um hobbie. A cultura contribui e muito para a nossa economia e acima de tudo a cultura tem de fazer parte da nossa formação como sociedade. Muito obrigado pelo convite. As maiores felicidades para a Via Nocturna e para ti Pedro Carvalho. Forte Abraço! 

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