Entrevista: Bobby Stoker


Bobby Stoker tem sido um músico muito ativo ao longo dos anos em diversos projetos. Mas, a solo nunca tinha tido a disponibilidade para avançar com um lançamento. Essa oportunidade foi-lhe dada pela pandemia e já que toda a gente estava parada, o alemão aproveitou para compor o seu primeiro álbum a solo. Para isso criou a sua própria editora, a Vivid Music Productions que, em associação com a Pride & Joy Music, lançaram Everglow. Para nos falar sobre este lançamento e sobre o seu passado musical, fomos falar com Bobby Stoker.

 

Olá, Bobby! Como estás? Obrigado por esta oportunidade! O motivo da nossa conversa é o lançamento do teu álbum Everglow. Quando e por que consideraste que era a altura certa para lançar um álbum em teu nome?

Eu já venho a penar nisso há muito tempo. Escrevo as minhas próprias músicas regularmente desde os 16 anos. No final dos anos 80/início dos anos 90 para as minhas primeiras bandas próprias de rock com cantores e nos anos 2000 para outros artistas no estilo rock/pop/blues. O que percebi logo no início foi que eu também sempre compus as linhas vocais para os cantores, mesmo não sabendo cantar naquela altura. Ao longo dos anos, toquei muito ao vivo regularmente e fui capaz de desenvolver lentamente a minha voz, além de tocar guitarra. Devido à crise dos últimos dois anos, de repente tive muito tempo para refletir sobre tudo e finalmente senti-me no clima certo para escrever as minhas próprias músicas novamente sem ter que me preocupar que algo mais no trabalho ficasse por fazer. Mas desta vez eu não queria depender de outros cantores, mudanças de formação na banda e editoras que interferem na composição porque eles acham que sabem melhor o que vende e o que não vende. Desta vez eu quis gravar, cantar, produzir e promover as músicas à minha maneira. Nestes dias (mesmo que se tenha tornado um pouco mais difícil), tens tudo nas tuas próprias mãos usando as novas ferramentas de media. Fundei a minha própria editora, a Vivid Music Productions e agora está lá, o álbum Everglow. Foi exatamente o passo certo na hora certa para mim.

 

Tens uma grande experiência em diversas áreas da indústria da música. Portanto, qual foi o teu principal objetivo com o lançamento deste álbum?

Sempre foi importante para mim ser flexível em termos de música, porque dei o salto para ser um músico profissional logo depois da escola e sabia que só tinha essa oportunidade. Desde começar as minhas primeiras bandas a musicais, como professor de guitarra e guitarrista de sessão em estúdios de gravação, até ao planeamento de eventos e músico de tournées ao vivo. Tenho feito tudo com muita diversão e dedicação, tentando constantemente desenvolver-me ainda mais. Everglow descreve o meu amor e entusiasmo pela música e ao mesmo tempo é um regresso às minhas raízes. Finalmente, depois de muito tempo estou de volta para escrever as minhas próprias músicas (rock intemporal) e quero tocá-las ao vivo com a minha própria banda. Sem ser influenciado e falado sobre isso por uma tendência ou outras pessoas.

 

Uma dessas experiências foi a tua participação no musical de Tommy dos The Who. Foi entre 1995 e 1996. Que lembranças guardas dessa altura e que aprendizagens trazes dessa experiência?

O musical Tommy foi uma experiência incrível para mim. Descobri isso quando o espetáculo já estava em andamento, por isso é claro que as audições e castings já tinham acontecido. Eu não sou um típico fã de musicais, mas fui ver o espetáculo e fiquei tão empolgado que me inscrevi e continuei a chatear as pessoas até que conseguisse fazer o teste. Era uma grande equipa e com uma excelente banda ao vivo, cantores e dançarinos. Tive a oportunidade de substituir sempre que o guitarrista principal estava doente ou impedido de tocar. No entanto, isso também significava que não havia mais ensaios. Durante um mês estudei o programa, 8 horas por dia e como que fui lançado ao fundo do poço no meu primeiro espetáculo. Tive que tocar sem ensaios e nunca tinha tocado com o maestro. Aconteceu que numa dessas noites os The Who vieram ver o espetáculo num teatro lotado. Acho que nunca estive tão animado na minha vida. Mas eu queria passar esse teste e senti que tinha que passar por isso. Felizmente tudo correu bem. Tive a oportunidade de conhecer a banda e claro Pete Townshend por um curto período de tempo e ainda tenho uma gravação em fita DAT. Boas lembranças, claro! Aprendi a tocar com maestro e de acordo com as notas, além de tocar ao vivo sob pressão.

 

Que outros conhecimentos e experiências ao vivo trazes para a Everglow?

Como já descrito antes, desde cedo que escrevo as minhas próprias músicas e pude ganhar muita experiência nos últimos trinta anos. Através de muitos espetáculos com bandas de versões e tributo, ganhei experiência como guitarrista e cantor. Também aprendi que músicas são bem recebidas pelo público e as que não são. Novo para mim foi tudo em torno do tema de publicar e comercializar o meu próprio álbum. Nunca tinha feito nada assim antes. É muito emocionante e aprendi muito durante os últimos seis meses. Felizmente, fui ajudado por muitos colegas músicos que me deram bons conselhos para o meu projeto. Agora tenho uma equipa à minha volta com a qual sinto que funciona bem.

 

E neste álbum apresentas 12 músicas. São todas recentes ou foste buscar alguma dos teus trabalhos passados?

Das 12 músicas do álbum, 9 são completamente novas para mim. Eu tenho uma letrista muito boa na minha namorada e parceira Nicole Göbel, que contribuiu com várias letras do álbum. Isso foi um grande alívio para mim. Yesterday's Gone é uma música de 1992. Sempre achei que era uma música forte. Para o álbum Everglow modifiquei o arranjo instrumental e as letras para os tempos atuais e a atual situação política mundial. I'm Your Friend é de meados dos anos noventa e Sometimes é uma música que ofereci a Melanie Thornton em 1999/2000. Ela queria a música para o seu álbum a solo Ready To Fly, mas a editora achou que era um pouco rockeira, apesar de ser uma balada.

 

Nas tuas palavras, como definirias Everglow?

Everglow descreve o motor permanente e o brilho musical em mim, para defender o que mais gosto e o que posso fazer de melhor, mesmo em tempos difíceis. Ou seja, tudo o que tem a ver com música e a organização em torno dela. Tive a grande sorte de ter encontrado o meu destino como músico desde cedo e ter pais que me apoiaram. Estou eternamente grato por isso. Para mim, não há nada mais gratificante do que ser criativo, desenvolver-me como músico e fazer o meu público feliz nos concertos com a minha música. Afastá-los da vida cotidiana durante algumas horas é a minha vocação e motivação constante… o meu brilho constante.

 

Que músicos convidaste para gravar contigo este álbum?

Os meus músicos que me apoiam no meu álbum e ao vivo são:

Bateria: Jürgen Lucas - estúdio e ao vivo

Baixo: Willy Wagner (Fish, Bobby Kimball, Tony Carey) - estúdio e ao vivo

Backing Vocals: Oliver Hartmann e Ina Morgan (Avantasia) - somente estúdio

Markus Wessel: teclados e órgão – apenas estúdio

Heiko Elger (Guitarra e Vocais) e Axel Balke (Teclados e Órgão/Vocais) – ao vivo

 

Pela primeira vez, assumes as funções de vocalista. Como olhas para o teu trabalho?

Embora tenha cantado ao vivo durante quase vinte anos e tenha tido uma professora de canto muito boa em Amy Leverenz de Frankfurt, foi muito emocionante para mim cantar no meu álbum como vocalista pela primeira vez. Durante a pré-produção senti-me cada vez mais confortável de música para música. Tommy Newton, que já trabalhou como produtor com artistas e cantores de renome nacional e internacional, regravou os vocais novamente no seu Estúdio de Gravação Area 51 em Eschede usando equipamentos de alta qualidade. Ele fez um excelente trabalho a orientar-me durante o processo de gravação. Estou orgulhoso do meu trabalho neste álbum como cantor. É claro que quero melhorar sempre como músico em termos de canto, guitarra ou como compositor, mas felizmente, até agora, apenas tenho recebido bons feedbacks pelo meu canto. Cantar sempre foi importante para mim nas minhas músicas e composições.

 

Foi dito que este álbum é o resultado de todos os confinamentos. Portanto, foi a pandemia que te forçou a este álbum ou era algo que já querias fazer há algum tempo e a pandemia apenas o apressou?

Criativamente sempre fui ativo, principalmente para outros artistas para quem escrevi músicas ou toquei guitarra nas suas produções. E já queria fazer um álbum a solo há anos. O problema é que tenho estado constantemente em conflito com o facto de que teria que deixar outras coisas para trás, coisas que faço para viver. Posso dizer que a segunda opção é mais aplicável aqui. Por causa da pandemia, consegui escrever as músicas sem ter stress em meu redor ou me sentir mal por deixar outras coisas para trás. Nenhum músico era capaz de trabalhar naquela altura. As músicas do álbum foram todas compostas de meados de 2020 até o final de 2021, escritas por Nicole Göbel (letra) e por mim (música e letra), gravadas e completamente pré-produzidas como demo. No primeiro passo eu escrevi principalmente na guitarra. Depois programei a bateria, gravei o baixo, teclados, guitarra e voz e finalmente organizei os coros. Mais tarde, apresentei as ideias aos meus músicos para que eles tivessem uma ideia de como deveria soar. Eles pegaram minhas ideias, depois refinaram as suas partes e gravaram.

 

O grande Tommy Newton foi o responsável pela mistura e masterização. Como foi trabalhar com ele?

Conhecer Tommy e a sua esposa Mel durante esse período foi um golpe de sorte absoluto. Demo-nos logo muito bem, manteremos contacto para sempre e certamente continuaremos a trabalhar juntos. Naquela altura o álbum já estava escrito e produzido. Mas Tommy desempenhou um papel importante em tornar o álbum o que é agora, não apenas com a maravilhosa mistura e masterização, mas também com dicas valiosas sobre como gravar as guitarras e nos treinos vocais. A sua esposa Mel, que é inglesa, analisou as letras e sentimo-nos em família com todos os envolvidos. À noite, depois do trabalho no estúdio, muitas vezes sentávamo-nos juntos algum tempo a tomar um copo de vinho e Tommy falava sobre as suas experiências em tournée com os Victory. Ele teve muita sorte em ter conhecido em tournée muitas das estrelas com as quais crescemos nos anos 80. Adoro essas histórias e também assisto a muitos documentários musicais sobre esse período.

 

Como disseste anteriormente, este álbum é lançado pela tua editora. Foi criada apenas para este efeito?

A Vivid Music Productions tem sido, desde a fundação em 2001, um pool de artistas e associação de muitos músicos e cantores talentosos de toda a Alemanha, dos quais sempre reuni bandas interessantes para eventos de todos os tipos. Como editora foi registada no início deste ano e é apenas uma continuação lógica e não serve apenas para o meu álbum. Agora podemos continuar a pegar em talentosos recém-chegados, produzi-los e lançá-los com a rede recém-criada.

 

Já estás a preparar uma tournée para o outono/inverno. O que podes avançar a este respeito?

Dediquei tanto tempo e esforço a este projeto e, claro, estou muito curioso sobre o lançamento de Everglow. Em setembro o álbum também será lançado em duplo vinil gatefold e nesse contexto também queremos trazer as músicas para o palco com uma banda ao vivo. Para isso, planearemos as nossas próprias datas da tournée, bem como apoiar bandas já estabelecidas.

 

Obrigado, mais uma vez, Bobby. Queres acrescentar mais alguma coisa ou enviar uma mensagem para os teus fãs?

Acreditem em vocês e nos vossos sonhos e não importa o quão loucos eles pareçam ou quanto trabalho deem. Acreditem neles e tentem de tudo para os tornar realidade. Obrigado pela entrevista, Pedro e as perguntas interessantes que respondi com muito prazer e espero que o suficiente. Estou ansioso para ler a tua review. Espero que possamos ir com a nossa banda a Portugal o mais rápido possível e também nos podermos encontrar pessoalmente.


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