Entrevista: L.EMA

 


L.EMA é o nome de mais um jovem projeto nacional a dar os primeiros passos no rock cantado em português. Rasto Profundo foi o EP de estreia ao qual se seguiu, já este ano, o álbum Superpoder. O principal mentor do projeto leiriense é Luís Silva e foi com ele que fomos conversar para conhecer melhor o seu trajeto e ambições.

 

Olá, Luís! Obrigado pela disponibilidade! Os L.Ema são uma entidade relativamente nova, por isso começo por perguntar quando e porquê decidiram iniciar este projeto?

Olá, Pedro! Muito obrigado pela oportunidade de responder a esta entrevista e também pelo vosso contributo para a divulgação do Superpoder. Os L.EMA surgiram da vontade enorme que tenho de compor, gravar e tocar ao vivo. Antes da formação da banda, eu tinha alguns temas na gaveta aos quais gostava de dar vida. Surgiu uma oportunidade de os tocar num pequeno evento e vi ali a ocasião certa para começar a juntar uma banda. Falei com o Daniel Pires, que é um músico fantástico, com uma segurança fora do vulgar, para dividir comigo as guitarras. Pouco tempo antes tinha conhecido o Telmo Marques, que é extremamente completo, e que não só é um grande baterista como também é muito bom em produção. Nos baixistas demorámos mais tempo a encontrar a pessoa certa. Esse primeiro espetáculo teve a participação de uma baixista que já tinha tocado comigo noutros projetos. Contudo, devido a falta de disponibilidade, ele não podia continuar e, depois de um outro baixista ainda, foi o seu irmão, João Silva, a assumir o lugar. O João trouxe-nos um balanço muito interessante, muito bem coordenado com a bateria como, por exemplo, se pode observar no tema Fatura de Viver.

 

Em que nomes ou movimentos procuram encontrar as vossas inspirações?

Esta é uma questão sobre a qual temos falado muito, mas à qual não temos conseguido responder com facilidade. O interessante é que cada um de nós individualmente tem influências muito distintas. Este facto acabou por nos imprimir um registo Rock, mas sem uma direção restrita. Tanto temos temas que vão de encontro ao Rock mais clássico, como outros que são um pouco mais pesados e alguns que roçam o pop, mas depois irrompem num refrão ou solo de atitude pura. O que nos une é decididamente o Rock, mas cada um traz novidades ou bagagem que vai desde os Blues ao Post Rock, desde o Pop ao Metal.

 

Já tinham tido outras experiências musicais anteriores? De que forma é que elas se revelam neste novo projeto?

Sim, todos nós já tivemos outras bandas (alguns de nós ainda continuam a ter projetos paralelos). Isto revela-se no conjunto a vários níveis. Desde logo, vê-se no “profissionalismo” que queremos colocar na nossa forma de trabalhar. Não queremos trabalhar apenas para tocar as músicas de início ao fim, mas queremos que os instrumentos se fundam, que respondam uns aos outros. Queremos tocar a tempo, queremos ser criativos e queremos ter algumas harmonias “fora da caixa”. Todas estas pretensões exigem muito tempo de trabalho não só entre nós, mas também individualmente. Muito desse trabalho foi crescendo noutros projetos musicais e culminou aqui, neste conjunto específico. Por outro lado, estas experiências anteriores e paralelas levam-nos a compreender que é preciso saber perder ideias, é necessário ser concretos e procurar pontos que nos unam, mais do que exigir que as nossas ideias sejam impostas ao grupo. Em conjunto, temos experiência em bandas de Metal, de Rock Progressivo, Música Erudita, Música de Baile, Pop, Big Band, Jazz, entre outros. Isso contribui para os vários estilos que acabamos por conectar nas músicas.

 

Um dos aspetos mais curiosos da banda é o nome e a forma como é escrito. L.Ema surge a partir do teu nome? De que forma surgiu e que outros significados lhe atribuem?

Inicialmente, a ideia foi fazer uma brincadeira com o meu nome, Luís Emanuel. No entanto, o interessante é que lemos como “lema”. Procuramos que cada uma das nossas músicas tenha um sentido musical e também sentimental. Não me considero de forma nenhuma um poeta, mas nós não gostamos de letras vazias, sem profundidade ou sem conteúdo. Nem sempre consigo, mas trabalho para que as nossas letras possam ser interpretadas por quem ouve, talvez alguém se possa identificar com uma ou outra. Por um lado, tentamos que cada música seja um lema para nós, por outro lado, cada elemento da banda é um lema para os outros. Temos uma amizade e um respeito muito forte entre nós.

 

Antes do lançamento deste Superpoder, disponibilizaram o EP Rasto Profundo. De que forma evoluíram entre os dois trabalhos?

A produção dos álbuns tem sido, por necessidade e orgulho, feita por nós. Isto implica grande responsabilidade, alguma ingenuidade e uma aprendizagem constante. O Rasto Profundo marcou a nossa primeira aventura de gravação, tem a pureza, a excitação e a inocência dos primeiros trabalhos. Isto nota-se na produção, mas também na composição e nos arranjos. Nota-se que arriscámos menos, mas é um disco no qual temos um grande orgulho. No Superpoder tínhamos já esse ponto de partida e quisemos continuar a ser os mesmos L.EMA, mas arriscámos mais, experimentámos mais, brincámos mais. A maioria das pessoas não procura com essa atenção, mas tanto a música como o livrinho do álbum têm easter eggs. Todas as páginas têm pequenos elementos escondidos que se associam às letras e algumas músicas têm vozes cantadas por todos nós e até pedacinhos de guitarra tocados por cada um de nós. Este álbum também afirmou o sentimento de banda, o papel e a importância de cada um. A produção cresceu face ao anterior, mas sabemos que não está perfeita. Nós próprios adiámos o lançamento porque ainda não estava onde queríamos. Mas há alturas em que temos de comer a fruta antes que apodreça e tomámos a decisão de lançar assim. Há margem de crescimento para o próximo!

 

De onde surge este título Superpoder? Que superpoder querem os L.Ema enaltecer? De que forma definirias este álbum?

Diria que um superpoder é uma capacidade fora do vulgar e que, geralmente, se descobre e/ou demonstra nas situações mais difíceis. A inspiração deste nome do álbum vem do Superpoder de Miúdo, a segunda faixa do disco. Esta é uma faixa que fala da capacidade que as crianças têm em dar rapidamente a volta às dificuldades. As músicas do álbum formam uma história que começa com a inocência e o entusiasmo das crianças, passa pelas desilusões, dificuldades e dúvidas da vida e termina de forma positiva com a escolha de seguir em frente e não desistir. Pretendemos enaltecer os “super-heróis comuns”, os que conseguem superar-se no meio da adversidade, seja ela uma incerteza, uma dificuldade, uma pandemia ou até mesmo uma guerra. É uma homenagem a todos eles, sobretudo aos que vencem no silêncio do anonimato.

 

De que forma correram os trabalhos de gravação? Tudo como planeado?

As gravações correram bastante bem e foram oportunidades de melhorarmos e crescermos muito como músicos e produtores. O grande problema foi terem sido realizadas em plena pandemia, nos buracos da chuva, no meio de confinamentos. Isso ditou um prolongamento no tempo para lá do que imaginávamos.

 

Já há planos para palco? O que nos podes adiantar?

Tem sido uma altura muito boa para nós! Lançámos o Superpoder no dia 12 de março e, desde aí, têm surgido vários convites para espetáculos. Os nossos planos a médio prazo são aproveitar esta onda de concertos e ir compondo para que possamos fazer um álbum novo logo que possível.

 

Muito obrigado, Luís! As maiores felicidades! Queres acrescentar alguma coisa que não tenha sido abordada?

Agradeço-vos muito todo o trabalho que têm feito connosco e desejo os maiores sucessos para ti e para o Via Nocturna! Muito obrigado!

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